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Sem caixa, empresa descumpriu recuperação
JANAINA LAGE
DA SUCURSAL DO RIO
MAELI PRADO
DA REPORTAGEM LOCAL
A Varig não conseguiu cumprir
algumas das principais diretrizes
do Plano de Recuperação Judicial
aprovado pelos credores, revela o
relatório mensal de atividades enviado à 8ª Vara Empresarial do
Rio pela administradora judicial
da companhia aérea, a Deloitte
Touche Tohmatsu.
Como saídas para manter o
processo de recuperação da aérea
e evitar a falência, a administradora aponta o financiamento do
fluxo de caixa negativo pelos credores ou a capitalização das companhias por meio da realização de
ativos ou da implementação dos
FIPs (Fundos de Investimento e
Participação), mecanismo criado
para atrair investidores.
As falhas apontadas incluem aspectos operacionais e referentes
ao fluxo de caixa da companhia.
Os dados mostram que o número
de aeronaves em operação caiu
para 52 no início de abril, ao contrário das 63 previstas no plano.
A administradora destaca que
uma das principais premissas do
plano é a cobertura das despesas
correntes e dos custos necessários
para o processo de reestruturação
pelas receitas geradas em operações normais da companhia, o
que não aconteceu. A Varig já
projetava um déficit no caixa da
companhia no primeiro trimestre, mas não explicava a origem
dos fundos para a cobertura dos
déficits. "A cobertura do déficit de
caixa foi realizada através da antecipação de recebíveis e da postergação de certos compromissos
correntes e previstos no Plano de
Recuperação", diz o texto.
Em janeiro, US$ 27,7 milhões
foram adicionados ao caixa por
meio de recebíveis. Em fevereiro o
valor subiu para US$ 33,380 milhões com antecipações de recebíveis de cartão de crédito e de aluguel de porões para a Varig Log.
Em março não houve antecipações -segundo a Folha apurou,
ela não teria mais recebíveis para
descontar. A Deloitte destaca que
a estratégia de antecipar recebíveis pode ter impactos negativos
sobre o fluxo de caixa futuro, caso
não haja bom ajuste operacional.
"Ela vem se mantendo com seu
fluxo de caixa, mas há adicionais
que são cobertos pelo desconto de
recebíveis", disse Marcelo Gomes,
da consultoria Alvarez & Marsal,
que está gerenciando o plano de
recuperação da companhia.
A Varig deixou de pagar US$
72,514 milhões de despesas correntes no primeiro trimestre.
Deste total, 36,4% representam
dívidas com a Infraero e 27% com
as empresas de leasing.
Para o consultor Paulo Sampaio, os dados do relatório apresentado pela Delloite à Justiça evidenciam que a companhia não se
preparou para enfrentar o processo de recuperação judicial.
"É um absurdo", afirmou.
"Quem pediu a entrada da empresa no processo de recuperação
judicial não preparou a companhia para o que vinha pela frente.
Quando as empresas têm que voltar a pagar credores sempre há
uma fase de turbulência, tem que
ter caixa para agüentar. E a Varig
hoje não tem reserva nenhuma."
Hoje, em audiência marcada na
Corte de Falências de Nova York,
a Varig apresentará argumentos
ao juiz Robert Drain para tentar
evitar que três arrendadores busquem retomar seus aviões por falta de pagamento.
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