São Paulo, quinta-feira, 27 de agosto de 2009

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

O texto abaixo contém um Erramos, clique aqui para conferir a correção na versão eletrônica da Folha de S.Paulo.

Inadimplência afeta mais banco privado

Na crise, volume total de empréstimos em atraso cresceu R$ 24 bi, dos quais R$ 18 bi (75%) foram registrados por instituições privadas

Menor nível de calotes em bancos públicos reflete sua maior atuação em linhas de crédito direcionadas, em que os atrasos são menores

NEY HAYASHI DA CRUZ
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Bancos privados responderam por 75% do aumento da inadimplência ocorrida no sistema financeiro desde setembro do ano passado, quando teve início a fase mais aguda da crise. Segundo dados do Banco Central, nos últimos dez meses o total de empréstimos com pagamentos atrasados por mais de 180 dias subiu R$ 24 bilhões, sendo que, desse valor, R$ 18 bilhões estão na carteira de instituições privadas e R$ 6 bilhões na das públicas.
Nesse mesmo período, a carteira de crédito mantida pelos bancos privados correspondeu por 63% do total disponível no país -ou seja, o aumento na inadimplência sofrida por esse segmento foi superior ao seu peso no mercado de financiamentos como um todo.
Segundo técnicos do Banco Central, o menor nível de calotes em empréstimos concedidos pelos bancos públicos reflete a maior atuação que esse segmento tem nos chamados créditos direcionados, operações em que as taxas de juros são controladas pelo governo e onde os atrasos nos pagamentos costumam ser menores.
É o caso, por exemplo, dos empréstimos habitacionais, operados principalmente pela Caixa Econômica Federal, e pelos financiamentos a empresas concedidos pelo BNDES (Bando Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social).
O aumento ocorrido na inadimplência nos últimos meses, portanto, reflete os calotes registrados nos demais empréstimos, como o crédito pessoal, o cheque especial e o desconto de duplicatas, entre vários outros, que compõem uma parcela maior dos bancos privados.

Trajetória de alta
Números do BC mostram que, no mês passado, os atrasos superiores a 90 dias nos pagamentos desses financiamentos comerciais atingiam 5,9% da carteira total dos bancos -tanto públicos quanto privados-, o maior nível registrado desde julho de 2000, quando começa essa série estatística. Em setembro do ano passado, essa proporção estava em 4%. A trajetória de alta tem sido puxada pelos calotes nos financiamentos a pessoas jurídicas, que ainda enfrentam dificuldades para encontrar crédito no mercado.
Para Rubens Sardenberg, economista-chefe da Febraban (Federação Brasileira dos Bancos), a baixa taxa de inadimplência do BNDES é um dos fatores que mais explicam o menor índice de atrasos nas operações de bancos públicos. Esse comportamento, diz ele, é consequência dos grandes volumes de recursos destinados pelo banco federal a grandes empresas, que normalmente têm baixo risco de calote.
"Na verdade, o nicho de atuação de cada banco é mais determinante da inadimplência do que o tipo de controlador", afirma. O economista ressalta que o nível de atraso é maior nos financiamentos a pessoas físicas, e que, portanto, bancos que atuem nesse segmento costumam ter taxas de inadimplência mais elevadas, independentemente de serem do setor público ou privado.
Mesmo com a inadimplência em crescimento, o volume de crédito disponível do país tem mantido uma tendência de expansão. No mês passado, o total de empréstimos concedidos pelas instituições financeiras somou R$ 1,31 bilhão, valor que corresponde a 45% do PIB (Produto Interno Bruto).
O Banco Central esperava que essa relação só fosse chegar a 45% no final do ano, e ontem elevou essa projeção para 47%. A alta ocorrida no mês passado, porém, foi muito influenciada por um empréstimo de R$ 25 bilhões concedido pelo BNDES à Petrobras.


Texto Anterior: Vinicius Torres Freire: BNDES e Petrobras levam o crédito
Próximo Texto: Taxa média de juro bancário cai para 36%
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.