São Paulo, quarta-feira, 27 de fevereiro de 2008

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Juro bancário tem maior alta em 7 anos

Levantamento do Banco Central mostra que taxa média dos empréstimos disparou 3,5 pontos percentuais em janeiro

Custo do crédito bate em 37,3% ao ano, e elevação é mais intensa para pessoas físicas; cenário externo e IOF explicam movimento, diz BC

NEY HAYASHI DA CRUZ
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Os juros cobrados nos empréstimos bancários tiveram, em janeiro, a maior alta em quase sete anos.
Segundo levantamento feito pelo Banco Central, a taxa média dos financiamentos chegou a 37,3% ao ano, aumento de 3,5 pontos percentuais em relação a dezembro.
Desde julho de 2001 o custo do crédito não subia nessa velocidade de um mês para outro.
A alta foi mais forte nos financiamentos para pessoas físicas. Nesse segmento, a taxa média passou de 43,9% ao ano para 48,8%.
No crédito pessoal, uma das modalidades de empréstimo mais populares, os juros subiram de 59,1% ao ano para 67,3%.
Mesmo nos empréstimos com desconto em folha de pagamento, que costumam ser a opção mais barata de financiamento para pessoas físicas, os juros subiram: passaram de 28,1% ao ano para 29,3%.
O chefe do Departamento Econômico do BC, Altamir Lopes, credita esse movimento ao aumento nas alíquotas do IOF (Imposto sobre Operações Financeiras) e da CSLL (Contribuição Social sobre o Lucro Líquido) das instituições financeiras, o que teria pressionado o custo dos empréstimos.
O aumento nos tributos fez parte de conjunto de medidas adotadas pelo governo no mês passado para compensar o fim da CPMF.
"Além disso, a volatilidade externa fez com que os bancos ficassem um pouco mais criteriosos na concessão do crédito", afirma Lopes. Ou seja, diante das incertezas do mercado, as instituições financeiras teriam se preparado para um eventual aumento dos juros básicos da economia -a taxa Selic está inalterada em 11,25% ao ano desde setembro do ano passado.
Já o presidente do Banco do Brasil, Antônio Lima Neto, afirma que as instituições financeiras buscaram, neste início de ano, ajustar-se a projeções de inflação mais alta para 2008, devido aos índices de preços ligeiramente mais elevados do que o esperado no final de 2007. "Com uma expectativa de inflação mais alta, o mercado projetou que poderia haver um aumento nos juros [básicos]", diz o executivo.
Para Marcelo Moura, professor do Ibmec São Paulo, o aumento no custo dos empréstimos poderia ter sido evitado caso o governo tivesse optado por outras medidas para compensar o fim da CPMF. "O primeiro equívoco foi não aproveitar a oportunidade para reduzir gastos. Além disso, optou-se por taxar de forma concentrada um setor pouco competitivo, que pode repassar aumento de custos aos clientes."
Por outro lado, o diretor-executivo do IDV (Instituto para o Desenvolvimento do Varejo), Emerson Kapaz, afirma discordar da avaliação de que a maior carga tributária é a responsável pela elevação dos juros bancários. "Foi uma surpresa muito desagradável. Não tem como explicar isso pelo IOF, já que esse aumento foi de um pouco mais de um ponto percentual."
Kapaz afirma também que o encarecimento do crédito pode se transformar em um obstáculo ao crescimento da economia, especialmente em setores como o varejo, que têm sido impulsionados justamente pela maior oferta de empréstimos. "Eles [bancos] estão dando um tiro no pé, mas o problema é que o pé não é deles, é nosso."
Ao longo de 2007, o volume de crédito disponível na economia cresceu 27,7%, encerrando o ano em R$ 935,831 bilhões. Em janeiro, um crescimento de 0,9% levou esse saldo para R$ 944,216 bilhões, o que equivale a 34,8% do PIB (Produto Interno Bruto), mesma proporção observada em dezembro.


Texto Anterior: Ministério Público pede que IR não exija recibo
Próximo Texto: Aumento reflete demanda por crédito e pouca concorrência, afirma especialista
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.