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Associação quer que OIT se pronuncie sobre o amianto
Objetivo é ver proibido o uso do mineral no Brasil
FÁTIMA FERNANDES
CLAUDIA ROLLI
DA REPORTAGEM LOCAL
A Abrea (Associação Brasileira dos Expostos ao Amianto)
pediu formalmente ontem, em
Brasília, à OIT (Organização
Internacional do Trabalho) um
pronunciamento sobre o fato
de indústrias brasileiras que
extraem e usam amianto para
produzir telhas e caixas-d'água
patrocinarem entidades de trabalhadores para defender o uso
controlado do mineral no país.
O pedido foi feito por meio de
queixa para que a OIT recomende ao governo brasileiro a
adoção de medidas que possam
proibir o que a Abrea entende
como "prática anti-sindical".
A Abrea se baseia no artigo 2º
da Convenção 98 da OIT, que
"veda às organizações de empresas manter com recursos
organizações de trabalhadores
com o objeto de sujeitá-las ao
controle de empregadores".
O repasse de recursos de empresas a entidades sindicais
ocorre por meio do Instituto
Brasileiro do Crisotila, criado
em 2002 e patrocinado por 11
indústrias. "A queixa denuncia
a grave violação da liberdade e
da autonomia sindicais em função da ajuda financeira da indústria do amianto a entidades
sindicais, como está explícito
no Acordo Nacional para Uso
Controlado do Amianto Crisotila [tipo que existe no país]".
Esse acordo foi firmado entre a Comissão Nacional dos
Trabalhadores do Amianto
(CNTA), ligada à CNTI (Confederação Nacional dos Trabalhadores na Indústria), 7 sindicatos de trabalhadores, 11 indústrias e o Instituto Brasileiro
do Crisotila.
"O Estado tem de tomar medidas para censurar essa relação. Se a OIT emite um pronunciamento em relação a isso, o Brasil pode sofrer retaliações
perante outros países, já que as
relações comerciais entre os
países são pautadas pela observância de cláusulas sociais",
afirma Mauro de Azevedo Menezes, advogado da Abrea.
Para Élio A. Martins, presidente da Eternit, uma das 11
empresas que assinam o acordo
com a comissão de trabalhadores, o repasse é transparente.
"Vivemos em uma democracia e isso [queixa à OIT] só engrandece a discussão. O acordo
é transparente. A lei federal nº
9.055 [que disciplina o uso do
amianto no Brasil] prevê repasse para treinamento dos trabalhadores. Eles precisam ser
treinados, viajar, participar de
seminários para ter mais informação e discutir o assunto."
Martins afirma que "seria interessante ver de onde vêm os
recursos que financiam essas
associações [que representam
ex-trabalhadores, como a
Abrea] que defendem o fim do
amianto no país".
O presidente da Eternit esteve ontem na sede da Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo) para discutir o
uso controlado do amianto e o
impacto que o banimento do
mineral teria no país.
"Existe uma pesquisa em
curso, realizada pela USP e pela
Unicamp, que vai dar uma resposta científica a esse debate."
Ele diz que não é possível comparar o banimento no Brasil
com o banimento na Europa.
"Lá se usava o amianto anfibólio; aqui se usa o crisotila."
"Se a pesquisa constatar que
o produto está contaminando a
população, e se não houver
meios de evitar isso, engrossarei a fileira dos que pedem o banimento. Mas a única exigência
que faço é que a OMS [Organização Mundial da Saúde] diga
que as fibras alternativas são
seguras e não causam riscos. O
que se tem de informação hoje
é que o risco dessas fibras [alternativas] é indeterminado."
Martins também destaca
que, desde a década de 80, não
há novos casos registrados de
doenças causadas pelo uso do
amianto no Brasil. "A maioria
das pessoas que está identificada com problema ou que fez
acordo com a companhia está
dentro da pesquisa da Sama,
passando pelas juntas médicas
da USP e da Unicamp. Parte
dos processos contra a companhia chegou ao final porque, no
momento da perícia, se confirmou que não tinha problema
da doença ou que a doença não
era causada pelo amianto."
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