São Paulo, quinta-feira, 27 de junho de 2002

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FRAUDES DO CAPITAL

CVM dos EUA tentará evitar que documentos sejam destruídos, como ocorreu no caso da Enron

WorldCom responderá a processo por fraude

DA REDAÇÃO

A SEC (Securities and Exchange Commission, órgão federal dos EUA que fiscaliza o mercado acionário) abriu ontem um processo contra a WorldCom acusando a companhia de fraude contábil. O Departamento de Justiça também poderá processar a empresa de telecomunicações.
Anteontem à noite, a WorldCom, cuja contabilidade já estava sob investigação das autoridades dos EUA, informou que uma auditoria interna revelou fraude de US$ 3,8 bilhões. Despesas e outros gastos operacionais da companhia foram anotados nos balanços como investimentos, inflando os resultados de modo irregular.
Scott Sullivan, que desde 1994 era o diretor financeiro da corporação, foi demitido. A empresa refará todos os balanços dos últimos cinco trimestres, períodos em que o golpe teria ocorrido.
A fraude está entre as maiores já ocorridas nos EUA. Segundo a SEC, o esquema fez com que a companhia registrasse um ganho de US$ 2,393 bilhões no ano passado, quando o correto seria lançar perdas de US$ 662 milhões. No primeiro trimestre do ano, deveria ser anotado um prejuízo de US$ 557 milhões, no lugar de ganhos de US$ 240 milhões.
Sullivan teria sido o grande mentor da expansão da WorldCom, que surgiu em 1983 como uma modesta empresa de serviços de telecomunicações. Nas última décadas, a companhia fez cerca de 60 aquisições (entre elas a norte-americana MCI e a Embratel), impulsionada pela bolha de investimentos em tecnologia.
A SEC vai tentar obter uma ordem judicial para evitar que arquivos e documentos sejam destruídos, como acabou acontecendo no caso Enron. Além disso, o órgão vai obrigar os executivos das mil maiores empresas dos EUA a atestar a veracidade dos comunicados financeiros feitos por eles no último ano.
Ao maquiar os resultados, o objetivo da WorldCom era permanecer dentro das expectativas dos analistas do mercado financeiro. Senão, as ações da empresa poderiam cair ainda mais e seria mais difícil levantar crédito.
As suspeitas sobre a WorldCom se aprofundaram em março, quando a SEC começou a examinar os números da tele. A confiança na empresa desabou, e com ela as ações. Em abril, Bernard Ebbers, um de seus fundadores, acabou pedindo demissão da presidência do grupo.

Ponta do iceberg
Longe de ser um caso isolado, a energética Enron parece cada vez mais apenas a ponta do iceberg. A derrocada da companhia energética, que era a maior do setor no planeta, expôs uma cultura de manipulação de balanços comum entre algumas das principais empresas dos EUA.
A Enron era tida como exemplar e mantinha laços estreitos com o centro do poder norte-americano. Mas, quando surgiram dúvidas sobre a contabilidade da empresa, as ações começaram a desabar, e a concordata veio em dezembro passado.
Ontem, a Adelphia Communications, empresa de TV a cabo, entrou em concordata. Caso a WorldCom quebre, o contágio pode ser ainda maior.



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