São Paulo, sexta-feira, 27 de agosto de 2004

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RECEITA ORTODOXA

Copom diz que manutenção da Selic em 16% pode não ser suficiente para o cumprimento das metas de inflação

BC reforça sinais de que pode elevar juros

NEY HAYASHI DA CRUZ
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Pelo segundo mês consecutivo, o Banco Central sinalizou que pode elevar os juros básicos da economia. Desta vez, porém, a autoridade monetária foi mais incisiva, ao afirmar que, com a alta do preço do petróleo, os riscos de um aumento da inflação são maiores do que eram no passado -o que, por sua vez, recomendaria uma atitude "mais ativa da política monetária".
Essa avaliação foi colocada pelo BC na ata da última reunião do Copom (Comitê de Política Monetária), que, na semana passada, decidiu manter os juros em 16% ao ano por mais um mês. A taxa está neste patamar desde abril.
A sinalização vem num momento em que o governo comemora a melhora nos indicadores da economia, com o vislumbre de alta no PIB acima dos 3,5% esperados no começo do ano.
Por outro lado, reafirma a linha do BC durante uma crise política envolvendo sua cúpula -o presidente Henrique Meirelles está sob fogo de diversas denúncias.
Desde o começo do ano passado, logo após a posse do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o BC não promove um aumento dos juros. Em janeiro de 2003, a taxa passou de 25% ao ano para 25,5%. Em fevereiro, foi elevada para 26,5%. Em junho, teve início o processo de redução.
Na reunião do mês passado, de acordo com o documento, "o Copom avaliou que a manutenção da taxa de juros básica nos níveis atuais por um período prolongado seria suficiente para que se concretizasse um cenário de convergência da inflação para a trajetória das metas".
Agora, o BC já diz que a simples manutenção dos juros pode não ser suficiente para fazer com que sejam cumpridas as metas de inflação do governo. Para este ano, a meta é de 5,5%, com margem de tolerância de 2,5 pontos percentuais para cima ou para baixo.
De acordo com as projeções do Banco Central, a inflação, medida pelo IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo), ficará acima dos 5,5% -já acumula alta de 4,42% de janeiro a julho.
Com a recente alta do preço do petróleo, a possibilidade de descumprimento da meta seria ainda maior, o que poderia levar a um aumento dos juros.

Petróleo e pessimismo
"Dois fatores principais fizeram com que esse risco [de aumento da inflação] sofresse alguma elevação", diz o documento. A "exacerbação" desses fatores, nas palavras do Banco Central, "demandaria uma postura mais ativa da política monetária" -ou seja, juros mais altos.
Uma das ameaças citadas é a alta do petróleo, que, de acordo com as projeções do BC, deveria se estabilizar em US$ 35 por barril. Nas últimas semanas, as cotações do produto têm se mantido acima de US$ 40 -ontem, fechou a US$ 43,10 em Nova York.
Diante desse cenário, afirma o Banco Central, "é forçoso reconhecer" que os aumentos observados na cotação do petróleo "poderiam se materializar em um reajuste maior da gasolina em 2004 ou em uma defasagem maior [entre os preços internacionais e os praticados no Brasil] que ficasse por corrigir em 2005". Não são citados os valores esperados para um possível reajuste.
Além disso, o pessimismo do mercado em relação ao cumprimento das metas de inflação deste ano e de 2005 -também influenciada pela alta do preço do petróleo- faz com que o Banco Central diga ser necessária uma "postura mais ativa" na condução da taxa de juros. Pesquisa feita pelo BC com analistas mostra que a expectativa é que a alta dos preços fique em 7,19% neste ano e em 5,5% em 2005 -a meta do ano que vem é de 4,5%, também com margem de 2,5 pontos.
Apesar de sinalizar um aumento dos juros, o BC volta a insistir no argumento de que uma elevação da taxa não prejudicaria a recuperação da economia. O documento afirma que é mantendo a inflação sob controle que o BC "dá sua contribuição para o crescimento sustentado" do país.
A ata do Copom influiu na Bolsa de Valores de São Paulo, que fechou em baixa de 2,07%.


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