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INDÚSTRIA
Presidente eleito da Fiesp toma posse hoje e diz que planeja mobilizar grupo para defender investimentos e empregos
Skaf quer autoridade produtiva no país
GUILHERME BARROS
EDITOR DO PAINEL S.A.
O empresário Paulo Skaf, 49, toma posse hoje, às 16h, em reunião
fechada da presidência da Fiesp
(Federação das Indústrias do Estado de São Paulo).
Depois de uma campanha concorrida que acabou rachando a liderança industrial paulista, há sinais bastante fortes de entendimento entre Skaf e o novo presidente do Ciesp (Centro das Indústrias do Estado de São Paulo),
Claudio Vaz.
O 14º andar, por exemplo, onde
ficava a sala de Horacio Lafer Piva, não deve ser ocupado por nenhum dos dois. "O presidente da
Fiesp é que vai fazer a sala onde
ele estiver, e não a sala que vai fazer o presidente da Fiesp", diz
Paulo Skaf. Nesta entrevista, Skaf
defendeu a instituição da figura
do que ele chamou de "autoridade produtiva", que significa uma
mobilização da sociedade pró-desenvolvimentismo. Segundo ele,
só quem apita no Brasil é autoridade monetária.
Folha - O sr. tem falado muito em
autoridade produtiva. O que significa exatamente isso?
Paulo Skaf - Eu tenho ouvido falar muito no Brasil em autoridade
monetária. O Banco Central do
Brasil segue o modelo europeu,
onde a preocupação é com a moeda. Diferentemente do Banco
Central americano que, além da
moeda, pensa também na questão do emprego. Cabe ao Banco
Central defender a moeda. Cabe à
autoridade monetária defender a
moeda. Não há nada de errado
nisso. O que há de errado é que só
temos essa autoridade no país. O
que a gente sente falta são daqueles que deveriam estar defendendo o investimento e o emprego. A
autoridade produtiva seria a figura de uma união de entidades. A
Fiesp deverá ter e terá essa preocupação em grandes parcerias,
por exemplo com a Confederação
Nacional da Indústria, além da
agricultura, do comércio, deputados, senadores etc. Só assim a
produção passará a ser ouvida.
Folha - E como se materializaria a
autoridade produtiva?
Skaf - Quando nós conversamos
com o presidente Lula sobre aumentar o Conselho Monetário
Nacional e ter uma cadeira para a
indústria, uma cadeira para os
trabalhadores, seria uma forma
de criar maneiras para os atores
da produção serem ouvidos. Agora, essa é uma atitude que, por si
só, não resolve, mas é um passo. O
importante serão as parcerias, e
dessa união vai se constituir uma
voz forte da produção. E aí, de forma natural, se cria no país a autoridade produtiva. A produção
passa a ser ouvida. Então, teremos
aquele grupo de técnicos do Banco Central, que tem a missão de
proteger a moeda, mas teremos
também grandes e fortes grupos
que defender o investimento, o
crescimento sustentado, os investimentos na infra-estrutura e a geração de empregos. Será isso que
a gente pretende priorizar. Uma
Fiesp para fora, uma Fiesp em
busca de resultados.
Folha - O que teria acontecido se
a figura da autoridade produtiva já
existisse.
Skaf - Certamente, se nós tivéssemos uma autoridade produtiva,
não teríamos esse histórico de 20
anos sem crescimento. Esses 20
anos em que a carga tributária
praticamente dobrou. A política
de juros também teria sido mais
cautelosa. A verdade é que se conseguiu, depois de todos esses anos
de aumentos consecutivos de impostos, aprovar leis que possibilitaram um aumento de arrecadação neste ano. Isso mostra a fraqueza daqueles que defendem a
produção. O poder da produção
sempre foi muito fraco. Não teve
poder no sentido de provocar e
estimular investimentos, em
áreas, como o caso da infra-estrutura. Há necessidade de ter essa figura da autoridade produtiva para poder tirar as pedras do caminho de quem produz. Nós temos
de estar muito próximos aos poderes constituídos, no sentido de
criar parcerias para que a gente
possa ser ouvido.
Folha - Na semana passada, o governo anunciou algumas medidas
de incentivo fiscal, denominado
"Invista Já". O que o sr. achou?
Skaf - Trata-se de uma medida
que desonera um pouco o investimento. Mas quando a gente fala
em desonerar o investimento, é
desonerar mesmo. É, quando você comprar uma máquina, evitar
ter de pagar qualquer imposto.
Não é a realidade hoje. O ideal seria mesmo você poder comprar
uma máquina com crédito de longo prazo e juros acessíveis.
Folha - Que relação o sr. pretende
ter com o governo Lula?
Skaf - Eu pretendo ter uma relação boa com todo mundo, seja
com o governo Lula, seja com o
governo Geraldo Alkmin, seja
com o Senado, com a Câmara,
com a Assembléia Legislativa de
São Paulo e com todas as entidades de classe que representem outros setores produtivos. Na minha
vida, eu sempre consegui bons resultados na articulação. Minha
experiência está mais nessa direção. Não significa que, quando foi
necessário algum enfrentamento,
eu deixei de ter. Pelo contrário.
Folha - E sua relação com o Ciesp,
com o Claudio Vaz, no Ciesp?
Skaf - Existem interesses maiores. Os interesses maiores são os
interesses da indústria.
Folha - O sr. vai desistir do Ciesp?
Skaf - O assunto do Ciesp não é
uma questão de eu desistir ou não
desistir. Houve uma eleição e o resultado. No dia seguinte, minha
preocupação virou totalmente a
Fiesp, como presidente eleito.
Folha - O sr. tem mantido contatos com Vaz ?
Skaf - Tenho tido contato, sim.
Folha - Como é que está? Vocês
chegaram a um denominador comum?
Skaf - Lógico. Há a necessidade
de um denominador comum. O
importante é haver uma relação
de respeito e de cooperação. São
missões distintas, e nós vamos
procurar cada um cumprir a sua.
Folha - E o fato de o sr. não ocupar
o 14º andar, o da presidência da
Fiesp/Ciesp ?
Skaf - Haverá entendimento.
Não há nenhuma dificuldade. Isso é coisa muito pequena. Nós
não podemos discutir o assunto
de uma sala, isso é uma bobagem.
O presidente da Fiesp é que vai fazer a sala onde ele estiver, e não a
sala vai fazer o presidente.
Folha - O sr. pretende ir muito a
Brasília?
Skaf - Eu pretendo ir todas as semanas. No mínimo, um dia por
semana estarei em Brasília.
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