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Para analistas, crise está apenas no começo
Preocupação maior é que a tensão saia do mercado financeiro e contamine a economia real dos Estados Unidos
Bancos impõem restrições ao crédito imobiliário, que trava negócios com imóveis; troca de hipoteca barata por cara gera perda de renda
Richard Drew/Associated Press
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Operadores no pregão da Bolsa de NY, que ontem caiu 2,26% |
TONI SCIARRETTA
DA REPORTAGEM LOCAL
Os mercados financeiros viveram ontem mais um soluço
de uma crise que pode ter conseqüências sobre toda a economia americana e mundial. A
chamada crise do subprime (os
empréstimos de alto risco do
setor imobiliário) começa com
uma dúvida sobre o valor correto dos papéis ligados a esses
empréstimos e que fazem parte
do portfólio de grandes fundos
de investimento -ou seja, esses fundos compraram títulos
por um preço muito acima do
que conseguiriam vender hoje.
Como os fundos sofrem fortes pedidos de resgates dos cotistas, vendem outros ativos
para poder honrar as demandas e derrubam os preços de
ações e de papéis de dívida, incluindo os de países emergentes, como o Brasil. Prevendo
que os preços caiam mais, outros investidores também vendem, gerando uma bola de neve
com baixas generalizadas.
Essa dúvida quanto aos preços dos papéis chega com a popularização de um instrumento derivativo chamado CDO (Obrigação Colateralizada de
Dívida, na sigla em inglês), que
fatia o crédito imobiliário já securitizado (transformado em
recebíveis) em vários níveis de
risco e oferece como opção de
aplicação financeira de alto retorno para o investidor, que
agora amarga perdas.
Além da preocupação com o
crédito prime, começa a aparecer um questionamento sobre
o que os bancos e as agências de
rating atribuíram a chancela de
prime (bom pagador). O temor
é que muitos créditos de primeira linha sejam, após uma
avaliação criteriosa, classificados agora como subprime.
"O crédito prime não representa problemas, segue outras
taxas de inadimplência e de
comportamento de pagamento
que diferem do subprime", disse Flavio Serrano, economista-chefe da corretora López León.
Até aí, trata-se de um problema de correção de preços saudável, que o mercado financeiro passa de tempos em tempos.
Para a economia real, os desdobramentos surgem com uma
maior restrição dos bancos na
hora de conceder empréstimo.
O crédito restrito trava os negócios no mercado imobiliário
e pode respingar no preço dos
imóveis. A preocupação é com
um estouro da "bolha imobiliária" a partir de uma eventual
queda nos preços das casas.
"Digo que a bolha está desinflando, e não estourando. O
medo de essa bolha estourar
existe e é isso que vai deixar o
mercado volátil nos próximos
meses", disse Ricardo Amorim,
diretor de Pesquisa Econômica
e Estratégia para a América Latina do banco WestLB.
Para o economista, as pessoas que tiveram aumento de
renda a partir da troca de uma
hipoteca mais cara por uma barata agora estão tendo efeito
contrário e perdendo capacidade de compra. Isso se agrava
pelo aumento dos preços do petróleo e da gasolina, o que reduz
a renda disponível.
"A questão é se a crise será
suficientemente forte para trazer abaixo o resto da economia
mundial. Acho possível, mas
improvável. Isso porque o resto
da economia mundial -China,
Europa e até a América Latina- vem se acelerando, e não
desacelerando. A gente só vai
ter certeza disso daqui a alguns
meses", disse.
Para Marcelo Salomon, economista-chefe do Unibanco, a
crise do subprime afetou todo o
mercado de dívida de maior risco dos EUA. "Cada dia envolve
novos produtos e fundos. Fundos de private equities [participação privada] estão tendo problemas para captar dinheiro.
Ninguém sabe o tamanho real."
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