São Paulo, quarta-feira, 27 de junho de 2007

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BC buscará inflação menor que meta de 4,5% do CMN

Mantega e Meirelles tentam mostrar "consenso" para objetivo do IPCA de 2009

Governo quer evitar possível aperto monetário no final do segundo mandato de Lula e enterra busca de inflação de 3%

SHEILA D'AMORIM
JULIANNA SOFIA
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Depois de o presidente Luiz Inácio Lula da Silva defender publicamente uma inflação maior e os três ministros da área não conseguirem se entender sobre o assunto, o governo optou por uma saída ambígua: fixou dois números. Seguindo a vontade de Lula, o CMN (Conselho Monetário Nacional) decidiu que a meta de inflação para 2009 será de 4,5% (o mesmo patamar atual), mas o Banco Central deverá atuar mirando em 4%.
Em 2006, a inflação oficial (IPCA) ficou em 3,14%.
Com a decisão, o governo quer, por um lado, evitar que uma meta oficial mais baixa leve o BC a apertar sua política monetária no final do segundo mandato de Lula caso se materializem algumas previsões de um cenário internacional pior.
Por outro, autorizou o Banco Central a perseguir uma inflação abaixo da meta, algo que já ocorre hoje. Sinaliza que topa uma inflação na casa dos 4% em 2010 e enterrou de vez uma taxa mais próxima de 3%.
Esse foi o "consenso" inédito, destacado pelos três ministros que compõem o CMN -Guido Mantega (Fazenda), Paulo Bernardo (Planejamento) e Henrique Meirelles (BC)- para rebater insinuações de disputa nos bastidores. Mas a troca de afagos públicos não esconderam as divergências. Até então, durante crises no mercado financeiro, o governo usou uma meta ajustada para substituir a original, mas nunca trabalhou com duas simultâneas.
Mantega, que convenceu Lula de que 4,5% era o melhor patamar de inflação para o Brasil, anunciou a meta para 2009 justificando que ele era fruto do sucesso no controle da inflação.
Em seguida, com menos ênfase, lembrou que em 2006 o índice ficou abaixo da meta, que neste ano isso deve se repetir e que caberá ao BC, "sempre que possível, produzir inflação até abaixo do centro da meta".
"Os 4,5% significam que temos mais liberdade. Não temos rigidez caso haja um choque de oferta, uma crise internacional, algo que venha perturbar essa trajetória benigna da inflação. Aí temos um intervalo e o centro da meta mais confortável", disse Mantega, referindo-se ao intervalo de tolerância da meta, de dois pontos percentuais para cima ou para baixo.
Meirelles, que como Bernardo queria a meta em 4%, após elogios às afirmações do seu maior rival no governo, ponderou: "O ministro, com muita clareza, coloca a orientação do CMN para que o BC continue a mesma estratégia de política monetária e que obedeça a prática da maioria dos países emergentes hoje, onde na maior parte do tempo a inflação situa-se no intervalo inferior ao centro da meta".
Segundo ele, nos emergentes a inflação fica abaixo da meta fixada em mais da metade do tempo. Destacando as projeções do mercado de 4% para a inflação em 2008 e 2009, Meirelles afirmou que o governo julgou "adequada essa expectativa do mercado" e que "não há orientação para que a inflação convirja para 4,5%."
Já Bernardo destacou que Lula não fixou a meta pelo CMN: "O presidente disse que não queria defender uma posição para o conselho".
Em nome desse novo "consenso" no governo mudou-se até o conceito de longo prazo. Tradicionalmente, BC e Fazenda consideram períodos acima de um ano como longo prazo. Agora, 2009 transformou-se numa "transição para o longo prazo", disse Meirelles.


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