São Paulo, quarta-feira, 27 de agosto de 2008

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Inflação menor isola Meirelles em conselho econômico

Críticos do BC dizem em reunião que não há excesso de demanda na economia

Para Delfim e Mantega, inflação vinha sendo puxada pela alta das commodities, que agora recuam e aliviam pressão


VALDO CRUZ
FERNANDO RODRIGUES
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, ficou praticamente isolado ontem durante reunião do conselho econômico informal do presidente Lula, quando alguns dos presentes fizeram o diagnóstico de que não há excesso de demanda nem forte pressão salarial na economia brasileira.
Esses dois fatores têm sido utilizados pelo Banco Central para justificar o movimento de alta dos juros iniciado desde que a inflação apresentou sinal de elevação, no início do ano. Em sua última reunião, o BC subiu os juros em 0,75 ponto percentual, para 13%.
O economista Delfim Netto, ex-deputado do PMDB-SP, foi quem mais tratou do tema durante a reunião do conselho no Planalto. Crítico dos juros altos, Delfim fez uma avaliação de que a inflação brasileira estava sendo puxada pelo alta do preço internacional das commodities, e não por excesso de demanda interna.
Tanto que, segundo ele, a inflação deu sinais de recuo tão logo os preços internacionais começaram a cair. O ex-deputado destacou também não enxergar uma pressão sobre os preços a partir dos aumentos salariais, já que eles estariam subindo abaixo do crescimento da produtividade registrada na economia brasileira.
As críticas de Delfim Netto na reunião com Lula endossam o diagnóstico do ministro Guido Mantega (Fazenda), que sempre atribuiu o maior peso da inflação ao choque externo.
Outro integrante do conselho que tem posição semelhante à de Mantega é o economista Luiz Gonzaga Belluzzo. Para engrossar o grupo dos que têm posição mais crítica em relação ao BC, ontem o conselho contou com a participação do representante do Brasil no FMI (Fundo Monetário Internacional), Paulo Nogueira Batista Jr.
Segundo relato de presentes, não houve clima de críticas ostensivas ao BC, mas a apresentação de diagnóstico que contraria as teses da política monetária, que devem embasar nova alta dos juros na próxima reunião do Copom (Comitê Política Monetária), em setembro.
Há uma expectativa no Planalto de que o BC poderia pelo menos reduzir a dose da alta de juros, evitando repetir a alta de 0,75 ponto percentual.

Aperto fiscal
Presente à reunião, o senador Aloizio Mercadante (PT-SP) disse que, apesar dos diagnósticos divergentes, é preciso ter uma sintonia entre BC e Fazenda, acrescentando que, se houver nova alta das commodities, como prevêem alguns analistas, o governo deveria avaliar a possibilidade de fazer um novo aperto fiscal (provavelmente corte de gastos) para aliviar a política monetária.
Em sua fala no encontro, Mantega citou, por sinal, que "o pior já passou" na inflação, ressaltando que os preços dos alimentos começaram a recuar com a queda das commodities.
Durante as discussões sobre excesso de demanda, Meirelles limitou-se a ouvir. Mais adiante, como tem conversado com vários colegas de BCs de outros países, fez uma avaliação da conjuntura internacional. Afirmou ainda existir uma variável de grande incerteza sobre o ajuste na economia dos EUA após as eleições presidenciais.
Meirelles acrescentou que a desaceleração econômica de EUA, Europa e Japão continuará a ter impacto sobre as demais economias mundiais. Diante dessa avaliação, Lula ressaltou que sua equipe precisa evitar tomar medidas além da dose para não prejudicar o crescimento brasileiro.


Texto Anterior: Vinicius Torres Freire: Lá vamos nós outra vez
Próximo Texto: Meta de superávit para o ano é cumprida em 7 meses
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.