São Paulo, segunda-feira, 27 de julho de 2009

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Nos EUA, crise migra para o setor comercial

FERNANDO CANZIAN
DE NOVA YORK

Duas entre cada dez lojas na famosa 5ª Avenida em Manhattan, entre as ruas 42 e 49, estão fechadas. Várias delas, desde o início do ano. Em locais menos nobres nos bairros de Queens e Brooklyn, há ruas com entre 25% e 40% dos imóveis comerciais para alugar ou à venda.
A crise do mercado de imóveis residenciais nos EUA vem migrando rapidamente para a área comercial. Suas primeiras vítimas são quatro entre os maiores bancos proporcionalmente mais expostos a esse mercado, Wells Fargo, US Bancorp, SunTrust e KeyCorp.
Todos apresentaram pesadas perdas nos balanços do segundo trimestre do ano por conta de calotes no pagamento de financiamentos a clientes.
Segundo a Moody's Investors Service, existem hoje nos EUA o equivalente a US$ 108 bilhões em imóveis comerciais com atrasos nos pagamentos. Na média nacional, o não pagamento dobrou nos últimos 12 meses, para 4,3% do total, segundo a Foresight Analytics.
A razão é a mesma que levou quase 1,5 milhão de mutuários residenciais a enfrentar ações de despejo no primeiro semestre do ano. Enquanto muitos mutuários perderam seus empregos ou parte da renda nesta recessão, donos de lojas e outros negócios perdem clientes e receitas para continuar pagando aluguéis ou financiamentos imobiliários.
Como resultado, os preços dos imóveis comerciais nos EUA caíram 7,6% em maio sobre igual mês do ano passado. A queda desde o pico da "bolha imobiliária" nos EUA, em 2008, equivale a 35%.
Bancos mais expostos a esse mercado já vêm assumindo perdas entre 30% e 40% nos financiamentos de risco dados a clientes "subprime", a quem concederam créditos mais caros diante de históricos de crédito mais frágeis -como aconteceu no mercado de residências.
Nos balanços dos bancos do segundo trimestre deste ano, os calotes do setor imobiliário comercial foram o principal ponto negativo. Em vários casos, o banco teve os lucros de outras áreas suplantados pelos prejuízos no setor.
Em depoimento no Congresso nesta semana, o presidente do Fed (o BC dos EUA), Ben Bernanke, disse estar "preocupado com o crescente nível de desocupação, queda nos aluguéis e aumento da inadimplência" no setor de imóveis comerciais.
Bernanke sugeriu que o governo poderá criar em breve uma nova linha de crédito, a exemplo do que foi feito no mercado residencial, para ajudar pequenos e médios empresários a renegociar seus pagamentos com os bancos.
Na mesma audiência, o democrata Christopher Dodd, presidente do Comitê de Bancos do Senado, disse que "muitos têm sugerido que o problema neste setor poderá ser bem maior do que o ocorrido com as residências". A atividade de compra, venda, financiamento e locação de imóveis comerciais nos EUA contribui por ano com cerca de 13% do PIB.


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