São Paulo, terça-feira, 27 de abril de 2004

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LUÍS NASSIF

De quem é a Cemar?

Não dá para varrer o caso Cemar (Central Energética do Maranhão) para baixo do tapete. A Eletrobrás não pode esconder os números da venda da empresa, assim como das propostas alternativas, como vem fazendo. E deve explicações sobre por que passou todo o "goodwill" da reestruturação da empresa a um grupo privado, e não ao Estado.
Em todo processo de reestruturação de uma empresa, o primeiro passo é conseguir o equilíbrio operacional. O segundo, negociar com os credores. O terceiro, melhorar o desempenho operacional da companhia. Dados esses três passos, a empresa ganha valor.
A Cemar é responsável pelo fornecimento de energia a 1,1 milhão de clientes, comercializou 2,5 milhões de MWh em 2003 e registrou receita líquida total de R$ 600 milhões.
Em 2002, foi colocada sob intervenção da Aneel, depois que os americanos da PPL aplicaram R$ 120 milhões de investimentos e foram apanhados no contrapé pela desvalorização do dólar e pela crise energética. O grupo se dispunha a ceder a empresa de graça.
Em pouco tempo de intervenção, a Aneel acabou com os prejuízos operacionais. O balanço que está sendo fechado mostra um Ebitda sustentado (lucro antes do pagamento de juros e tributos) da ordem de R$ 120 milhões/ano.
A empresa tem R$ 80 milhões em caixa. O Ebitda potencial é de R$ 100 milhões/ano. Com R$ 50 milhões/ano de investimento, R$ 30 milhões/ ano de pagamento da dívida, os acionistas podem receber R$ 20 milhões/ ano, com pouquíssimo esforço adicional. Mais: as perdas de energia da empresa estão na faixa de 20%. Exige-se investimento de R$ 4 milhões para cada ponto percentual de redução da dívida -que proporciona uma economia anual de R$ 6 milhões. Ou seja, com R$ 40 milhões de investimento, a empresa passa a gerar mais R$ 60 milhões/ano de Ebitda.
No entanto, foi entregue praticamente de graça à SVM Participações Ltda., administrada pelo grupo GP e controlada por um fundo "off-shore". A condição para assumir a empresa foi simplesmente a de renegociar suas dívidas com os credores e de aportar um capital, que não se sabe de quanto é e em que prazo, porque as informações oficiais não são divulgadas. O interventor já havia conseguido renegociar com um banco privado nas mesmas condições anunciadas pela SVM.
O maior credor é uma empresa do governo, a Eletrobrás. Sabe-se que parte da dívida foi transformada em capital por meio de uma medida provisória assinada pelo presidente da República e pela ministra de Minas e Energia.
Se o próprio governo completasse o processo de reestruturação, fechasse a reestruturação da dívida com a Eletrobrás e os bancos, antes de vender a empresa, todo o ganho da reestruturação seria apropriado pelo setor público.
Não se fez, não se sabe por quê. Não se divulgam os termos do acordo firmado com a SVM e o acordo do concorrente que foi afastado. E o país nem sequer sabe o nome dos novos controladores da Cemar. Por tudo o que foi divulgado até agora, quem adquiriu a Cemar foi um fundo administrado pelo GP, mais uma "off-shore". Quem são os cotistas?

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