São Paulo, sexta-feira, 27 de abril de 2007

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Para BC, real forte contém inflação e pode reduzir juro

Ata de reunião da semana passada diz que importados podem segurar preços, apesar de aquecimento da economia

Analistas prevêem que banco elevará ritmo de redução da taxa básica de juros de 0,25 ponto percentual para 0,5 ponto


NEY HAYASHI DA CRUZ
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O Banco Central já admite que a queda do dólar abre espaço para redução mais acelerada dos juros. Como o real valorizado barateia importações, ajudando a manter a inflação sob controle, a expectativa é que o Copom (Comitê de Política Monetária do BC) reduza a taxa Selic em 0,5 ponto percentual na próxima reunião, em junho.
A sinalização está na ata divulgada ontem da reunião da semana passada, quando o Copom reduziu os juros em 0,25 ponto percentual, fixando-o em 12,5% ao ano. Na ocasião, três dos sete membros da diretoria do BC votaram por um corte de 0,5 ponto. Mas prevaleceu o voto da maioria.
O argumento de quem defendeu queda maior do juro se resumiu a uma frase: "Se acumulam sinais de que a contribuição das importações, por meio da disciplina exercida sobre os preços de bens transacionáveis em ambiente de demanda robusta, para a consolidação de um cenário benigno para a inflação no horizonte de projeção, poderá ser maior do que a inicialmente contemplada".
Ou seja, mesmo num cenário de aumento do consumo, as empresas nacionais não podem elevar seus preços para não perder mercado para os importados, que, com a queda do dólar, ficam mais baratos.
A relação entre a taxa Selic e o câmbio é uma das maiores fontes de críticas ao BC, já que, dentro e fora do governo, há quem reclame de que os altos juros são responsáveis por uma excessiva valorização do real.
Mas os diretores do BC que votaram pela queda menor dos juros dizem que é preciso considerar que nem todos os preços estão sujeitos à concorrência dos importados -é o caso dos serviços, por exemplo. Além disso, insistem em dizer que o corte na taxa Selic efetuado nos últimos meses ainda não surtiu efeito completo.
Para Alexandre Póvoa, diretor do Modal Asset Management, a ata não chega a esclarecer por completo as razões das divergência entre os diretores do BC. "Não houve nenhuma mudança relevante entre o cenário [traçado pela ata do Copom] de março e este de abril", afirma. "As importações já eram citadas no mês passado."
Póvoa diz esperar um corte de 0,5 ponto na próxima reunião do Copom, mas ressalta que baseia essa opinião na sua análise da conjuntura econômica, não nos sinais dados pelo BC na ata. "Não existe política monetária conservadora ou agressiva. Existe o correto e o incorreto. E a situação do Brasil não exige um juro real [descontada a inflação] nesse nível de hoje."
Já a LCA Consultores, em relatório a clientes, também afirma que a ata do Copom não indica de forma muito clara qual será o rumo dos juros de agora em diante. "O documento preservou tom cauteloso, sobretudo no que diz respeito à evolução da atividade econômica, o que deverá contribuir para manter os mercados divididos quanto ao ritmo de corte da Selic", diz o texto.
Mesmo com essa ressalva, a LCA também afirma acreditar numa redução de 0,5 ponto percentual nos juros na próxima reunião do Copom.
A equipe de economistas do Unibanco diz que, apesar da menção às importações, o ritmo de crescimento da economia continua sendo o indicador acompanhado mais de perto pelo BC na hora de decidir sobre cortes nos juros -uma expansão mais acelerada poderia abrir espaço para reajustes de preços.
Ainda assim, relatório distribuído pelo banco afirma que "provavelmente estamos no começo de uma "nova era': o BC está de volta [aos cortes de] 0,5 [ponto percentual]".


Texto Anterior: Mercado Aberto
Próximo Texto: Importados expõem contradição no governo
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.