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LUIZ CARLOS MENDONÇA DE BARROS
Novos desafios para o Copom
O Copom pode ter menos influência do que pensa na atividade com o controle
dos juros de curto prazo
A DIVULGAÇÃO DA ATA do Copom é sempre um momento
rico aos analistas, que têm a
chance de avaliar eventuais mudanças no pensamento dos que decidem
os rumos da política monetária. O
placar de 4 x 3 da última reunião tornara a ata desta semana especialmente interessante. O leitor desta
coluna conhece desde 2006 minha
opinião a respeito da importância
determinante das importações para
a queda rápida da inflação. Tive a satisfação de ler na ata que, após longo
atraso, o Copom começa a dar a importância devida ao papel do canal
externo, tendo mencionado textualmente o fator como determinante
para o voto dos três membros em favor de corte de 0,5 ponto percentual.
Mas quero abordar alguns outros
temas que estão se tornando cada
vez mais importantes aos rumos da
política monetária. O primeiro, ainda parte do canal externo, é a aceleração consistente das entradas de
capital financeiro. A atratividade do
mercado de capitais brasileiro, dado
o novo ambiente de inflação baixa e
estável, já estava evidente desde
2006, com a forte entrada de recursos na Bolsa e em títulos públicos de
renda fixa. Nos últimos meses, esse
fluxo ganhou o reforço de capitais de
curto prazo, incluindo financiamento de fornecedores, e de um ritmo
mais rápido de captações de médio e
longo prazo por parte das empresas.
Certamente há um pedaço que visa
só a arbitragem de juros, mas a busca por recursos no exterior é um
movimento racional, que decorre do
custo baixo do dinheiro em moeda
estrangeira e da expectativa, cada
vez mais disseminada, de estabilidade da taxa de câmbio no patamar
atual por vários anos.
Ao contrário do período de câmbio fixo, que incentivava artificialmente empresas e consumidores a
contrair dívida externa, o movimento atual é puramente de mercado e
ocorre a partir da solidez de nossas
contas externas. Por isso mesmo ele
pode ser grande e duradouro. A aceleração das entradas financeiras nos
últimos meses tem forçado o Banco
Central a intervir cada vez mais no
mercado. Nada menos que US$ 31
bilhões foram incorporados às reservas nos primeiros quatro meses
de 2007, praticamente o mesmo valor do acumulado no ano passado inteiro. O movimento reforça consideravelmente a pressão por uma redução mais rápida dos juros, mas ainda
não foi incorporado nas atas.
Outro fator muito relevante é a dinâmica dos juros no mercado. Aqui
é possível distinguir entre os contratos de juros relativamente curtos e
influenciados pelo Copom (até 18
meses) e os mais longos (até 2012),
que dependem mais das expectativas de longo prazo. Aos que se ocupam de analisar o comportamento
da curva de juros de mercado, uma
mudança importante ocorreu recentemente nos juros curtos. Até há
poucos meses, o mercado era refém
da retórica do Copom e dificilmente
colocava no preço mais de dois cortes de juros à frente. Claramente o
mercado se libertou do palavreado
das atas e hoje a curva de juros curtos considera nada menos que nove
cortes de 0,25 p.p., com possibilidade de dois cortes de 0,50 p.p. nas
próximas duas reuniões. É uma mudança importante de comportamento, que só se explica por uma alteração no mecanismo de formação
de expectativas, já que a linguagem
do Copom segue a mesma. Já nos juros longos assistimos a algo inédito
no Brasil: a taxa de juros nominal está se aproximando de 10% ao ano.
A conclusão inescapável é que a
economia está fazendo por si mesma o que a autoridade monetária reluta em fazer. Hoje, mais do que
nunca, a dinâmica do crédito, das
operações do mercado de capitais e
do processo de decisão das empresas está nos prazos mais longos, que
já refletem nova visão dos agentes
econômicos a respeito da economia
brasileira. Ou seja, é possível que o
Copom esteja influenciando menos
do que pensa a atividade econômica
com o controle dos juros de curto
prazo, o que só reforçaria a possibilidade de uma convergência mais rápida, para o bem do Tesouro.
Por fim, quero mencionar mais
uma notícia relevante à política monetária: as expectativas de inflação
de longo prazo (até dez anos à frente) já estão abaixo de 4% ao ano. Nos
EUA, as pessoas (e o Fed) estão
acostumadas a trabalhar com expectativas longas, refletidas nos títulos indexados à inflação (as chamadas Tips). Pois bem, temos aqui
as nossas expectativas embutidas
nos papéis indexados ao IGP-M e ao
IPCA, que mandam a mesma mensagem ao nosso Copom.
LUIZ CARLOS MENDONÇA DE BARROS, 64, engenheiro e
economista, é economista-chefe da Quest Investimentos.
Foi presidente do BNDES e ministro das Comunicações
(governo FHC).
lcmb2@terra.com.br
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