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VINICIUS TORRES FREIRE
Miudezas, grandes negócios e tédio
Inerte no que importa, Lula 2 parece uma barafunda de negócios, da política às teles, Petrobras, hidrelétricas etc.
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A POLÍTICA dos assuntos econômicos e a política politiqueira
do ano 1 de Lula 2 tornou-se
um campo de guerrilhas e trincheiras. Nelas se batem e negociam, de
um lado, feudos e capitanias do governo e, de outro, pedaços de partidos e grandes empresas.
Dizer que isso é coisa de agora soa
a tolice ingênua ou elogio a Lula 1.
Mas, apesar de parecer já pré-história, sob Lula 1 houve a conversão final e de fato do petismo-lulismo à ordem. Ou, para ser específico e ficar
num exemplo, ao padrão de política
econômica e social assentado sob
FHC 2, com as últimas renúncias ao
que era programa partidário e que
Lula veio a chamar de bravatas.
Na economia, a inércia na política
econômica contrasta vivamente
com a azáfama no campo de batalha
da única versão que funcionou das
parcerias público-privadas. Isto é,
no campo onde se batalham negócios entre ministérios, estatais e
grandes empresas. Não se trata aqui,
ou pelo menos ainda não se trata, de
negociatas, de corrupção normalizada. Nem do "risco de reestatização", ignorado pelas grandes empresas em tratativas com o governo. Essa conversa de reestatização é futrica de disputinhas ideológicas.
Uma guerrilha oficial parece se
ocupar mais de fusões no setor de teles, mas não de uma nova lei de comunicações que resolva de modo
público os conflitos decorrentes dos
avanços tecnológicos em TV, internet e telefonia -resolver de modo
"republicano", palavra que antes enchia a boca dos petistas-lulistas.
Não se entende bem o sentido e a
natureza de negócios, fusões e aquisições, da Petrobras na dita "consolidação" da petroquímica. No caso
do álcool, o governo quis abocanhar
o setor numa mordida rápida, por
meio de um projeto de regulamentação maciça, rechaçado pelos empresários. Decerto, alguma coisa há
de se fazer para estabilizar oferta, estoques e formatar o mercado, mas
não do modo desembestado que
apareceu no projeto do governo.
Quanto à energia, parece que a
grande questão era dar uma tunda
no Ministério do Meio Ambiente e
acertar parcerias entre empreiteiras
e estatais, caso da usina do Madeira.
A reforma da Eletrobrás, um paquiderme desorientado, foi para o ralo.
O resto se empurra com a barriga
crescente, caso do gasto e da receita
federal, como na CPMF. Certo, reformas tributárias, mesmo levadas a
sério, andam muito devagar, dada a
imensidão de interesses envolvidos
e complexidades técnicas. O governo diz que vai levá-la adiante, com o
ressuscitado Antonio Palocci.
Mas, desde o projeto FHC de 1997,
a reforma tributária sempre pára,
antes de mais nada, na trincheira da
guerra dos Estados. E é um assunto
que suscita tanto descrédito como
política industrial, que há sempre
uma (e se cozinha outra agora), mas
ninguém delas sabe, ninguém as viu,
pois "não colam". O PAC tornou-se
um mero (ainda que necessário)
programa de acompanhamento de
obras, que inexistia e ainda é lerdo.
No mais, quase tudo se perde em
miudezas da negociata política, que
aliás estropiam também a gerência
das estatais, em escambo de cargos e
fusões e aquisições de bancadas.
Cheia de buracos no telhado de vidro moral, a oposição se limita a
acordões (virá mais, no caso Renan)
e não tem o que propor ao país.
vinit@uol.com.br
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