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"Pacote cambial" frustra exportadores
Jamil Bittar/Reuters
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O ministro Mantega e o presidente do BC, Henrique Meirelles, anunciam mudanças em Brasília |
Empresas poderão deixar no exterior até 30% de suas receitas com exportações, com isenção do pagamento da CPMF
Mantega diz que medidas
"não são para enfraquecer o
real, uma conquista" do país,
e podem ser revogadas se
situação no câmbio mudar
SHEILA D'AMORIM
LEANDRA PERES
SUCURSAL DE BRASÍLIA
Após meses de discussão, o
governo anunciou ontem medidas cambiais mais tímidas do
que as esperadas por exportadores. Elas autorizam que os
exportadores deixem até 30%
dos recursos obtidos com as
vendas externas depositados
no exterior. Os outros 70% deverão ser trazidos ao país em
até 210 dias.
Com a medida, o governo espera reduzir o volume de dólares em circulação, o que poderá
valorizar a moeda. E o dólar
mais forte aumenta a competitividade dos produtos brasileiros. A medida reduzirá ainda o
custo dos exportadores, que
poderão utilizar os recursos no
exterior para pagamento de dívidas sem trazê-los para o país,
como funciona atualmente.
Para empresários e analistas,
as medidas foram tímidas, afetando poucas e grandes empresas e sem muito impacto na taxa de câmbio. Elas entram em
vigor nos próximos dias após
publicação de medida provisória e resoluções do CMN (Conselho Monetário Nacional).
Horas antes de anunciar a
medida, o governo voltou atrás
e decidiu isentar do pagamento
da CPMF o dinheiro que ficar
depositado no exterior. Na prática, a equipe econômica estará
abrindo mão de até R$ 400 milhões por ano em arrecadação
com a CPMF que incidiria sobre essa parcela dos recursos.
As atuais compras de dólares
realizadas pelo BC e pelo Tesouro e a quitação antecipada
de dívida pública externa não
têm sido suficientes para elevar
a cotação do dólar diante da enxurrada de moeda estrangeira
que entra no país fruto de vendas de bens e serviços e do alto
juro que atrai estrangeiros.
Foi justamente por causa da
alta das exportações que o governo decidiu acabar com a exigência de que todas as receitas
com vendas externas sejam
convertidas em reais e trazidas
ao país. "Essas medidas não são
para enfraquecer o real, que é
uma conquista do Brasil, são só
para evitar que ele se valorize
tanto, [para] atenuar essa valorização", disse o ministro Guido Mantega (Fazenda), após a
reunião do CMN que aprovou
as medidas.
O impacto dessa mudança na
taxa de câmbio atual, no entanto, é contestada por especialistas e até mesmo no governo.
A discussão para fechar o pacote de medidas -que incluiu
também a redução da burocracia com a simplificação dos
contratos de câmbio e a regularização de investimentos que
não estavam registrados no
Banco Central- se estendeu
por boa parte da noite da véspera do anúncio. Até as 22h da
terça-feira, a decisão era autorizar que até 100% das receitas
com exportações ficassem no
exterior para pagar dívidas ou
outro compromisso das empresas. Mas, nesse caso, haveria a
cobrança de CPMF.
O problema era a fórmula jurídica para cobrar a contribuição. Depois de muita discussão,
a equipe econômica entendeu
que a própria simplificação do
contrato de câmbio poderia
servir como base para incidência da CPMF. O temor, no entanto, era que, sem isenção do
pagamento da CPMF, os empresários não teriam interesse
em deixar o dinheiro lá fora.
"Se não houvesse desoneração [da CPMF], o exportador
não ia querer ficar com o recurso fora do país. Cheguei à conclusão de que não adiantava fazer uma medida que tivesse
pouca repercussão. O que me
fez mudar de idéia é que, sem
essa desoneração, a medida não
teria eficácia", disse Mantega.
Um levantamento junto ao
empresariado foi repassado ao
ministro pelo secretário de Política Econômica, Júlio Sérgio
Gomes de Almeida, que alertou
sobre o risco de uma medida
inócua. Como não era possível
abrir mão da CPMF sobre todas as exportações -perda de
arrecadação de cerca de R$ 1,2
bilhão por ano-, optou-se pelo
limite de 30%. Mas não será
aceito que o dinheiro fique depositado em paraísos fiscais.
"Começamos com um valor
menor e poderemos elevá-lo se
for o caso. Também poderá ser
revogada. O governo deu mais
liberdade, mas mantém todos
os controles cambiais na mão e
pode usá-los a qualquer momento", afirmou Mantega, explicando que, se no futuro o Brasil tiver falta de dólares, esse benefício pode acabar.
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