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Arrecadação põe em xeque ameaça de cortes
Governistas afirmavam que fim da CPMF comprometeria programas sociais, investimentos do PAC e cumprimento de meta fiscal
Projeção de arrecadação no Orçamento já foi elevada pelos parlamentares de
R$ 683 bi para R$ 687 bi sem a receita da CPMF
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Somados às mais recentes estimativas do Congresso, os dados da arrecadação de janeiro
tornam politicamente mais difícil para o governo sustentar
que precisa obter arrecadação
extra e promover cortes de gastos orçamentários na casa dos
R$ 20 bilhões.
A projeção de arrecadação do
Orçamento já foi elevada pelos
parlamentares de R$ 682,7 bilhões -valor calculado em
agosto pelo Poder Executivo
contando com R$ 39,3 bilhões
da CPMF- para R$ 686,8 bilhões sem a receita da extinta
contribuição provisória. Historicamente, as previsões do Legislativo têm se mostrado mais
precisas que as da área econômica.
Descontada a parcela da arrecadação repassada aos Estados e aos municípios, haveria
uma queda quase insignificante, de R$ 2,7 bilhões, da receita
esperada para o ano e um crescimento real (descontada a inflação) da arrecadação na casa
dos 20% -coincidência ou não,
o mesmo percentual registrado
no mês passado.
Os números põem em xeque
o discurso governista ao longo
da tramitação da emenda constitucional que prorrogava a cobrança da CPMF por quatro
anos, segundo o qual a extinção
do tributo ameaçaria os programas sociais, os investimentos
do PAC (Programa de Aceleração do Crescimento) e o cumprimento das metas fiscais destinadas à redução da dívida pública.
"Eu sou forçado a dizer que
R$ 30 bilhões é muito em qualquer Orçamento", argumentou
ontem o secretário da Receita
Federal, Jorge Rachid, referindo-se à perda calculada com o
fim da CPMF e já descontada a
arrecadação adicional com o
aumento do IOF e da CSLL -a
elevação das alíquotas da contribuição ainda depende de
aprovação do Congresso Nacional.
Cálculo subestimado
Numa conta grosseira, realizada pouco depois da derrubada da CPMF pelo Congresso, o
governo calculou que obteria
mais R$ 10 bilhões com uma arrecadação dos demais tributos
acima das previsões iniciais,
graças ao crescimento econômica. Esse cálculo parece subestimado hoje, após a divulgação dos resultados tributários
de janeiro.
Já as novas alíquotas do IOF
e a CSLL contribuiriam com
outros R$ 10 bilhões ao longo
do ano. O restante da arrecadação perdida com o fim da contribuição sobre movimentação
financeira teria de ser compensado do lado das despesas orçamentárias.
A rigor, a nova arrecadação
estimada pelo Congresso Nacional é suficiente para bancar
praticamente todos os gastos
previstos no projeto de Orçamento do Executivo. A necessidade teórica de cortes só se justifica pela inclusão de R$ 14,9
bilhões em despesas propostas
por deputados e senadores em
benefício de suas bases eleitorais.
Tais despesas, conhecidas
como emendas parlamentares,
tradicionalmente têm um percentual reduzido de execução:
o governo negocia a conta-gotas a liberação do dinheiro, a
partir de votos favoráveis a projetos de seu interesse no Congresso.
(GUSTAVO PATU)
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