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Déficit externo até abril é o pior da história
Queda do saldo comercial e aumento das remessas ao exterior geram saldo negativo de US$ 14 bi entre janeiro e abril
BC previa um déficit negativo de US$ 12 bi no ano todo, mas analistas já prevêem resultado negativo de US$ 20 bi em 2008
JULIANA ROCHA
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
A queda do superávit da balança comercial e o aumento
das remessas de lucros e dividendos ao exterior foram os
responsáveis pela piora das
contas externas brasileiras de
janeiro a abril. Nos quatro primeiros meses do ano, o déficit
foi de US$ 14 bilhões, o pior da
história para o período. O valor
ultrapassa a projeção do BC
(Banco Central) para o ano todo, que era de US$ 12 bilhões.
Nos últimos 12 meses, o saldo
negativo corresponde a 1,08%
do PIB (Produto Interno Bruto). Só em abril, o déficit nas
transações correntes -que
contabiliza a compra e a venda
de bens e serviços com outros
países- foi de US$ 3,3 bilhões.
O resultado foi negativo pelo
sétimo mês consecutivo, sendo
que em março o déficit foi ainda maior, de US$ 4,4 bilhões.
As transações correntes são
formadas pela balança comercial (exportações menos importações), a balança de serviços (pagamento de juros da dívida externa, gastos com viagens internacionais, remessas
de dividendos ao exterior, entre outros) e as transferências
unilaterais (dinheiro enviado
ao Brasil por residentes no exterior e vice-versa).
Em abril, as remessas de lucros e dividendos das empresas
com filiais no Brasil para suas
matrizes foram de US$ 3,6 bilhões. No acumulado do ano,
esse saldo- que tem contribuição negativa para as contas externas- soma US$ 12,4 bilhões.
O real forte tem parte importante no resultado, pois encarece as exportações e estimula as
importações e a remessa de lucros, que rendem mais dólares
após a conversão.
Altamir Lopes, chefe do Departamento Econômico do BC,
aposta que o ritmo de remessas
de lucros e dividendos para o
exterior deve cair ao longo do
ano. Ele também acredita que o
saldo positivo da balança comercial deve começar a se acelerar a partir de maio, com o
fim da greve dos auditores fiscais da Receita e a normalização do embarque da soja. Se
confirmado, o déficit em transações correntes do país tende
a se reduzir. Lopes espera que,
em maio, esse déficit seja de
US$ 1,5 bilhão, menos da metade do resultado de abril.
"Com o tempo, as empresas
vão reverter o lucro em investimento no Brasil. E as remessas
vão se reduzir", comentou Lopes. "Hoje, vemos que as companhias que mais fizeram remessas são as que estão com dificuldades financeiras no exterior por causa da crise", acrescentou. Juntos, os setores financeiro, automobilístico e de
metalurgia respondem por
60% das remessas.
Lopes ressaltou que o crescimento econômico também impulsiona o déficit nas contas
externas, pois o aumento na
importação de bens de consumo e de capitais, para investimentos, são resultado do aumento da demanda interna.
O mercado financeiro, porém, não está otimista como o
BC. Segundo pesquisa feito pelo próprio órgão, divulgada ontem, a projeção média dos analistas para as transações é um
déficit de US$ 20 bilhões neste
ano, US$ 8 bilhões acima do
previsto pela instituição.
Nelson Carneiro, economista sênior da consultoria Austing Rating, é ainda mais pessimista. Ele projeta um déficit de
US$ 30 bilhões nas transações
correntes. O cenário mais provável para o especialista é de
aumento das remessas de lucros e dividendos. E queda do
saldo da balança comercial.
"Acredito em déficit da balança comercial nos últimos
meses do ano. No ano, o saldo
comercial deve ser de US$ 15
bilhões", afirma Carneiro. No
ano passado, o saldo comercial
foi de US$ 40 bilhões.
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