São Paulo, domingo, 27 de julho de 2008

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Déficit com petróleo já chega a US$ 4,4 bi

Saldo negativo do primeiro semestre já é maior do que o registrado em todo o ano passado e prejudica contas externas do Brasil

País ainda depende de importação de óleo leve para facilitar o refino, o que ajuda a tornar negativa a chamada conta-petróleo

IURI DANTAS
LEANDRA PERES
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

A alta na cotação internacional do petróleo e o crescimento da economia brasileira provocaram um forte impacto na balança comercial de energia do país. Em conseqüência, o primeiro semestre deste ano registrou o maior déficit da chamada conta-petróleo em todo o mandato de Luiz Inácio Lula da Silva -US$ 4,38 bilhões.
O valor ultrapassa os déficits apurados em todos os 12 meses de 2007 (US$ 4,34 bilhões), bem como em todos os anos desde 2002. O montante também prejudica as contas externas do país, uma vez que as importações de máquinas, equipamentos e bens de consumo já vêm crescendo a ritmo maior do que as exportações do país.
Outro fator que prejudica o setor de energia, as compras de gás da Bolívia vêm custando cada vez mais caro para o Brasil. Nos primeiros seis meses deste ano, foi gasto US$ 1,21 bilhão na aquisição do gás natural, quase o dobro dos US$ 647 milhões do primeiro semestre de 2007. O preço do gás também segue a cotação do petróleo no mercado internacional.
O Brasil paga, ainda, uma dívida estrutural: como as reservas nacionais oferecem o óleo pesado, é necessário importar óleo leve correspondente a 20% da demanda interna para facilitar o refino. E o preço influencia bastante, porque o óleo bruto que é exportado pelo Brasil é mais barato do que o óleo leve que o país compra.
O setor espera que as jazidas da camada pré-sal, como Tupi, contenham óleo leve, o que barateia o refino e permite a exportação de volumes maiores.
Apesar dos números, a Petrobras tem uma avaliação positiva e espera encerrar o ano com superávit de US$ 500 milhões em suas operações com o exterior. Até junho, a estatal tinha um déficit de US$ 670 milhões. O déficit brasileiro, calculado pelo Ministério do Desenvolvimento, contempla todas as operações, da Petrobras ou de outra empresa.
Nos cálculos, os técnicos da pasta incluem as exportações de petróleo, derivados e o combustível utilizado para consumo de bordo, como navios, por exemplo. Na importação, o cálculo também leva em conta as compras de gás natural.

Melhor em 2009
Analistas ouvidos pela Folha concordam em que a balança de energia deverá apresentar melhora no ano que vem, se for mantida a programação da Petrobras de colocar cinco novas plataformas em funcionamento, o que eleva a produção interna. Outro fator apontado pela estatal é a redução no consumo de óleo diesel com a adoção da mistura de 3% de biodiesel ao combustível.
"Possivelmente a balança do setor irá se equilibrar ou apresentar pequeno déficit. A quantidade produzida no Brasil deve aumentar. Hoje o problema maior é o preço", afirmou José Augusto de Castro, vice-presidente da AEB (Associação de Comércio Exterior do Brasil).
De fato, a cotação do barril de petróleo do tipo Brent, pesado e produzido no Brasil, vem oscilando fortemente nos últimos meses por questões geopolíticas e maior demanda do combustível. Em janeiro de 2007, o barril custava US$ 56,40 e mais que duplicou de preço, batendo na casa dos US$ 145 no mês passado.
De acordo com o superintendente da Onip (Organização Nacional da Indústria do Petróleo), Alfredo Renault, outro complicador foi a utilização de diesel nas usinas termelétricas no ano passado.
"As alternativas de curto prazo já estão em curso, como o aumento da produção de óleo e de gás natural. A perspectiva de aumento da produção de médio prazo é muito boa", avaliou.


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