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LUÍS NASSIF
Os impasses na TV digital
A novela da TV digital está no seguinte capítulo:
1. Na terça-feira, o CPqD
(Centro de Pesquisa e Desenvolvimento em Telecomunicações)
apresentou seu relatório sobre
TV digital a vários ministros,
incluindo os ministros da Fazenda, Antonio Palocci, e do
Planejamento, Paulo Bernardo.
2. Na quarta, houve reunião
com o presidente Luiz Inácio
Lula da Silva. Foi uma apresentação ligeira.
3. Há ainda questões controvertidas. O CPqD juntou um
conjunto de instituições de pesquisa para desenvolver o modelo brasileiro de TV digital. Existem divergências em pelo menos
dois pontos: a questão da modulação e transmissão (desenvolvida pelo Mackenzie) e o terminal de acesso (desenvolvido pela
Poli). Nos próximos dias, técnicos das três instituições se reunirão para chegar (ou não) a um
consenso.
4. Mesmo dentro do governo,
há quem julgue que o debate está insuficiente. Há necessidade
de organizar todas as informações, separá-las em categorias,
como as questões técnicas, os
modelos de negócio, os interesses de todas as partes envolvidas.
5. A decisão sobre a TV digital
sairá em fevereiro mesmo, não
no dia 10. Nessa data será entregue apenas o relatório final da
parte técnica e também da parte
econômica, com estudos sobre
projeções de penetração do set
top box (espécie de decodificador), em função de preço.
6. Apesar das boas intenções
do presidente da Câmara, Aldo
Rabello, recomenda-se cuidado
com o seminário que será realizado no Parlamento. Isso porque há uma enorme quantidade de deputados e senadores donos de concessões de rádio e televisão -muitas delas, inclusive,
arrendadas para terceiros.
O grande problema na decisão
é o rolo compressor montado
pelo ministro das Comunicações, Hélio Costa. O ministro defende um modelo que permita
às emissoras abertas terem competitividade diante das TVs a
cabo e da telefonia. Se se considerasse apenas esse elemento, o
modelo japonês poderia ser o
adequado, pelo fato de permitir
a imagem em alta definição e a
mobilidade (a capacidade de
transmitir para celulares sem
passar pela operadora).
Mas há outros pontos relevantes:
Política industrial: o sistema
tem que permitir a fabricação
de um aparelho que seja exportável. O padrão japonês só permite exportar para o Japão
-que não é importador de televisores. O MDIC (Ministério do
Desenvolvimento, Indústria e
Comércio Exterior) tem que
participar das decisões.
Tecnologia: o sistema precisa
permitir que o Brasil consiga se
colocar como produtor de tecnologia, associando-se a um dos
sistemas globais existentes. O japonês não dá essa abertura. De
qualquer modo, o Ministério de
Ciência e Tecnologia tem que
participar desse debate.
Administração do espectro:
com a convergência digital, há
toda uma discussão sobre a alocação do espectro eletromagnético, o que bate direto no sistema de concessões, na questão do
acesso à produção cultural, inclusão digital etc. O Ministério
da Cultura tem que participar
dessa discussão.
Até agora, se está falando de
agentes do governo. Mas essas
informações, de forma sistematizada, têm que chegar à opinião pública.
E-mail -
Luisnassif@uol.com.br
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