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VINICIUS TORRES FREIRE
Um candidato à procura de um autor
Nenhum programa faz sentido no Brasil se não tratar
do problema fiscal (gasto público, com juros ou não)
"LEVANTA-TE e anda", disse a
facção facinorosa do PT à
candidatura moribunda
de Geraldo Alckmin. E ela andou.
Graças aos contatos freqüentes e recentes da cúpula petista-lulista com
matéria excrementícia, o tucanato
ressuscitou para a eleição de 2006.
Tratava-se de uma campanha, a
tucana, que não apresentara nenhum mote que chamasse a atenção
do eleitor. Agora, trata-se de uma
campanha que, em vez de oposição
substantiva, se faz por oposição hipotético-adjetiva: "tudo isso que está aí", o petismo-lulismo, é coisa do
"demo, bandalheira"; "nós somos
limpinhos". A isso chegamos, com o
requinte tenebroso de ver FHC empregar tiradas chavistas para atacar
Lula, "el diablo".
Qual a carta de intenções da candidatura tucana? Alckmin ao menos
não fraudou a opinião pública como
fez o petismo-lulismo por 20 anos
-o compromisso político maior que
Lula manteve, se não o único, foi
com os depauperados de tudo, e
nem se sabe se isso pode durar, dada
a falta de dinheiro.
O problema é que, sendo Alckmin
ele mesmo a imagem insondável do
puro espírito gerencial, não se sabe
muito a que veio. Em geral, emanações tais como as alckmistas estão
associadas a conservadorismo.
O programa não ajuda muito. O
país vai crescer 5%, 6%, diz "Geraldo". Como? "Tudo começa com trabalho, seriedade e competência, sem
discursos vazios nem mistificação."
Mistificação? Nas reformas trabalhista e previdenciária de "Geraldo",
ninguém vai perder direitos e proteções que possui.
Discurso vazio? "As propostas
fundamentam-se na idéia de que o
processo de desenvolvimento é a expressão da vontade política de inúmeros atores com interesses distintos, que necessitam ser conciliados e
minimamente atendidos". É justamente essa conciliação sem fim que
levou o país à quase exaustão fiscal e
à paralisia na mudança institucional, qualquer que seja o sentido dela.
Nenhum programa faz sentido
hoje no Brasil se não tratar do problema fiscal (gasto público, com juros ou não). Sem explicação prévia a
respeito, todo o resto é quase enrolação. No programa alckmista, a meta
é zerar o déficit nominal do setor público, hoje em torno de 4% do PIB,
até 2010. Tal meta pode ser atingida,
por exemplo, cortando pela metade
a despesa atual com juros (em relação ao PIB).
Para tanto, é preciso começar o
mandato com um corte de gastos
primários (salários, programas sociais etc.) e/ou crescimento vitaminado (com mais inflação, a princípio). O programa explica tal coisa?
Não. Fala-se em redução de desperdícios e de "gestão ética" (ninharias e firulas). E em aumentar incentivos e gastos. Mais gastos sociais, de
investimento, de fundos ora contingenciados, além de redução de tributos sobre folha de salário etc. E
nada se diz sobre como convencer
Estados e municípios da meta alckmista. Eles fazem 40% do déficit que
"Geraldo" quer zerar. A idéia a princípio interessante do déficit zero vira besteira em poucos parágrafos.
Há protoidéias interessantes perdidas entre bobagens e generalidades, como criar fundos de pensão
para novos servidores (mas quem
vai financiar?) e retirar dos salários a
carga de tributos que banca a parte
assistencial da Previdência (a renda
dos mais ricos pagará a conta?). Mas
tais planos logo viram fumaça, dada
a falta de explicações coerentes.
O essencial, enfim, é a desconversa sobre a distribuição de ônus e bônus necessária para desencalacrar a
crise fiscal e a do crescimento. Nisso,
tucanos e petistas convergem na banalidade.
vinit@uol.com.br
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