São Paulo, sábado, 27 de junho de 2009

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Crise limita ganho real em reajuste salarial

Aumentos nos acordos negociados até maio se concentram na faixa de até 0,5% acima do INPC, ante intervalo de 1% a 1,5% em 2008

Nos 5 primeiros meses deste ano, 96% das negociações conseguiram zerar as perdas com a inflação ou ter reajuste maior; em 2008, foram 89%

CLAUDIA ROLLI
DA REPORTAGEM LOCAL

A instabilidade econômica causada pela crise internacional não afetou os reajustes nos salários de trabalhadores que negociaram acordos entre janeiro e maio deste ano. Mas teve impacto no "tamanho" do ganho real conquistado.
Entre os acordos salariais que obtiveram ganhos acima da inflação, o aumento se concentrou na faixa até 0,5% acima do INPC -o índice mais usado pelos sindicatos para correção dos salários. No ano passado, os aumentos estavam no intervalo de 1% a 1,5% acima do INPC.
Os resultados são apontados em estudo do Dieese ao comparar o desempenho de cem negociações firmadas de janeiro a maio deste ano com as feitas em igual período de 2008. O número de trabalhadores da mostra não foi informado.
Nos cinco primeiros meses deste ano, 96% das negociações conseguiram zerar as perdas com a inflação ou ter reajuste maior. Em 2008, foram 89%.
"O ajuste das empresas em resposta à crise ocorreu pela demissão, principalmente no setor industrial, e não pelos reajustes", diz José Silvestre de Oliveira, coordenador de relações sindicais do Dieese.
Somente entre novembro de 2008 a janeiro foram fechados no país 797,5 mil empregos, segundo o Ministério do Trabalho. Apesar de o mercado de trabalho ter reagido, as 282 mil vagas criadas de fevereiro a maio foram insuficientes para repor os empregos eliminados.
"Quem sobreviveu às demissões conseguiu repor as perdas nos salários porque a inflação se manteve em queda durante o ano e em patamar menor do que em 2008, o que facilita as negociações", diz Silvestre de Oliveira. O INPC acumulado nos últimos 12 meses encerrados em dezembro chegou a 7,20%. No acumulado de janeiro a maio deste ano, 5,83%.
O setor industrial, o mais atingido pela crise, foi o único em que a proporção de acordos com reajustes acima da inflação recuou: passou de 86% em 2008 para 83% neste ano. Neste ano, 11% conseguiram zerar a inflação e 5,6% tiveram reajustes inferiores ao INPC.
Metalúrgicos da Paraíba e químicos de São Gonçalo e região (RJ) são categorias que não conseguiram, por exemplo, recuperar as perdas. Já os operários da construção civil de São Paulo negociaram reajuste escalonado por faixa salarial.
Os aumentos reais neste ano também foram mais contidos na indústria. Um em cada três acordos firmados teve ganho real de até 0,5% acima da inflação. Em 2008, um terço das negociações teve ganho entre 1,01% e 1,5% superior ao INPC.
Medidas como a redução do IPI para o setor automotivo e para produtos da linha branca (geladeira, fogão) contribuíram não só para que a indústria se recuperasse mas também para o desempenho positivo das negociações salariais no comércio e no setor de prestação de serviços, segundo economistas.
A tendência para o próximo semestre é de melhoria nas negociações e nos aumentos reais. "Campanhas salariais serão antecipadas e negociadas por setor de forma conjunta entre as centrais", diz João Carlos Gonçalves, da Força Sindical.
As centrais defendem jornada de 40 horas semanais e proibição de demissões imotivadas para proteger o emprego e poder concentrar as negociações na melhoria dos salários, diz Ricardo Patah, da UGT.


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