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LUÍS NASSIF
A Petrobras e o monopólio
Afinal, o que o país e os candidatos à Presidência esperam do sistema Petrobras:
que opere como uma empresa de mercado ou como uma monopolista? O tema não está sendo discutido com a profundidade necessária.
Há dois modelos possíveis para o setor. O anterior era o modelo monopolista, com a Petrobras tendo o monopólio da produção e do refino e os preços
controlados. O atual é o modelo
de mercado, com o fim do monopólio e as empresas brigando
entre si. Qual deles atende melhor o objetivo de prover o país
de energia mais barata? Optou-se pelo segundo caminho, mas
ele atingiu seu objetivo?
A questão é que a abertura
não produziu a competição desejada, a ponto de se exigir o
controle de preços sobre a Petrobras.
Presidente da BR Distribuidora, e um dos pioneiros da implantação de programas de qualidade na área pública, Júlio Bueno tem evitado entrar na
discussão -que considera prerrogativa da diretoria da empresa-mãe. Mas aceita analisar o tema, da ótica de um especialista em questões de desenvolvimento e gestão.
Segundo ele, um viés relevante de política industrial seria
utilizar a Petrobras para subsidiar o gás, a nafta e o diesel. O
fato novo no modelo é que, finalmente, o país será auto-suficiente em petróleo, não dependendo mais das cotações do dólar. A política industrial poderia ser essa: definir um preço,
com um "fee" para a Petrobras
e subsidiar a indústria brasileira. Mas isso só seria factível se se
voltasse ao velho modelo. O que
não pode é manter o modelo
atual e exigir da Petrobras comportamento apenas possível no
modelo antigo.
Os críticos do modelo alegam
que a abertura é questionada
quando os preços internacionais estão elevados, já que o
custo de extração da Petrobras é
alto. E se os preços caírem? Simplesmente se fecham as torneiras internas e se importa, sustenta Bueno.
A falta de competição, segundo Bueno, não foi por culta da
Petrobras. Tudo o que a Petrobras queria é que houvesse importação, diz ele, mas ninguém
se habilita. Exemplo maior dessa dificuldade, Bueno vê na
questão da nafta. Recentemente, houve acordo com centrais
petroquímicas para que importassem diretamente o produto.
Mas a tendência maior é que essas centrais recorram de novo à
Petrobras, para conseguir preços melhores nas negociações.
Quando se abriu o monopólio, não se teve a discussão na
profundidade exigida, diz Bueno. Talvez tenham sido cometidos dois erros. O primeiro, o de
manter o monopólio quando o
país não era auto-suficiente (e
poderia haver competição). O
segundo, o de tirar o monopólio
quando ficou auto-suficiente e,
portanto, poderia ser infenso ao
preço do dólar. Agora, o modelo
tem certo grau de irreversibilidade que tem de ser analisado.
No modelo atual, o governo poderia optar por utilizar os dividendos que recebe da empresa
para praticar política industrial. Mas, nesse modelo aberto,
não há como fugir do foco
atual, de agregar valor à companhia e praticar preços internacionais.
A corporação Petrobras tem
cultura militar, o que é para fazer, se faz. No modelo anterior,
ela tinha 100% do mercado brasileiro, com preço controlado.
Agora, com o modelo aberto,
ela tem 1% do mercado mundial e a meta de agregar valor à
empresa.
Uma eventual opção pelo fechamento não seria posição
corporativista, diz Bueno. Para
os funcionários, a abertura foi
ótima. Melhorou os salários, as
oportunidades de emprego, o
estamento provou e tomou gosto pelo mercado.
A questão a ser discutida é outra, de política pública: a abertura foi melhor para o Brasil? E
não se pode ficar apenas nessa
discussão de tentar controlar os
preços sem repensar o modelo.
E-mail - LNassif@uol.com.br
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