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Para BC, real forte contém inflação e pode reduzir juro
Ata de reunião da semana passada diz que importados podem segurar preços, apesar de aquecimento da economia
Analistas prevêem que banco elevará ritmo de redução da taxa básica de juros de 0,25 ponto percentual para 0,5 ponto
NEY HAYASHI DA CRUZ
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O Banco Central já admite
que a queda do dólar abre espaço para redução mais acelerada
dos juros. Como o real valorizado barateia importações, ajudando a manter a inflação sob
controle, a expectativa é que o
Copom (Comitê de Política
Monetária do BC) reduza a taxa
Selic em 0,5 ponto percentual
na próxima reunião, em junho.
A sinalização está na ata divulgada ontem da reunião da
semana passada, quando o Copom reduziu os juros em 0,25
ponto percentual, fixando-o
em 12,5% ao ano. Na ocasião,
três dos sete membros da diretoria do BC votaram por um
corte de 0,5 ponto. Mas prevaleceu o voto da maioria.
O argumento de quem defendeu queda maior do juro se resumiu a uma frase: "Se acumulam sinais de que a contribuição das importações, por meio
da disciplina exercida sobre os
preços de bens transacionáveis
em ambiente de demanda robusta, para a consolidação de
um cenário benigno para a inflação no horizonte de projeção, poderá ser maior do que a
inicialmente contemplada".
Ou seja, mesmo num cenário
de aumento do consumo, as
empresas nacionais não podem
elevar seus preços para não
perder mercado para os importados, que, com a queda do dólar, ficam mais baratos.
A relação entre a taxa Selic e
o câmbio é uma das maiores
fontes de críticas ao BC, já que,
dentro e fora do governo, há
quem reclame de que os altos
juros são responsáveis por uma
excessiva valorização do real.
Mas os diretores do BC que
votaram pela queda menor dos
juros dizem que é preciso considerar que nem todos os preços estão sujeitos à concorrência dos importados -é o caso
dos serviços, por exemplo.
Além disso, insistem em dizer
que o corte na taxa Selic efetuado nos últimos meses ainda não
surtiu efeito completo.
Para Alexandre Póvoa, diretor do Modal Asset Management, a ata não chega a esclarecer por completo as razões das
divergência entre os diretores
do BC. "Não houve nenhuma
mudança relevante entre o cenário [traçado pela ata do Copom] de março e este de abril",
afirma. "As importações já
eram citadas no mês passado."
Póvoa diz esperar um corte
de 0,5 ponto na próxima reunião do Copom, mas ressalta
que baseia essa opinião na sua
análise da conjuntura econômica, não nos sinais dados pelo
BC na ata. "Não existe política
monetária conservadora ou
agressiva. Existe o correto e o
incorreto. E a situação do Brasil
não exige um juro real [descontada a inflação] nesse nível de
hoje."
Já a LCA Consultores, em relatório a clientes, também afirma que a ata do Copom não indica de forma muito clara qual
será o rumo dos juros de agora
em diante. "O documento preservou tom cauteloso, sobretudo no que diz respeito à evolução da atividade econômica, o
que deverá contribuir para
manter os mercados divididos
quanto ao ritmo de corte da Selic", diz o texto.
Mesmo com essa ressalva, a
LCA também afirma acreditar
numa redução de 0,5 ponto
percentual nos juros na próxima reunião do Copom.
A equipe de economistas do
Unibanco diz que, apesar da
menção às importações, o ritmo de crescimento da economia continua sendo o indicador
acompanhado mais de perto
pelo BC na hora de decidir sobre cortes nos juros -uma expansão mais acelerada poderia
abrir espaço para reajustes de
preços.
Ainda assim, relatório distribuído pelo banco afirma que
"provavelmente estamos no
começo de uma "nova era': o BC
está de volta [aos cortes de] 0,5
[ponto percentual]".
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