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São Paulo, domingo, 27 de julho de 2003

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ÁGUIA PREPARA VÔO

Para analistas, economia deve ter crescimento lento e gradual, mas sem criação de postos de trabalho

Recuperação dos EUA não inclui emprego

FERNANDO CANZIAN
DE WASHINGTON

A economia norte-americana está fora de perigo de voltar a uma nova fase de desaceleração. Mas a recuperação será lenta, gradual e não terá impacto positivo sobre o emprego. Essa é a opinião de alguns dos principais economistas dos EUA ouvidos pela Folha.
A taxa de desemprego atual de 6,4%, a maior em quase uma década, deve se manter elevada por vários meses, apesar da recuperação dos negócios, da Bolsa e dos lucros das principais companhias dos Estados Unidos.
"Não há dúvida de que os últimos dois meses indicam que estamos nos dirigindo a uma recuperação em termos mais tradicionais. A diferença, desta vez, é que o desemprego vai se manter relativamente alto, na faixa de 6,5% por mais algum tempo", afirma Mickey Levy, economista-chefe do Bank of America.
Para Kenneth Rogoff, economista-chefe do FMI (Fundo Monetário Internacional), a retomada atual pode ser considerada "morna", mas consistente.
Rogoff diz que mantém as previsões de crescimento de 2,2% para este ano e de cerca de 3,6% para 2004 feitas pelo Fundo em abril. "Os prognósticos estão de acordo com o que estamos assistindo."
Quem refez recentemente a previsão de crescimento dos EUA foi o presidente do Fed (Federal Reserve, o banco central), Alan Greenspan. A projeção passou de 3,75% para 2,5%. Greenspan sinalizou ainda, no Congresso norte-americano, que poderá reduzir ainda mais a taxa de juros no país, que está em 1% ao ano.
A recuperação "morna" é traduzida por alguns indicadores recentes: aumento de 0,4% nas vendas do setor industrial e de 0,5% nas do varejo em junho.
Nos últimos três trimestres, os EUA mantiveram o mesmo ritmo, com uma taxa média anualizada de crescimento de apenas 1,5%, o que poderia indicar uma estagnação prolongada. Outros indicadores, porém, permitem vislumbrar uma evolução a partir da segunda metade do ano.
Já no primeiro trimestre de 2003, o lucro das 500 maiores empresas dos EUA aumentou 11,7% em relação ao resultado obtido no mesmo período de 2002. Foi o melhor resultado desde o estouro da chamada "bolha de investimentos", em setembro de 2000.
Na Bolsa de Nova York, o índice Dow Jones subiu 21% a partir do início da guerra americana no Iraque e o S&P, das 500 maiores companhias americanas, acumula valorização de 13,4% no ano.
"A não ser que ocorra algum choque externo não previsto, não há razões para acreditarmos em uma deterioração daqui para frente", afirma Vincent Truglia, diretor-gerente da agência de classificação de risco Moody's.
Os resultados positivos do início do ano já começam a se repetir nos balanços das empresas do segundo trimestre, que começaram a ser divulgados agora.
O problema é que boa parte do aumento de lucros foi obtido pelo enxugamento das companhias, com cortes de investimentos e, principalmente, de empregos.
Desde o início da última recessão americana, em março de 2001, as empresas americanas cortaram 2,7% do total de vagas, o equivalente a mais de 2,6 milhões de empregos desde que George W. Bush assumiu a Presidência.
No mesmo período, foram incorporados à força de trabalho americana mais de 3 milhões de novas pessoas -resultando em um total de 9,6 milhões de desempregados atualmente no país.
Para absorver esse contingente, os EUA precisariam crescer pelo menos 4% ao ano pelos próximos anos, o que não deve ocorrer, segundo as previsões mais otimistas, nem neste ano nem em 2004.
"O desemprego é apenas um dos indicadores do todo. O mais importante é sair do ciclo negativo para o positivo", afirma Truglia, da Moody's.
Quem seguiu empregado, porém, viu sua renda aumentar acima da inflação nos últimos 12 meses. Até junho, os salários tiveram um ganho de 3%, em média, contra alta dos preços de 2,1%.
A renda é hoje o principal combustível da recuperação. "Gastos na área de consumo voltaram, e a demanda cresceu de forma consistente nas últimas semanas", afirma Levy, do Bank of America.


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