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EUA querem apertar fiscalização financeira
Geithner leva para o Congresso proposta que inclui na fiscalização "hedge funds" e outros instrumentos financeiros
Iniciativa do governo Obama ocorre uma semana antes de encontro do G20 em Londres que tratará da fiscalização dos mercados
FERNANDO CANZIAN
DE NOVA YORK
O Departamento do Tesouro
dos EUA apresentou ontem ao
Congresso as linhas gerais de
um plano para controlar todas
as áreas do mercado financeiro
que ainda estão fora do radar de
órgãos federais de supervisão.
A proposta veio a público
dois dias depois de o secretário
Timothy Geithner (Tesouro)
ter pedido ao Congresso nova
lei que amplie a supervisão estatal para empresas financeiras
fora da atividade bancária comum, como seguros e "braços
financeiros" de empresas como
General Electric e GM.
O novo plano do Tesouro
prevê a criação de um órgão específico para controlar as atividades dos "hedge funds" (fundos de investimento especulativos) e de outros instrumentos
financeiros "exóticos". São eles
que estão no centro da atual
crise financeira internacional.
"Estamos falando de uma reforma abrangente. Não de reparos modestos na margem,
mas de novas regras para o jogo" , afirmou Geithner. Ele reconheceu que todo o trabalho
neste sentido será "muito complexo, terá muitas consequências e será difícil". Disse, porém, que "quanto mais cedo,
melhor" a imposição das novas
regras.
A maioria dos produtos financeiros na mira de uma nova
regulamentação estão hoje fora
do alcance da SEC (a Comissão
de Valores Mobiliários dos
EUA). A ideia é que o registro
passe a ser necessário, assim
como a abertura de informações, em caráter confidencial,
do grau de alavancagem (o
quanto há em garantias reais)
nessas operações.
Durante vários anos, sob o
comando do então presidente
do Fed (o banco central dos
EUA), Alan Greenspan, houve
várias discussões sobre a necessidade de regular esses produtos. Mas Greenspan sempre
achou o controle desnecessário, até reconhecer, há cerca de
um mês, que não esperava que
esses produtos "exóticos" pudessem provocar uma crise
com as dimensões atuais.
A criação do novo órgão proposto precisa de uma lei específica do Congresso, onde parlamentares democratas e republicanos apresentaram reações
distintas.
Com o novo plano, Geithner
cumpre promessa feita pelo
presidente Barack Obama de
aumentar o peso da mão dos
Estado nesses mercados. A proposta também foi lançada às
vésperas da reunião de cúpula
do G20 (que reúne as maiores
economias do mundo), na semana que vem, em Londres.
Pelos planos do Tesouro, a
nova agência federal que fiscalizaria esses produtos seria responsável ainda pela "estabilidade sistêmica das maiores instituições financeiras". É mais
uma indicação de que os EUA
pretendem tomar a dianteira
nas discussões sobre novos parâmetros globais para o mercado como um todo.
Geithner não apresentou
muitos detalhes sobre a nova
proposta, mas disse que serão
fornecidos nos próximos dias.
De maneira geral, sua apresentação deu a entender que os
EUA buscarão estruturar o
mercado financeiro daqui em
diante de modo que a prevenção e o cuidado para evitar crises suplante o atual sistema de
elevados riscos para gerar grandes ganhos.
Diante da reações de parlamentares que o questionaram
se o governo Obama não estaria
querendo ir de um extremo ao
outro (da liberdade total ao total controle), e se um meio-termo não seria mais adequado,
Geithner disse: "Me desculpem
se sou cético. Mas o risco, neste
caso, é fazermos mais mal do
que bem [ao mercado]".
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