São Paulo, sábado, 27 de maio de 2006

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Globo já negocia exclusividade no futebol

Empresa prevê derrota no Cade e busca acordo para que concorrentes na TV paga possam ter acesso a campeonatos

Associação de operadoras reivindica há cinco anos acesso ao canais SporTV 1 e SporTV2 e às transmissões "pay-per-view", da Globosat

ELVIRA LOBATO
DA SUCURSAL DO RIO

A exclusividade do sistema Net na transmissão dos jogos dos campeonatos de futebol está com os dias contados. A Globo negocia acordo com o Cade (Conselho Administrativo de Defesa Econômica) para que todas as operadoras de TV paga possam ter acesso aos campeonatos de futebol, e não apenas as afiliadas do sistema Net.
A negociação acontece após cinco anos de disputa com a Associação NeoTV, cooperativa que reúne 54 empresas de TV por assinatura. Na próxima quarta-feira, está previsto o julgamento do processo administrativo aberto pela NeoTV em 2001, no qual ela reivindica o acesso ao canais SporTV 1 e 2 e às transmissões ""pay-per-view", da Globosat.
A Globo, internamente, dá como certo que o Cade vai proibi-la de continuar limitando a venda dos canais SporTV aos afiliados do sistema Net e acelerou as tratativas para o acordo. Mas a NeoTV reclama de não participar da negociação.

Sinal
Para executivos da Globo, a decisão tomada, anteontem, pelo Cade, de proibir o grupo News (controlador da Sky) de negociar canais exclusivos sinalizou que os conselheiros devem seguir o mesmo caminho no julgamento do processo aberto pela NeoTV.
O Cade impôs várias restrições ao grupo News (do magnata mundial Rupert Murdoch) para aprovar a fusão da Sky com a DirecTV. A News está proibida, por cinco anos, de discriminar os concorrentes com conteúdos exclusivos e de exercer direito de exclusividade sobre os cinco maiores campeonatos de futebol de maior interesse no Brasil (Brasileiro, Libertadores, Copa do Brasil, Paulista e Carioca).
A medida afeta a Fox (empresa da News), mas não atinge a Globo, que também é acionista da Sky. Por decorrência, não afeta a Globosat nem a Net Serviços, que comercializa os canais Globosat.
Para o diretor-geral da Globosat, Alberto Pecegueiro, o Cade não se referiu à Globo nas restrições relativas à exclusividade de programação na Sky porque tratará do assunto no julgamento de quarta-feira. O grupo espera fechar o acordo antes, o que resultaria no fim do processo administrativo, mas não informa as condições que estão sendo discutidas.

Só os esportivos
A diretora-geral da NeoTV, Neusa Risette, antecipou que a entidade não aceitará comprar todo o pacote de canais da Globosat para ter acesso à programação esportiva.
""Nosso pedido é para comprar apenas os canais de esporte, que têm relevância concorrencial. Não podemos impor um pacote inteiro aos assinantes", afirmou.
De acordo com ela, muitos associados da NeoTV compravam canais da Globosat antes de a empresa adotar a política de exclusividade, em 2000. ""A Globo rompeu os contratos, e elas tiveram muita dificuldade para construir um novo produto e continuar sobrevivendo."

Muda o mercado
Numa coisa a NeoTV e a Globo concordam: as restrições impostas pelo Cade para aprovar a fusão Sky/DirecTV mudaram o cenário da competição no mercado de TV por assinatura. ""Foi um avanço", resumiu a diretora da NeoTV.
Para Alberto Pecegueiro, se o Cade proibir a Globo de manter a exclusividade dos canais Globosat para o sistema Net, começará uma nova era para a TV paga na próxima semana, em que a competição entre as operadoras deixará de ser determinada pela exclusividade do conteúdo de programação.
Ele diz que a mudança já começou. Há um mês, depois de muitos anos de disputa e discussão, a TVA assinou acordo de distribuição do Canal Brasil, produzido pela Globo, e negocia a compra dos canais Telecine. ""Está acontecendo um processo de distensão no mercado", diz o diretor da Globosat.
A exclusividade de programação começou com a TVA, nos anos 90, quando ela se associou à ESPN e à HBO. As Organizações Globo imitaram prática mais tarde.


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