São Paulo, terça-feira, 27 de agosto de 2002

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COLAPSO ARGENTINO

Segundo governo, porém, Fundo prometeu adiar pagamento de US$ 2,8 bi que vencem no dia 9

Para FMI, país ainda não cumpriu exigências

JOÃO SANDRINI
DE BUENOS AIRES

O FMI (Fundo Monetário Internacional) considera que o governo argentino ainda não cumpriu exigências suficientes para começar a negociar um novo acordo, mas já teria prometido adiar por um ano o pagamento da dívida de US$ 2,8 bilhões que vence no dia 9 de setembro com o objetivo de dar mais tempo para o país cumprir essas exigências.
As informações foram divulgadas pelo ministro Roberto Lavagna (Economia), que recebeu ontem a resposta da vice-diretora-gerente do FMI, Anne Krueger, para o esboço de carta de intenções elaborado por ele mesmo e enviado a Washington há cerca de 10 dias.
Em um relatório de quatro capítulos, Krueger também teria prometido pedir ao BID (Banco Interamericano de Desenvolvimento) que libere um empréstimo de US$ 200 milhões já acertado com a Argentina.
Para iniciar as negociações do acordo, Krueger exige a elaboração de um plano mais detalhado para acabar com a fuga de depósitos do "corralito" (nome dado pelos argentinos às restrições aos saques bancários vigentes desde dezembro) por meio de processos judiciais. Essa medida seria uma pré-condição para que, posteriormente, o país acabe também com o próprio "corralito".
O Fundo também pede o reforço da independência do Banco Central e avanços na restruturação do sistema financeiro. Para verificar possíveis avanços, o FMI enviará outra missão ao país nesta semana além daquela que chegou ontem a Buenos Aires.

Contramão
Para Lavagna, as recentes derrotas do governo no Congresso e na Justiça mostram que o país "marcha na contramão" de um acordo com o FMI.
Entre os recentes empecilhos para o acordo, estão duas leis de caráter temporário aprovadas no Congresso há 10 dias que proíbem a correção de empréstimos bancários pela inflação e a desapropriação de bens de devedores bancários que não paguem os compromissos.
Outro problema apontado por Lavagna foi a decisão da Corte Suprema de derrubar a redução de 13% no salário dos servidores públicos e aposentados, estipulada há um ano.
A medida terá um impacto anual de 2 bilhões de pesos nas contas públicas e deve dificultar o cumprimento da meta de superávit primário de 2,5 bilhões de pesos que o país prometeu ao FMI para este ano.
Lavagna não quis comentar as recentes divergências com o presidente do BC, Aldo Pignanelli, sobre uma possível flexibilização do "corralito".
Apesar de ter ameaçado renunciar durante o fim de semana, Pignanelli atendeu ontem a pedido do presidente Eduardo Duhalde para permanecer no cargo. Além disso, o presidente do BC desistiu de viajar a Washington para se reunir com funcionários do FMI, o que, para Lavagna, atrapalharia as negociações.

Indicadores
O governo argentino divulgou ontem uma série de números que mostram a queda na atividade produtiva e no comércio em julho. Segundo o Indec (o IBGE local), a atividade no setor de construção registrou em julho uma queda de 4,4% na comparação com junho e de 37,2% em relação a julho do ano passado.
O organismo também informou que as vendas do supermercados caíram 1,4% na comparação entre junho e julho. A exceção foram as vendas dos shoppings, que cresceram 2,4% no período.
Nos últimos dias, Lavagna tem repetido que a "Argentina se encontrava no quinto subsolo, mas agora já está no quarto". Para o ministro, já haveria sinais de recuperação econômica apesar de o nível de atividade permanecer muito baixo.
Lavagna prometeu ao Fundo Monetário Internacional que o PIB teria uma queda de 11% neste ano, após recuar 16,3% no primeiro trimestre.


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