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Nos EUA, crise migra para o setor comercial
FERNANDO CANZIAN
DE NOVA YORK
Duas entre cada dez lojas na famosa 5ª Avenida
em Manhattan, entre as
ruas 42 e 49, estão fechadas. Várias delas, desde o
início do ano. Em locais
menos nobres nos bairros
de Queens e Brooklyn, há
ruas com entre 25% e 40%
dos imóveis comerciais
para alugar ou à venda.
A crise do mercado de
imóveis residenciais nos
EUA vem migrando rapidamente para a área comercial. Suas primeiras vítimas são quatro entre os
maiores bancos proporcionalmente mais expostos a esse mercado, Wells
Fargo, US Bancorp, SunTrust e KeyCorp.
Todos apresentaram pesadas perdas nos balanços
do segundo trimestre do
ano por conta de calotes
no pagamento de financiamentos a clientes.
Segundo a Moody's Investors Service, existem
hoje nos EUA o equivalente a US$ 108 bilhões em
imóveis comerciais com
atrasos nos pagamentos.
Na média nacional, o não
pagamento dobrou nos últimos 12 meses, para 4,3%
do total, segundo a Foresight Analytics.
A razão é a mesma que
levou quase 1,5 milhão de
mutuários residenciais a
enfrentar ações de despejo
no primeiro semestre do
ano. Enquanto muitos
mutuários perderam seus
empregos ou parte da renda nesta recessão, donos
de lojas e outros negócios
perdem clientes e receitas
para continuar pagando
aluguéis ou financiamentos imobiliários.
Como resultado, os preços dos imóveis comerciais nos EUA caíram 7,6%
em maio sobre igual mês
do ano passado. A queda
desde o pico da "bolha
imobiliária" nos EUA, em
2008, equivale a 35%.
Bancos mais expostos a
esse mercado já vêm assumindo perdas entre 30% e
40% nos financiamentos
de risco dados a clientes
"subprime", a quem concederam créditos mais caros diante de históricos de
crédito mais frágeis -como aconteceu no mercado
de residências.
Nos balanços dos bancos do segundo trimestre
deste ano, os calotes do setor imobiliário comercial
foram o principal ponto
negativo. Em vários casos,
o banco teve os lucros de
outras áreas suplantados
pelos prejuízos no setor.
Em depoimento no
Congresso nesta semana,
o presidente do Fed (o BC
dos EUA), Ben Bernanke,
disse estar "preocupado
com o crescente nível de
desocupação, queda nos
aluguéis e aumento da inadimplência" no setor de
imóveis comerciais.
Bernanke sugeriu que o
governo poderá criar em
breve uma nova linha de
crédito, a exemplo do que
foi feito no mercado residencial, para ajudar pequenos e médios empresários a renegociar seus pagamentos com os bancos.
Na mesma audiência, o
democrata Christopher
Dodd, presidente do Comitê de Bancos do Senado,
disse que "muitos têm sugerido que o problema
neste setor poderá ser
bem maior do que o ocorrido com as residências". A
atividade de compra, venda, financiamento e locação de imóveis comerciais
nos EUA contribui por ano
com cerca de 13% do PIB.
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