São Paulo, quinta-feira, 27 de abril de 2006

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Sem caixa, empresa descumpriu recuperação

JANAINA LAGE
DA SUCURSAL DO RIO

MAELI PRADO
DA REPORTAGEM LOCAL

A Varig não conseguiu cumprir algumas das principais diretrizes do Plano de Recuperação Judicial aprovado pelos credores, revela o relatório mensal de atividades enviado à 8ª Vara Empresarial do Rio pela administradora judicial da companhia aérea, a Deloitte Touche Tohmatsu.
Como saídas para manter o processo de recuperação da aérea e evitar a falência, a administradora aponta o financiamento do fluxo de caixa negativo pelos credores ou a capitalização das companhias por meio da realização de ativos ou da implementação dos FIPs (Fundos de Investimento e Participação), mecanismo criado para atrair investidores.
As falhas apontadas incluem aspectos operacionais e referentes ao fluxo de caixa da companhia. Os dados mostram que o número de aeronaves em operação caiu para 52 no início de abril, ao contrário das 63 previstas no plano.
A administradora destaca que uma das principais premissas do plano é a cobertura das despesas correntes e dos custos necessários para o processo de reestruturação pelas receitas geradas em operações normais da companhia, o que não aconteceu. A Varig já projetava um déficit no caixa da companhia no primeiro trimestre, mas não explicava a origem dos fundos para a cobertura dos déficits. "A cobertura do déficit de caixa foi realizada através da antecipação de recebíveis e da postergação de certos compromissos correntes e previstos no Plano de Recuperação", diz o texto.
Em janeiro, US$ 27,7 milhões foram adicionados ao caixa por meio de recebíveis. Em fevereiro o valor subiu para US$ 33,380 milhões com antecipações de recebíveis de cartão de crédito e de aluguel de porões para a Varig Log. Em março não houve antecipações -segundo a Folha apurou, ela não teria mais recebíveis para descontar. A Deloitte destaca que a estratégia de antecipar recebíveis pode ter impactos negativos sobre o fluxo de caixa futuro, caso não haja bom ajuste operacional.
"Ela vem se mantendo com seu fluxo de caixa, mas há adicionais que são cobertos pelo desconto de recebíveis", disse Marcelo Gomes, da consultoria Alvarez & Marsal, que está gerenciando o plano de recuperação da companhia.
A Varig deixou de pagar US$ 72,514 milhões de despesas correntes no primeiro trimestre. Deste total, 36,4% representam dívidas com a Infraero e 27% com as empresas de leasing.
Para o consultor Paulo Sampaio, os dados do relatório apresentado pela Delloite à Justiça evidenciam que a companhia não se preparou para enfrentar o processo de recuperação judicial.
"É um absurdo", afirmou. "Quem pediu a entrada da empresa no processo de recuperação judicial não preparou a companhia para o que vinha pela frente. Quando as empresas têm que voltar a pagar credores sempre há uma fase de turbulência, tem que ter caixa para agüentar. E a Varig hoje não tem reserva nenhuma."
Hoje, em audiência marcada na Corte de Falências de Nova York, a Varig apresentará argumentos ao juiz Robert Drain para tentar evitar que três arrendadores busquem retomar seus aviões por falta de pagamento.


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