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RECEITA ORTODOXA
Copom diz que manutenção da Selic em 16% pode não ser suficiente para o cumprimento das metas de inflação
BC reforça sinais de que pode elevar juros
NEY HAYASHI DA CRUZ
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Pelo segundo mês consecutivo,
o Banco Central sinalizou que pode elevar os juros básicos da economia. Desta vez, porém, a autoridade monetária foi mais incisiva, ao afirmar que, com a alta do
preço do petróleo, os riscos de um
aumento da inflação são maiores
do que eram no passado -o que,
por sua vez, recomendaria uma
atitude "mais ativa da política
monetária".
Essa avaliação foi colocada pelo
BC na ata da última reunião do
Copom (Comitê de Política Monetária), que, na semana passada,
decidiu manter os juros em 16%
ao ano por mais um mês. A taxa
está neste patamar desde abril.
A sinalização vem num momento em que o governo comemora a melhora nos indicadores
da economia, com o vislumbre de
alta no PIB acima dos 3,5% esperados no começo do ano.
Por outro lado, reafirma a linha
do BC durante uma crise política
envolvendo sua cúpula -o presidente Henrique Meirelles está sob
fogo de diversas denúncias.
Desde o começo do ano passado, logo após a posse do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o BC
não promove um aumento dos
juros. Em janeiro de 2003, a taxa
passou de 25% ao ano para 25,5%.
Em fevereiro, foi elevada para
26,5%. Em junho, teve início o
processo de redução.
Na reunião do mês passado, de
acordo com o documento, "o Copom avaliou que a manutenção
da taxa de juros básica nos níveis
atuais por um período prolongado seria suficiente para que se
concretizasse um cenário de convergência da inflação para a trajetória das metas".
Agora, o BC já diz que a simples
manutenção dos juros pode não
ser suficiente para fazer com que
sejam cumpridas as metas de inflação do governo. Para este ano, a
meta é de 5,5%, com margem de
tolerância de 2,5 pontos percentuais para cima ou para baixo.
De acordo com as projeções do
Banco Central, a inflação, medida
pelo IPCA (Índice de Preços ao
Consumidor Amplo), ficará acima dos 5,5% -já acumula alta de
4,42% de janeiro a julho.
Com a recente alta do preço do
petróleo, a possibilidade de descumprimento da meta seria ainda
maior, o que poderia levar a um
aumento dos juros.
Petróleo e pessimismo
"Dois fatores principais fizeram
com que esse risco [de aumento
da inflação] sofresse alguma elevação", diz o documento. A "exacerbação" desses fatores, nas palavras do Banco Central, "demandaria uma postura mais ativa da
política monetária" -ou seja, juros mais altos.
Uma das ameaças citadas é a alta do petróleo, que, de acordo
com as projeções do BC, deveria
se estabilizar em US$ 35 por barril. Nas últimas semanas, as cotações do produto têm se mantido
acima de US$ 40 -ontem, fechou
a US$ 43,10 em Nova York.
Diante desse cenário, afirma o
Banco Central, "é forçoso reconhecer" que os aumentos observados na cotação do petróleo "poderiam se materializar em um
reajuste maior da gasolina em
2004 ou em uma defasagem
maior [entre os preços internacionais e os praticados no Brasil]
que ficasse por corrigir em 2005".
Não são citados os valores esperados para um possível reajuste.
Além disso, o pessimismo do
mercado em relação ao cumprimento das metas de inflação deste
ano e de 2005 -também influenciada pela alta do preço do petróleo- faz com que o Banco Central diga ser necessária uma "postura mais ativa" na condução da
taxa de juros. Pesquisa feita pelo
BC com analistas mostra que a expectativa é que a alta dos preços fique em 7,19% neste ano e em
5,5% em 2005 -a meta do ano
que vem é de 4,5%, também com
margem de 2,5 pontos.
Apesar de sinalizar um aumento dos juros, o BC volta a insistir
no argumento de que uma elevação da taxa não prejudicaria a recuperação da economia. O documento afirma que é mantendo a
inflação sob controle que o BC
"dá sua contribuição para o crescimento sustentado" do país.
A ata do Copom influiu na Bolsa
de Valores de São Paulo, que fechou em baixa de 2,07%.
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