São Paulo, Terça-feira, 27 de Julho de 1999
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POLÍTICA MONETÁRIA
Copom se reúne amanhã e Selic pode cair; descompasso de investidor e BC dificulta projeção
Cauteloso, mercado vê juro de 20,5%

da Reportagem Local

da Sucursal de Brasília

Queda de cerca de 0,5 ponto percentual e manutenção do "viés de baixa" para a taxa de juros. Esse é o cenário esperado pelo mercado financeiro para a reunião do Copom (Comitê de Política Monetária), amanhã.
O Copom é formado pela diretoria do Banco Central. Os juros de mercado (taxa Selic) estão em 21% ao ano hoje.
"O BC deve ser cauteloso. Não houve avanços consideráveis nos ajustes internos e há um quadro externo preocupante", disse Carlos Aírton Biasetto, diretor do Hexabanco.
Os fatores externos mais preocupantes são a instabilidade na Argentina e a possibilidade de aumento na taxa de juros dos EUA.
"Tudo o que o BC tem mostrado e falado, como na projeção de metas de inflação, indica que teremos uma queda de cerca de 0,50 ponto percentual", afirmou Joaquim Paulo Kokudai, diretor de renda fixa do Lloyds Bank.
Manter o "viés de baixa" (mecanismo que permite ao BC abaixar os juros, sem a necessidade de convocar o Copom) seria uma forma de demonstrar compromisso com a redução da taxa.
"O viés é fundamental para manter a tranquilidade, mesmo que ele não seja utilizado", disse Dilson Del Cima, do Banco BBM.
Ele também acredita numa redução para 20,5%. "Desde uma manutenção até uma pequena queda, tudo está dentro do previsto. Uma queda maior seria inoportuna", afirmou.
"O BC deve manter o viés de baixa até para não agravar a situação do mercado", afirmou Biasetto, do Hexabanco.
Na última reunião do Copom, em 23 de junho, houve a manutenção do "viés de baixa", mas o BC não o utilizou.
O descompasso entre a visão do Banco Central e a do mercado sobre a conjuntura econômica faz da decisão sobre os juros uma das mais difíceis.
Pelo diagnóstico do BC, os juros, hoje de 21% ao ano, podem e devem cair. Já o mercado tem cobrado taxas acima das atuais para comprar títulos do governo.
O primeiro argumenta que, por sua nova linha de atuação, o único critério para fixar os juros é a meta de inflação fixada para este ano, de 8%, e, pensando mais a longo prazo, a de 2000, de 6%.
Como não se vê risco de descumprimento das metas (há uma tolerância de dois pontos percentuais para cima ou para baixo), os juros devem cair.
Não há mais motivo, na nova filosofia do BC, para elevar os juros com o objetivo de atrair capital externo. O papel de cobrir os buracos das contas externas cabe agora ao câmbio flutuante, que o país adota desde janeiro.
No entanto, as dúvidas quanto à possibilidade de continuar reduzindo os juros refletem justamente dúvidas quanto ao sistema de metas inflacionárias e ao regime de câmbio flutuante.
Especula-se, por exemplo, se o câmbio é tão flutuante assim. Se as cotações do dólar subirem muito, os importados podem ficar caros a ponto de comprometer o controle da inflação.



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