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Meta fiscal, já reduzida, pode não ser atingida
De janeiro a julho, governo realizou só 52% da meta, contra ao menos 75% nos anos anteriores da administração petista
Final do ano, com 13º de servidores, costuma ser mais difícil para realizar economia; artifícios podem reduzir mais o rigor fiscal
GUSTAVO PATU
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Dados divulgados ontem pelo Tesouro Nacional indicam
que, pela primeira vez em dez
anos, o governo federal corre o
risco de não cumprir suas metas no programa de ajuste fiscal
-já reduzidas, quatro meses
atrás, em razão dos efeitos da
crise econômica global.
Em julho, a arrecadação de
impostos superou em R$ 1,4 bilhão as despesas com pessoal,
aposentados, programas sociais, investimentos e custeio
administrativo, mas esse superavit -que corresponde à economia necessária para o abatimento da dívida pública- foi
pequeno diante dos objetivos
fixados para o ano.
Nos primeiros sete meses do
ano, o superavit, chamado de
primário por não considerar as
despesas financeiras do governo, somou R$ 22,4 bilhões, ou
52,5% da meta anual de R$ 42,7
bilhões a ser atingida, em conjunto, por Tesouro Nacional,
Previdência Social e Banco
Central. A experiência dos seis
anos anteriores do governo Lula mostra que, nesse período,
sempre se cumpriu algo entre
75% e 85% do resultado anual.
Entre o saldo conseguido e o
que seria necessário para manter o desempenho dos últimos
anos, há uma diferença suficiente para bancar o programa
Bolsa Família por um ano.
Os humores do calendário
são essenciais para o cumprimento das metas -e os primeiros meses do ano são, justamente, os mais propícios para
acumular superavits. No segundo semestre crescem as
despesas com obras de infraestrutura, como as do PAC (Programa de Aceleração do Crescimento), e em dezembro há deficit devido ao 13º salário dos
servidores públicos.
Outros sinais demonstram
como a queda das receitas e a
expansão das despesas distanciaram o governo de suas metas, caso inédito desde que, por
imposição do FMI, a política de
superavits primários foi iniciada em 1999.
Pela primeira vez em 2009, o
saldo acumulado nos últimos
12 meses ficou abaixo do objetivo anual. Se o ano
fiscal tivesse começado em
agosto de 2008 e terminado em
julho, teriam faltado R$ 5,5 bilhões -todo o orçamento do
Congresso Nacional- para
controlar a alta da dívida federal. Mais: o dado implica dizer
que, neste e nos próximos quatro meses, será preciso obter
um superavit superior ao do
mesmo período de 2008, quando a arrecadação ainda batia recordes e os resultados fiscais
foram os maiores da história
documentada do país.
Brechas
Um eventual descumprimento da meta, no entanto, não
deverá trazer complicações legais para o governo. A própria
legislação que fixa a meta -e
previa originalmente um superavit de R$ 67,9 bilhões neste
ano- abre brechas capazes de
facilitar o trabalho do governo.
A principal delas é a possibilidade de descontar da meta as
despesas com obras prioritárias que representam dois terços do PAC. O governo propôs
ao Congresso, aliás, estender a
regra a todas as obras do programa, o que reduziria o aperto
fiscal necessário em até R$ 21,9
bilhões.
Apesar da tendência, o secretário do Tesouro, Arno Augustin, reafirmou o propósito de
atingir a meta do ano sem recorrer a artifícios legais. Daqui
para a frente, argumentou, a recuperação da economia elevará
as receitas, e despesas extraordinárias adotadas em razão da
crise não se repetirão.
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