São Paulo, terça-feira, 27 de janeiro de 2009

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agrofolha

Seca e China melhoram
cenário para soja

Quebra de safra na América do Sul e aumento da demanda de asiáticos, além da valorização do dólar, elevam os preços do grão

Após um início de safra sem perspectiva de rendimento em meio à crise financeira, sojicultores esperam ganho maior e produtividade melhor


MAURO ZAFALON
DA REDAÇÃO

O produtor brasileiro de soja começa a driblar a atual crise financeira, uma das mais graves desde 1929. Os produtores, que iniciaram o plantio em um dos momentos mais críticos da crise, não viam nenhuma perspectiva de rendimento.
Sem crédito e com os custos elevados, o plantio indicava um voo cego para os produtores, que não conseguiam realizar vendas antecipadas devido à saída das tradings do mercado.
Preços e comercialização eram as principais incógnitas para a colheita. Com as máquinas no campo e já efetuando a colheita, os sojicultores veem as tradings com apetite nas compras e os preços subindo.
Travada até o final do ano passado, a comercialização desta safra já atinge 38% no Centro-Oeste e a soja é negociada a US$ 20 por saca em algumas cidades da região. Além disso, a produtividade surpreende e fica entre 52 e 57 sacas por hectare para a soja precoce. A tardia pode superar as 60 sacas.
Alta de preços e boa produtividade são garantias de rendimento para os produtores. Na avaliação de Fernando Muraro, da Agência Rural, de Curitiba, os produtores de Rio Verde, em Goiás, devem ter renda líquida de R$ 770 por hectare. Já em Sorriso (MT), a renda deve ficar em R$ 350 por hectare.
Entre os motivos responsáveis por essa mudança de cenário, está a própria crise, que provocou alta do dólar em relação ao real. Tendo como base o dólar, a soja passou a gerar mais reais para os produtores.
Já a seca, que atingiu o Sul do Brasil, a Argentina e o Paraguai -e deve provocar quebra de 12 milhões de toneladas na região-, eleva os preços da soja.
A recuperação dos preços vem, ainda, do apetite da China, que elevou as compras.
Os EUA, que sempre exportam mais milho do que soja, estão com situação inversa nesta safra. A dúvida é se a China vai manter esse apetite ou apenas faz estoques, diz Muraro.
A mudança de cenário vem em boa hora, diz José Eduardo de Macedo Soares, produtor de Lucas do Rio Verde (MT). "A estiagem, que prejudicou os produtores do Sul, nos salvou." Há 40 dias, quando o preço da soja estava perto de US$ 11 por saca, a renda não cobria os custos. Atualmente, com a saca a US$ 18 e a desvalorização do real em relação ao dólar, dá para respirar, acrescenta.
André Schwening, produtor de Rio Verde, no sudoeste de Goiás, também diz que o produtor vai ter rentabilidade boa, se houver uma confirmação da safra -que está em andamento- e dos preços -que podem mudar até abril, no final da colheita. Mas Schwening adverte: "É preciso muito critério para dizer que o produtor está ganhando". Segundo ele, muitos produtores fizeram dívidas em dólar na compra de insumos e a alta da moeda norte-americana trouxe novos custos.
Soares e Schwening concordam que o clima é favorável para a produção de soja no Centro-Oeste neste ano, embora tenha havido pequenos períodos de estresse. Esse clima permitiu até um bom manejo das doenças, que tradicionalmente elevam os custos e geram perda de produtividade.
Já no Sul, a situação é bem diversa. Um produtor do norte do Paraná diz que colherá apenas 40 sacas por alqueire na soja precoce. Já a que foi plantada depois deverá render 120 sacas.
Pior ainda a situação dos paraguaios, onde a safra pode render apenas 20 sacas por alqueire. José Rubio, do norte do Paraguai, diz que em metade de sua área colherá a média de 30 sacas por alqueire. Não paga nem o arrendamento das terras, que é de 38 sacas.
Em outra área, a apenas 40 quilômetros da primeira, não faltou chuva e Rubio poderá obter 150 sacas. A alta de preços das últimas semanas ajuda, mas não repõe os estragos trazidos pela seca, diz ele.
Situação pior vivem os argentinos. Queda de área e seca podem reduzir a produção para 42 milhões de toneladas, ante 46 milhões em 2007/8.
A seca faz a soja "brilhar como estrela solitária", mas Muraro crê que o milho também será beneficiado. A quebra na América do Sul deverá ser de 20 milhões de toneladas, o que levará mais produtores a optar pelo grão na safrinha com a melhora no cenário de custo e preço.
Leonardo Sologuren, da consultoria Céleres, concorda com Muraro: a safrinha deve cair menos do que o previsto.
Estudo feito pela Céleres, levando em consideração os efeitos das crises econômicas mundiais sobre o consumo de alimentos nos últimos 48 anos, mostrou que os impactos são pequenos. Em alguns casos, há crescimento na demanda de alimentos, afirma Sologuren.


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