São Paulo, quinta, 27 de março de 1997. |
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice O consumidor e o freio nas importações
ALOYSIO BIONDI O escancaramento às importações, como esta coluna vem insistentemente alertando desde o começo de 1995, há 16 meses, devastou a economia porque ela não proporcionou a enxurrada apenas de produtos finais, como carros, eletrodomésticos, roupas, quinquilharias. O "escancaramento" permitiu também a importação de peças, componentes e até matérias-primas, como metais, madeira, plásticos. Assim, centenas de milhares de empresas fornecedoras viram seu mercado encolher. Milhões de trabalhadores perderam o emprego. Houve falências, às escâncaras, ou "quebradeira silenciosa", com o fechamento de empresas -ou sua compra por multinacionais. A agricultura também foi devastada, aumentando o número dos sem-terra -e a pressão crescente pela reforma agrária. Salvo raríssimas exceções, esse desastre foi passivamente aceito pelas entidades empresariais, que têm pactuado com o otimismo fabricado do governo FHC. Surge uma oportunidade para que essas lideranças abandonem seu comportamento capachildo e injetem uma discussão, com a sociedade, de outras diretrizes igualmente desastrosas da equipe FHC. É hora de rever a política de privatização a toque de caixa. E o "caso dos precatórios" mostra a necessidade de apoiar a criação de uma CPI sobre todo o mercado financeiro, para investigar finalmente a conivência do Banco Central e do governo com fraudes que mais uma vez vêm à tona, como as remessas de dólares, a "lavagem de dinheiro", a sonegação. E o consumidor? A sociedade brasileira aceitou passivamente a política de "escancaramento" do mercado porque sofreu autêntica lavagem cerebral. Foi convencida de que os produtos brasileiros são mais caros e piores porque o empresário nacional é acomodado, só pensa em seus lucros e essa ladainha toda. Assim manipulado, o consumidor vai reagir negativamente à decisão do governo de dificultar as importações. É preciso, agora, explicar-lhe as vantagens absurdas que a equipe FHC deu às importações, destruindo a produção nacional. Tarefa também para as entidades empresariais. Massacre Os produtos importados chegavam ao Brasil com a vantagem de ser pagos só depois de 180 ou 360 dias -e a juros de apenas 8% a 10% ao ano. Ao ano. Uma vantagem imbatível sobre os produtos brasileiros, financiados a juros de 4%, 5% ou 10% ao mês. Ao mês. Devastação O governo FHC também reduziu escandalosamente as tarifas sobre as importações, que todos os países utilizam para evitar a concorrência desleal de produtos do exterior. O governo FHC apenas seguiu o resto do mundo? É mentira. A maioria dos produtos importados pelo Brasil hoje paga apenas 2% de tarifa. Essa "tarifa modal", ou predominante, é de 15% no Japão e de 20% na Coréia, isto é, 7,5 e dez vezes mais alta, para evitar a enxurrada de importações. O que está vigorando no Brasil é uma política de terra arrasada. De destruição da produção nacional. Aloysio Biondi, 60, é jornalista econômico. Foi editor de Economia da Folha e diretor de Redação da revista ``Visão''. Escreve às quintas-feiras no caderno Dinheiro. Texto Anterior | Próximo Texto | Índice |
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