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agrofolha
Seca e China melhoram
cenário para soja
Quebra de safra na América do Sul e aumento da demanda de asiáticos, além da valorização do dólar, elevam os preços do grão
Após um início de safra sem
perspectiva de rendimento
em meio à crise financeira,
sojicultores esperam ganho
maior e produtividade melhor
MAURO ZAFALON
DA REDAÇÃO
O produtor brasileiro de soja
começa a driblar a atual crise financeira, uma das mais graves
desde 1929. Os produtores, que
iniciaram o plantio em um dos
momentos mais críticos da crise, não viam nenhuma perspectiva de rendimento.
Sem crédito e com os custos
elevados, o plantio indicava um
voo cego para os produtores,
que não conseguiam realizar
vendas antecipadas devido à
saída das tradings do mercado.
Preços e comercialização
eram as principais incógnitas
para a colheita. Com as máquinas no campo e já efetuando a
colheita, os sojicultores veem
as tradings com apetite nas
compras e os preços subindo.
Travada até o final do ano
passado, a comercialização desta safra já atinge 38% no Centro-Oeste e a soja é negociada a
US$ 20 por saca em algumas cidades da região. Além disso, a
produtividade surpreende e fica entre 52 e 57 sacas por hectare para a soja precoce. A tardia
pode superar as 60 sacas.
Alta de preços e boa produtividade são garantias de rendimento para os produtores. Na
avaliação de Fernando Muraro,
da Agência Rural, de Curitiba,
os produtores de Rio Verde, em
Goiás, devem ter renda líquida
de R$ 770 por hectare. Já em
Sorriso (MT), a renda deve ficar
em R$ 350 por hectare.
Entre os motivos responsáveis por essa mudança de cenário, está a própria crise, que
provocou alta do dólar em relação ao real. Tendo como base o
dólar, a soja passou a gerar mais
reais para os produtores.
Já a seca, que atingiu o Sul do
Brasil, a Argentina e o Paraguai
-e deve provocar quebra de 12
milhões de toneladas na região-, eleva os preços da soja.
A recuperação dos preços
vem, ainda, do apetite da China,
que elevou as compras.
Os EUA, que sempre exportam mais milho do que soja, estão com situação inversa nesta
safra. A dúvida é se a China vai
manter esse apetite ou apenas
faz estoques, diz Muraro.
A mudança de cenário vem
em boa hora, diz José Eduardo
de Macedo Soares, produtor de
Lucas do Rio Verde (MT). "A
estiagem, que prejudicou os
produtores do Sul, nos salvou."
Há 40 dias, quando o preço da
soja estava perto de US$ 11 por
saca, a renda não cobria os custos. Atualmente, com a saca a
US$ 18 e a desvalorização do
real em relação ao dólar, dá para respirar, acrescenta.
André Schwening, produtor
de Rio Verde, no sudoeste de
Goiás, também diz que o produtor vai ter rentabilidade boa,
se houver uma confirmação da
safra -que está em andamento- e dos preços -que podem
mudar até abril, no final da colheita. Mas Schwening adverte:
"É preciso muito critério para
dizer que o produtor está ganhando". Segundo ele, muitos
produtores fizeram dívidas em
dólar na compra de insumos e a
alta da moeda norte-americana
trouxe novos custos.
Soares e Schwening concordam que o clima é favorável para a produção de soja no Centro-Oeste neste ano, embora
tenha havido pequenos períodos de estresse. Esse clima permitiu até um bom manejo das
doenças, que tradicionalmente
elevam os custos e geram perda
de produtividade.
Já no Sul, a situação é bem diversa. Um produtor do norte do
Paraná diz que colherá apenas
40 sacas por alqueire na soja
precoce. Já a que foi plantada
depois deverá render 120 sacas.
Pior ainda a situação dos paraguaios, onde a safra pode render apenas 20 sacas por alqueire. José Rubio, do norte do Paraguai, diz que em metade de
sua área colherá a média de 30
sacas por alqueire. Não paga
nem o arrendamento das terras, que é de 38 sacas.
Em outra área, a apenas 40
quilômetros da primeira, não
faltou chuva e Rubio poderá
obter 150 sacas. A alta de preços
das últimas semanas ajuda,
mas não repõe os estragos trazidos pela seca, diz ele.
Situação pior vivem os argentinos. Queda de área e seca podem reduzir a produção para
42 milhões de toneladas, ante
46 milhões em 2007/8.
A seca faz a soja "brilhar como
estrela solitária", mas Muraro
crê que o milho também será
beneficiado. A quebra na América do Sul deverá ser de 20 milhões de toneladas, o que levará
mais produtores a optar pelo
grão na safrinha com a melhora
no cenário de custo e preço.
Leonardo Sologuren, da consultoria Céleres, concorda com
Muraro: a safrinha deve cair
menos do que o previsto.
Estudo feito pela Céleres, levando em consideração os efeitos das crises econômicas mundiais sobre o consumo de alimentos nos últimos 48 anos,
mostrou que os impactos são
pequenos. Em alguns casos, há
crescimento na demanda de alimentos, afirma Sologuren.
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