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COMÉRCIO
Congressistas dos EUA fecham acordo para aprovar a Autorização de Promoção Comercial; texto não agrada ao Brasil
Bush fica perto de conquistar o "fast track"
CLÓVIS ROSSI
COLUNISTA DA FOLHA
As lideranças dos dois partidos
norte-americanos chegaram na
madrugada de ontem a um acordo para aprovar a TPA (Autoridade para Promoção Comercial, conhecida como "fast track"). O
mecanismo dá poderes ao Executivo para negociar acordos comerciais que, depois, o Congresso
apenas rejeita ou aceita integralmente, sem poder emendá-los.
O acordo, que combina os dois
diferentes textos anteriormente
aprovados por Senado e Câmara,
poderia entrar em votação ainda
ontem, se superados obstáculos
finais. As votações ocorrem em
cada uma das casas, de maneira
independente.
Se a aprovação sair mesmo, o
governo George Walker Bush ficará politicamente fortalecido para negociar acordos comerciais,
seja no âmbito global (a OMC,
Organização Mundial do Comércio), seja no regional (a Alca, Área
de Livre Comércio das Américas,
prevista para englobar os 34 países americanos, fora Cuba). A
TPA, se aprovada, precisaria ser
renovada em cinco anos.
Mas, para o Brasil, não muda
nada a desconfortável situação
criada pelos textos de TPA antes
votados por Senado e Câmara.
A grande vantagem da TPA é
eliminar o receio dos parceiros
norte-americanos de negociar
com o Executivo acordos que, depois, o Congresso poderia estraçalhar, retendo apenas as partes
favoráveis aos EUA.
Mas a forma final da TPA, preservada no acordo da madrugada
de ontem, continua contendo limitações formidáveis à margem
de manobra dos negociadores.
Na área agrícola, a de maior interesse para o Brasil, por exemplo,
três comissões do Congresso norte-americano acompanharão a
negociação passo a passo.
Além disso, a TPA prevê a criação de um comitê de supervisão,
formado pelos principais líderes
do Congresso, para acompanhar
as negociações dos acordos comerciais na OMC e na Alca.
Por fim, há uma lista de mais de
300 produtos tidos como sensíveis pelo Congresso cuja negociação será monitorada por cinco comitês congressuais.
O projeto de TPA mantém, ainda, a limitação para qualquer modificação nos mecanismos de defesa comercial dos EUA, como a
aplicação de antidumping ou salvaguardas.
Dumping é a colocação de um
dado produto no mercado a preços de custo ou até inferiores, para
tomar fatias de mercado. A legislação internacional autoriza a
adoção de mecanismos de defesa,
mas inúmeros países (Brasil e Japão à frente) entendem que a legislação norte-americana é abusiva e usada como proteção à produção local, e não como reação a
abusos.
Se o Congresso não permitir
uma modificação mais profunda
nas regras norte-americanas de
defesa comercial, fica bloqueada a
negociação na área das normas,
que são fundamentais para países
como o Brasil.
Afinal, as tarifas de importação
norte-americanas são de fato baixas (na média, de 4%, um terço da
média brasileira). Mas a proteção,
em vez de ocorrer via tarifas, se dá
por meio de normas como a legislação antidumping, entre outros
mecanismos.
A embaixada do Brasil em Washington já apresentou estudo em
que demonstra que praticamente
a metade (ou 49,49%) das exportações brasileiras para os três países do Nafta (EUA, Canadá e México) enfrenta algum tipo de restrição não-tarifária.
Por isso mesmo, a análise feita
pelo embaixador nos EUA, Rubens Barbosa, não é otimista. "O
importante era saber qual a forma
que tomaria a TPA. Já se sabe, e
não é liberalizante", diz.
A rigor, o único trecho criticado
pelos parceiros dos EUA que acabou removido do texto agora
prestes a ser votado é o que impunha a observância das leis norte-americanas para o tratamento de
qualquer investimento externo de
firmas dos Estados Unidos.
De todo modo, o fato de o Executivo dispor da TPA certamente
fará o governo Bush retomar a
pressa nas negociações da Alca,
depois de um período de relativa
paralisia provocado pelas divergências no Congresso, agora em
princípio superadas.
A pressa norte-americana colhe
o Brasil em mau momento: primeiro pela turbulência financeira
e, segundo, por ser fim de governo, o que joga decisões mais sensíveis para o ano que vem.
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