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Estatal eleva repasse e ajuda a financiar gasto do governo
Lalo de Almeida - 23.set.03/Folha Imagem
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Refinaria da Petrobras, que já repassou R$ 2,3 bi ao Tesouro |
Tesouro contabilizará R$ 8,4 bi em dividendos; em todo o ano passado, foram R$ 4,8 bi
Lucro recorde das empresas
superou as expectativas
do próprio Planalto, que
esperava contar com menos
de R$ 5 bilhões neste ano
JULIANNA SOFIA
SHEILA D'AMORIM
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
A expansão de gastos públicos neste ano eleitoral tem sido
financiada, em parte, pelos lucros recordes das estatais federais. Essas empresas têm se
mostrado uma fonte importante de recursos para a União tentar equilibrar suas receitas e
despesas. No final deste mês, o
Tesouro Nacional contabilizará R$ 8,4 bilhões em repasses
de dividendos das estatais. Esse
valor já supera em 75% o volume registrado em todo o ano
passado -R$ 4,8 bilhões.
O montante corresponde a
quase 40% do déficit da Previdência até julho, que foi de
R$ 22,4 bilhões. Ou seja, se não
tivesse ocorrido o repasse das
estatais, o superávit do governo
central (que também inclui o
Banco Central) poderia ter sido
menor do que os R$ 41,4 bilhões efetivamente registrados.
Só neste mês, quando os analistas de mercado avaliam que o
impacto da alta das despesas
por conta das eleições se refletirá mais fortemente nas contas públicas, o Tesouro contará
com ganho extra de quase R$ 2
bilhões, sendo R$ 1,1 bilhão do
Banco do Brasil e, ao menos,
R$ 787 milhões do BNDES
(Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social).
As instituições financeiras,
que incluem ainda a Caixa Econômica, o Basa (Banco da Amazônia) e o BNB (Banco do Nordeste), têm sido a principal fonte dessas receitas adicionais do
governo federal. Juntos, BB,
BNDES e Caixa Econômica Federal já depositaram na conta
do Tesouro R$ 3,464 bilhões
até o mês passado.
Inicialmente, o governo esperava repasse de só R$ 4,956
bilhões ao longo de 2006, incluindo os ganhos previstos para instituições financeiras e
empresas não-financeiras, como Petrobras, Eletrobrás e IRB
(Instituto de Resseguros do
Brasil). O valor foi estimado no
Orçamento deste ano.
"Ninguém esperava esses resultados das estatais. O crescente aumento nos repasses reflete uma política do Tesouro,
que quer maximizar os dividendos, mas esse não pode ser
um processo autofágico", argumenta o secretário-adjunto do
Tesouro Tarcísio Godoy, enfatizando que tudo está sendo feito dentro das regras. "Os dividendos estão absolutamente
compatíveis com a capacidade
das empresas. Ninguém está
pagando acima do que pode."
A Caixa Econômica, no entanto, deverá transferir para o
Tesouro mais do que tradicionalmente vinha fazendo. Segundo João Dornelles, vice-presidente de controladoria e
finanças, a instituição adiantou
para o Tesouro parte do lucro
que projetava registrar no primeiro semestre em duas parcelas, uma em abril e outra em
maio. O resultado no período
foi positivo em R$ 1,3 bilhão e a
expectativa da cúpula do banco
é encerrar 2006 com um lucro
líquido de R$ 2,4 bilhões.
Segundo os cálculos de Dornelles, se fosse seguir o padrão
dos últimos anos, a Caixa repassaria ao Tesouro, com base
nesse resultado, dividendos no
valor de R$ 840 milhões ao longo de 2006. No entanto o total
repassado até agora já supera
essa quantia (R$ 1,1 bilhão).
"O valor do dividendo é fechado com o Tesouro e, nos últimos anos, seguiu o padrão de
35% do lucro", disse. Segundo
ele, no entanto, esse valor pode
ser ajustado para 40%, por
exemplo. "O controlador nos
pediu e pudemos dar. O que podemos fazer é contribuir."
No caso do Banco do Brasil, a
distribuição dos resultados do
primeiro semestre só foi anunciada depois de fechado o balanço da instituição neste mês.
Já o BNDES, que, segundo
sua assessoria, não faria antecipação desses repasses, negociou com o Tesouro a distribuição de parte do lucro de R$ 3,3
bilhões registrado nos seis primeiros meses, segundo a Folha
apurou. Com isso, a transferência acertada será de, no mínimo, R$ 787 milhões.
Petrobras
Entre as estatais federais
não-financeiras, o maior destaque é a Petrobras, que, neste
ano, já repassou para o Tesouro
dividendos de R$ 2,341 bilhões.
Diferentemente dos bancos,
porém, essas empresas fazem
distribuição de lucros só uma
vez por ano, e, com isso, os repasses de 2006 ainda se referem ao lucro do ano passado.
Somando as transferências
feitas também pela Eletrobrás
(R$ 137 milhões) e pelo IRB
(R$ 130 milhões), o valor acumulado é de R$ 2,608 bilhões.
Ainda faltam incluir na conta
R$ 192 milhões, que foram as
contribuições das demais empresas, como Correios e Serpro.
Apesar de contribuírem para
engordar o caixa do Tesouro, o
efeito gerado pela receita dessas empresas não-financeiras
acaba sendo anulado na contabilidade do ajuste fiscal do setor público como um todo e que
inclui União, estatais, Estados e
municípios. É porque, nesse caso, a distribuição de lucro para
os demais acionistas é registrada como um gasto público.
"Com o lucro que a Petrobras
distribuiu, o setor público teve
um gasto a mais de R$ 1,6 bilhão", estima Godoy, explicando que os recursos foram para
pagar investidores que compraram ações da empresa. Para
ele, o Tesouro não deverá receber neste ano dividendos além
do previsto até agora. "Se tiver,
será algo marginal."
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