São Paulo, quinta-feira, 27 de setembro de 2007

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

VINICIUS TORRES FREIRE

Miudezas, grandes negócios e tédio


Inerte no que importa, Lula 2 parece uma barafunda de negócios, da política às teles, Petrobras, hidrelétricas etc.

A POLÍTICA dos assuntos econômicos e a política politiqueira do ano 1 de Lula 2 tornou-se um campo de guerrilhas e trincheiras. Nelas se batem e negociam, de um lado, feudos e capitanias do governo e, de outro, pedaços de partidos e grandes empresas.
Dizer que isso é coisa de agora soa a tolice ingênua ou elogio a Lula 1.
Mas, apesar de parecer já pré-história, sob Lula 1 houve a conversão final e de fato do petismo-lulismo à ordem. Ou, para ser específico e ficar num exemplo, ao padrão de política econômica e social assentado sob FHC 2, com as últimas renúncias ao que era programa partidário e que Lula veio a chamar de bravatas.
Na economia, a inércia na política econômica contrasta vivamente com a azáfama no campo de batalha da única versão que funcionou das parcerias público-privadas. Isto é, no campo onde se batalham negócios entre ministérios, estatais e grandes empresas. Não se trata aqui, ou pelo menos ainda não se trata, de negociatas, de corrupção normalizada. Nem do "risco de reestatização", ignorado pelas grandes empresas em tratativas com o governo. Essa conversa de reestatização é futrica de disputinhas ideológicas.
Uma guerrilha oficial parece se ocupar mais de fusões no setor de teles, mas não de uma nova lei de comunicações que resolva de modo público os conflitos decorrentes dos avanços tecnológicos em TV, internet e telefonia -resolver de modo "republicano", palavra que antes enchia a boca dos petistas-lulistas.
Não se entende bem o sentido e a natureza de negócios, fusões e aquisições, da Petrobras na dita "consolidação" da petroquímica. No caso do álcool, o governo quis abocanhar o setor numa mordida rápida, por meio de um projeto de regulamentação maciça, rechaçado pelos empresários. Decerto, alguma coisa há de se fazer para estabilizar oferta, estoques e formatar o mercado, mas não do modo desembestado que apareceu no projeto do governo.
Quanto à energia, parece que a grande questão era dar uma tunda no Ministério do Meio Ambiente e acertar parcerias entre empreiteiras e estatais, caso da usina do Madeira.
A reforma da Eletrobrás, um paquiderme desorientado, foi para o ralo. O resto se empurra com a barriga crescente, caso do gasto e da receita federal, como na CPMF. Certo, reformas tributárias, mesmo levadas a sério, andam muito devagar, dada a imensidão de interesses envolvidos e complexidades técnicas. O governo diz que vai levá-la adiante, com o ressuscitado Antonio Palocci.
Mas, desde o projeto FHC de 1997, a reforma tributária sempre pára, antes de mais nada, na trincheira da guerra dos Estados. E é um assunto que suscita tanto descrédito como política industrial, que há sempre uma (e se cozinha outra agora), mas ninguém delas sabe, ninguém as viu, pois "não colam". O PAC tornou-se um mero (ainda que necessário) programa de acompanhamento de obras, que inexistia e ainda é lerdo.
No mais, quase tudo se perde em miudezas da negociata política, que aliás estropiam também a gerência das estatais, em escambo de cargos e fusões e aquisições de bancadas.
Cheia de buracos no telhado de vidro moral, a oposição se limita a acordões (virá mais, no caso Renan) e não tem o que propor ao país.

vinit@uol.com.br


Texto Anterior: Efeito: Credit Suisse anuncia corte de 150 funcionários por crise nas bolsas
Próximo Texto: Turbulência no mercado não afeta otimismo da indústria
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.