São Paulo, segunda-feira, 27 de setembro de 2004

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INDÚSTRIA

Presidente eleito da Fiesp toma posse hoje e diz que planeja mobilizar grupo para defender investimentos e empregos

Skaf quer autoridade produtiva no país

GUILHERME BARROS
EDITOR DO PAINEL S.A.

O empresário Paulo Skaf, 49, toma posse hoje, às 16h, em reunião fechada da presidência da Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo).
Depois de uma campanha concorrida que acabou rachando a liderança industrial paulista, há sinais bastante fortes de entendimento entre Skaf e o novo presidente do Ciesp (Centro das Indústrias do Estado de São Paulo), Claudio Vaz.
O 14º andar, por exemplo, onde ficava a sala de Horacio Lafer Piva, não deve ser ocupado por nenhum dos dois. "O presidente da Fiesp é que vai fazer a sala onde ele estiver, e não a sala que vai fazer o presidente da Fiesp", diz Paulo Skaf. Nesta entrevista, Skaf defendeu a instituição da figura do que ele chamou de "autoridade produtiva", que significa uma mobilização da sociedade pró-desenvolvimentismo. Segundo ele, só quem apita no Brasil é autoridade monetária.
 

Folha - O sr. tem falado muito em autoridade produtiva. O que significa exatamente isso?
Paulo Skaf -
Eu tenho ouvido falar muito no Brasil em autoridade monetária. O Banco Central do Brasil segue o modelo europeu, onde a preocupação é com a moeda. Diferentemente do Banco Central americano que, além da moeda, pensa também na questão do emprego. Cabe ao Banco Central defender a moeda. Cabe à autoridade monetária defender a moeda. Não há nada de errado nisso. O que há de errado é que só temos essa autoridade no país. O que a gente sente falta são daqueles que deveriam estar defendendo o investimento e o emprego. A autoridade produtiva seria a figura de uma união de entidades. A Fiesp deverá ter e terá essa preocupação em grandes parcerias, por exemplo com a Confederação Nacional da Indústria, além da agricultura, do comércio, deputados, senadores etc. Só assim a produção passará a ser ouvida.

Folha - E como se materializaria a autoridade produtiva?
Skaf -
Quando nós conversamos com o presidente Lula sobre aumentar o Conselho Monetário Nacional e ter uma cadeira para a indústria, uma cadeira para os trabalhadores, seria uma forma de criar maneiras para os atores da produção serem ouvidos. Agora, essa é uma atitude que, por si só, não resolve, mas é um passo. O importante serão as parcerias, e dessa união vai se constituir uma voz forte da produção. E aí, de forma natural, se cria no país a autoridade produtiva. A produção passa a ser ouvida. Então, teremos aquele grupo de técnicos do Banco Central, que tem a missão de proteger a moeda, mas teremos também grandes e fortes grupos que defender o investimento, o crescimento sustentado, os investimentos na infra-estrutura e a geração de empregos. Será isso que a gente pretende priorizar. Uma Fiesp para fora, uma Fiesp em busca de resultados.

Folha - O que teria acontecido se a figura da autoridade produtiva já existisse.
Skaf -
Certamente, se nós tivéssemos uma autoridade produtiva, não teríamos esse histórico de 20 anos sem crescimento. Esses 20 anos em que a carga tributária praticamente dobrou. A política de juros também teria sido mais cautelosa. A verdade é que se conseguiu, depois de todos esses anos de aumentos consecutivos de impostos, aprovar leis que possibilitaram um aumento de arrecadação neste ano. Isso mostra a fraqueza daqueles que defendem a produção. O poder da produção sempre foi muito fraco. Não teve poder no sentido de provocar e estimular investimentos, em áreas, como o caso da infra-estrutura. Há necessidade de ter essa figura da autoridade produtiva para poder tirar as pedras do caminho de quem produz. Nós temos de estar muito próximos aos poderes constituídos, no sentido de criar parcerias para que a gente possa ser ouvido.

Folha - Na semana passada, o governo anunciou algumas medidas de incentivo fiscal, denominado "Invista Já". O que o sr. achou?
Skaf -
Trata-se de uma medida que desonera um pouco o investimento. Mas quando a gente fala em desonerar o investimento, é desonerar mesmo. É, quando você comprar uma máquina, evitar ter de pagar qualquer imposto. Não é a realidade hoje. O ideal seria mesmo você poder comprar uma máquina com crédito de longo prazo e juros acessíveis.

Folha - Que relação o sr. pretende ter com o governo Lula?
Skaf -
Eu pretendo ter uma relação boa com todo mundo, seja com o governo Lula, seja com o governo Geraldo Alkmin, seja com o Senado, com a Câmara, com a Assembléia Legislativa de São Paulo e com todas as entidades de classe que representem outros setores produtivos. Na minha vida, eu sempre consegui bons resultados na articulação. Minha experiência está mais nessa direção. Não significa que, quando foi necessário algum enfrentamento, eu deixei de ter. Pelo contrário.

Folha - E sua relação com o Ciesp, com o Claudio Vaz, no Ciesp?
Skaf -
Existem interesses maiores. Os interesses maiores são os interesses da indústria.

Folha - O sr. vai desistir do Ciesp?
Skaf -
O assunto do Ciesp não é uma questão de eu desistir ou não desistir. Houve uma eleição e o resultado. No dia seguinte, minha preocupação virou totalmente a Fiesp, como presidente eleito.

Folha - O sr. tem mantido contatos com Vaz ?
Skaf -
Tenho tido contato, sim.

Folha - Como é que está? Vocês chegaram a um denominador comum?
Skaf -
Lógico. Há a necessidade de um denominador comum. O importante é haver uma relação de respeito e de cooperação. São missões distintas, e nós vamos procurar cada um cumprir a sua.

Folha - E o fato de o sr. não ocupar o 14º andar, o da presidência da Fiesp/Ciesp ?
Skaf -
Haverá entendimento. Não há nenhuma dificuldade. Isso é coisa muito pequena. Nós não podemos discutir o assunto de uma sala, isso é uma bobagem. O presidente da Fiesp é que vai fazer a sala onde ele estiver, e não a sala vai fazer o presidente.

Folha - O sr. pretende ir muito a Brasília?
Skaf -
Eu pretendo ir todas as semanas. No mínimo, um dia por semana estarei em Brasília.


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