São Paulo, sexta-feira, 27 de janeiro de 2006

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Copom indica novos cortes graduais

NEY HAYASHI DA CRUZ
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Apesar das pressões que tem sofrido para acelerar a queda dos juros, o Banco Central deu sinais ontem de que pretende continuar com os cortes graduais que têm sido feitos nos últimos meses. Na semana passada, o Copom (Comitê de Política Monetária do BC) se reuniu e reduziu a taxa Selic de 18% ao ano para 17,25%.
Ontem, foi divulgada a ata dessa reunião. No documento, a diretoria do BC traça um cenário razoavelmente tranqüilo para a economia neste ano. Segundo essa análise, a inflação aparenta estar sob controle e deve ficar dentro das metas do governo, o que afasta a necessidade de manter os juros no elevado nível de hoje.
Por outro lado, o BC também se mostra confortável com o ritmo de crescimento esperado para os próximos meses. Logo, não seria preciso reduzir a taxa de forma mais acelerada, apesar da vontade do governo de que a recuperação da economia seja mais rápida neste ano de eleições.
Combinadas, essas avaliações ajudam a ilustrar o raciocínio dos membros do Copom: os juros devem cair, mas não há urgência nessa redução.
Para o economista Alexandre Mathias, do Unibanco Asset Management, a ata indica que o juro deve cair 0,75 ponto na próxima reunião do Copom, dias 7 e 8 de março. "É um cenário bastante confortável [para 2006], com a economia crescendo 3,75%, a Selic em 14,5% no final do ano e a inflação perto da meta."
Mathias diz concordar com a análise do BC de que a economia brasileira já está se recuperando, mas afirma que o comportamento da inflação ainda precisa ser acompanhado mais de perto. "Eu seria menos complacente do que o BC foi na ata", afirma o economista, ao se referir ao aumento nas projeções médias do mercado para o IPCA deste ano.
Segundo levantamento com analistas feito pelo BC, a estimativa para a inflação deste ano subiu de 4,5% para 4,58% entre as reuniões do Copom de dezembro e janeiro. Mathias diz que é preciso atenção para que essa alta não se mantenha daqui para a frente.
A ata ressalta que, em 2005, a inflação ficou em 5,69%, a mais baixa desde que o país adotou o sistema de metas, em 1999. Para este ano, o objetivo do governo é manter a alta do IPCA em 4,5%.
Relatório da LCA Consultores aponta que, para o BC, a alta dos preços ocorrida neste início de ano é temporária e, por isso, não chega a preocupar. "Essa aceleração da inflação decorre de pressões pontuais e não vem contaminando as projeções dos mercados para horizontes mais longos."
Dias antes da reunião do Copom, o BC havia sido alvo de críticas do secretário do Tesouro Nacional, Joaquim Levy. Levy reclamava que a instituição não explicitava os riscos enfrentados pela economia que justifiquem a manutenção dos juros, que estão entre as mais altos do mundo.
O secretário foi repreendido publicamente pelo ministro da Fazenda, Antonio Palocci. Ainda assim, o documento divulgado ontem pelo BC não deixa de dar certa razão a Levy, já que poucas são as ameaças citadas no texto.
Nas palavras dos membros do Copom, o "cenário externo permanece favorável", a "atividade econômica se posiciona em níveis historicamente elevados", o "prêmio de risco Brasil registrou novo mínimo histórico, reflexo da melhora consistente dos fundamentos da economia" e "continua se configurando um cenário benigno para a evolução da inflação".


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