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LUÍS NASSIF
De quem é a Cemar?
Não dá para varrer o caso
Cemar (Central Energética do Maranhão) para baixo
do tapete. A Eletrobrás não
pode esconder os números da
venda da empresa, assim como das propostas alternativas,
como vem fazendo. E deve explicações sobre por que passou
todo o "goodwill" da reestruturação da empresa a um grupo privado, e não ao Estado.
Em todo processo de reestruturação de uma empresa, o
primeiro passo é conseguir o
equilíbrio operacional. O segundo, negociar com os credores. O terceiro, melhorar o desempenho operacional da
companhia. Dados esses três
passos, a empresa ganha valor.
A Cemar é responsável pelo
fornecimento de energia a 1,1
milhão de clientes, comercializou 2,5 milhões de MWh em
2003 e registrou receita líquida
total de R$ 600 milhões.
Em 2002, foi colocada sob intervenção da Aneel, depois
que os americanos da PPL
aplicaram R$ 120 milhões de
investimentos e foram apanhados no contrapé pela desvalorização do dólar e pela crise energética. O grupo se dispunha a ceder a empresa de
graça.
Em pouco tempo de intervenção, a Aneel acabou com os
prejuízos operacionais. O balanço que está sendo fechado
mostra um Ebitda sustentado
(lucro antes do pagamento de
juros e tributos) da ordem de
R$ 120 milhões/ano.
A empresa tem R$ 80 milhões em caixa. O Ebitda potencial é de R$ 100 milhões/ano. Com R$ 50 milhões/ano de
investimento, R$ 30 milhões/
ano de pagamento da dívida,
os acionistas podem receber
R$ 20 milhões/ ano, com pouquíssimo esforço adicional.
Mais: as perdas de energia da
empresa estão na faixa de
20%. Exige-se investimento de
R$ 4 milhões para cada ponto
percentual de redução da dívida -que proporciona uma
economia anual de R$ 6 milhões. Ou seja, com R$ 40 milhões de investimento, a empresa passa a gerar mais R$ 60
milhões/ano de Ebitda.
No entanto, foi entregue praticamente de graça à SVM
Participações Ltda., administrada pelo grupo GP e controlada por um fundo "off-shore".
A condição para assumir a
empresa foi simplesmente a de
renegociar suas dívidas com os
credores e de aportar um capital, que não se sabe de quanto
é e em que prazo, porque as informações oficiais não são divulgadas. O interventor já havia conseguido renegociar com
um banco privado nas mesmas condições anunciadas pela SVM.
O maior credor é uma empresa do governo, a Eletrobrás.
Sabe-se que parte da dívida foi
transformada em capital por
meio de uma medida provisória assinada pelo presidente
da República e pela ministra
de Minas e Energia.
Se o próprio governo completasse o processo de reestruturação, fechasse a reestruturação da dívida com a Eletrobrás
e os bancos, antes de vender a
empresa, todo o ganho da reestruturação seria apropriado
pelo setor público.
Não se fez, não se sabe por
quê. Não se divulgam os termos do acordo firmado com a
SVM e o acordo do concorrente que foi afastado. E o país
nem sequer sabe o nome dos
novos controladores da Cemar. Por tudo o que foi divulgado até agora, quem adquiriu a Cemar foi um fundo administrado pelo GP, mais uma
"off-shore". Quem são os cotistas?
E-mail -
Luisnassif@uol.com.br
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