São Paulo, sexta-feira, 27 de março de 2009

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

EUA querem apertar fiscalização financeira

Geithner leva para o Congresso proposta que inclui na fiscalização "hedge funds" e outros instrumentos financeiros

Iniciativa do governo Obama ocorre uma semana antes de encontro do G20 em Londres que tratará da fiscalização dos mercados


FERNANDO CANZIAN
DE NOVA YORK

O Departamento do Tesouro dos EUA apresentou ontem ao Congresso as linhas gerais de um plano para controlar todas as áreas do mercado financeiro que ainda estão fora do radar de órgãos federais de supervisão.
A proposta veio a público dois dias depois de o secretário Timothy Geithner (Tesouro) ter pedido ao Congresso nova lei que amplie a supervisão estatal para empresas financeiras fora da atividade bancária comum, como seguros e "braços financeiros" de empresas como General Electric e GM.
O novo plano do Tesouro prevê a criação de um órgão específico para controlar as atividades dos "hedge funds" (fundos de investimento especulativos) e de outros instrumentos financeiros "exóticos". São eles que estão no centro da atual crise financeira internacional.
"Estamos falando de uma reforma abrangente. Não de reparos modestos na margem, mas de novas regras para o jogo" , afirmou Geithner. Ele reconheceu que todo o trabalho neste sentido será "muito complexo, terá muitas consequências e será difícil". Disse, porém, que "quanto mais cedo, melhor" a imposição das novas regras.
A maioria dos produtos financeiros na mira de uma nova regulamentação estão hoje fora do alcance da SEC (a Comissão de Valores Mobiliários dos EUA). A ideia é que o registro passe a ser necessário, assim como a abertura de informações, em caráter confidencial, do grau de alavancagem (o quanto há em garantias reais) nessas operações.
Durante vários anos, sob o comando do então presidente do Fed (o banco central dos EUA), Alan Greenspan, houve várias discussões sobre a necessidade de regular esses produtos. Mas Greenspan sempre achou o controle desnecessário, até reconhecer, há cerca de um mês, que não esperava que esses produtos "exóticos" pudessem provocar uma crise com as dimensões atuais.
A criação do novo órgão proposto precisa de uma lei específica do Congresso, onde parlamentares democratas e republicanos apresentaram reações distintas.
Com o novo plano, Geithner cumpre promessa feita pelo presidente Barack Obama de aumentar o peso da mão dos Estado nesses mercados. A proposta também foi lançada às vésperas da reunião de cúpula do G20 (que reúne as maiores economias do mundo), na semana que vem, em Londres.

Pelos planos do Tesouro, a nova agência federal que fiscalizaria esses produtos seria responsável ainda pela "estabilidade sistêmica das maiores instituições financeiras". É mais uma indicação de que os EUA pretendem tomar a dianteira nas discussões sobre novos parâmetros globais para o mercado como um todo.
Geithner não apresentou muitos detalhes sobre a nova proposta, mas disse que serão fornecidos nos próximos dias. De maneira geral, sua apresentação deu a entender que os EUA buscarão estruturar o mercado financeiro daqui em diante de modo que a prevenção e o cuidado para evitar crises suplante o atual sistema de elevados riscos para gerar grandes ganhos.
Diante da reações de parlamentares que o questionaram se o governo Obama não estaria querendo ir de um extremo ao outro (da liberdade total ao total controle), e se um meio-termo não seria mais adequado, Geithner disse: "Me desculpem se sou cético. Mas o risco, neste caso, é fazermos mais mal do que bem [ao mercado]".


Texto Anterior: OMC vê onda protecionista com a crise
Próximo Texto: Lucros têm a maior queda em 55 anos
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.