São Paulo, quinta-feira, 27 de junho de 2002 |
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CRISE NA AL Mais de 90 pessoas ficaram feridas em choques com a polícia na 1ª manifestação com mortos desde dezembro Dois morrem em protesto na Argentina
JOÃO SANDRINI DE BUENOS AIRES Duas pessoas morreram e mais de 90 foram feridas durante manifestações violentas e choques com a polícia ontem na região metropolitana de Buenos Aires. Foram os primeiros protestos com vítimas fatais desde dezembro, quando uma onda de saques e manifestações violentas deixou um saldo de 29 mortos e acabou por derrubar o ex-presidente Fernando de la Rúa (1999-2001). Por temer novas manifestações de desempregados e piqueteiros, o governo mandou bloquear o trânsito nas imediações da Casa Rosada (sede do governo) e do Congresso. Os dois prédios, localizados no centro da cidade, foram evacuados. Nenhum representante do governo se manifestou sobre a repressão até o fechamento dessa edição. Em resposta à violência da polícia, líderes de grupos de desempregados se dirigiram a praça de Maio (centro da cidade) no começo da noite, onde devem permanecer, pelo menos, até a tarde de hoje, quando deve acontecer um ato em repúdio à repressão ordenada pelo governo do presidente Eduardo Duhalde. Líderes piqueteiros também pediram às três principais centrais sindicais do país -CGT oficial, CGT dissidente e CTA- que convoquem manifestações de protesto contra a violência. A CTA, que controla a maioria dos funcionários públicos, confirmou no final da tarde a realização de uma greve geral hoje. O descontentamento dos argentinos está relacionado à degradação dos indicadores econômicos e sociais do país. O desemprego já atinge 25% dos trabalhadores e a pobreza, 51,4% da população. Ontem, os incidentes mais graves aconteceram por volta das 12h, quando centenas de manifestantes que protestavam por emprego e comida tentaram bloquear a ponte Pueyrredón, uma das principais vias de acesso ao centro de Buenos Aires e tradicional alvo de piquetes. No entanto, o governo já havia avisado na terça-feira que não permitiria mais os cortes de rua realizados frequentemente nos últimos meses e que estava disposto a reprimir protestos desse tipo para garantir a circulação do tráfego. Por isso, centenas de policiais se encontravam no local com o objetivo de evitar o bloqueio. Após provocações, os dois lados iniciaram em violento confronto. A polícia usou gás lacrimogêneo e disparou balas de borracha à queima-roupa para dispersar os manifestantes, que reagiram com paus e pedras. Cerca de 160 pessoas foram presas. Durante a fuga, os piqueteiros deixaram um rastro de destruição. Manifestantes depredaram dezenas de carros e lojas. Dois ônibus municipais foram incendiados. Entre os 90 feridos, quatro continuavam em estado grave no início da noite de ontem. Os dois mortos ainda não haviam sido identificados. Sabia-se apenas que eram homens com 20 a 25 anos de idade. Médicos do hospital e representantes do governo admitiram que oito pessoas foram feridas com balas de chumbo, e não de borracha. A polícia negou que esses disparos tenham partido das forças de segurança que participaram da repressão. Outras Províncias também foram sacudidas ontem por protestos de piqueteiros. A manifestação mais expressiva aconteceu em Tucumán (norte), onde 8.000 pessoas marcharam pelo centro da capital provincial San Miguel de Tucumán. Também houve piquetes em, pelo menos, outras duas Províncias: Córdoba e Salta. Texto Anterior: Empréstimo: BB vende títulos e capta US$ 300 mi Próximo Texto: Contágio não deve fazer FMI amolecer Índice |
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