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Aracruz também perde com câmbio e afeta exportadoras
Como a Sadia, fabricante de celulose sofre com crise financeira e alta do dólar
Valor do prejuízo não foi
divulgado e diretor de
finanças é trocado; papéis
de exportadoras sofrem
forte queda na Bovespa
CRISTIANE BARBIERI
DA REPORTAGEM LOCAL
Depois de a Sadia comunicar
perdas de R$ 760 milhões com
operações no mercado financeiro ligadas ao dólar, ontem foi
a vez de a Aracruz Celulose admitir que enfrenta o mesmo
problema. A empresa, no entanto, afirma não saber o volume da perda. Nos dois casos, o
prejuízo foi causado pela crise
nos mercados financeiros internacionais.
Com a ameaça de que a situação atingisse outras empresas
exportadoras, a Bovespa (Bolsa
de Valores de São Paulo) registrou queda de 2,02% ontem.
Diversas empresas, depois de
fortes perdas no valor de seus
papéis, vieram a público negar
prejuízos semelhantes.
Segundo o fato relevante divulgado pela Aracruz, as operações no mercado financeiro foram influenciadas "pela recente instabilidade das cotações do
dólar norte-americano, decorrente do momento de grande
volatilidade dos mercados
mundiais".
Tanto a Sadia como a Aracruz se posicionavam no mercado de câmbio esperando o
fortalecimento do real. Mas a
alta do dólar, que chegou a quase 18% em setembro, causou as
perdas. As incertezas no cenário internacional forçaram-nas
a rever a estratégia financeira e
a reconhecer os prejuízos.
No comunicado, a Aracruz
informou ter tomado iniciativas para minimizar o impacto
da exposição cambial e para
ampliar seus controles internos. A empresa disse que a exposição não deve afetar "significativamente" seu caixa, hoje
de US$ 500 milhões.
A Aracruz afirma também ter
contratado uma empresa especializada para apurar o valor de
sua exposição. "A notícia é bastante negativa, uma vez que a
Aracruz nem sequer tinha
completo controle sobre sua
posição de derivativos cambiais
[operação no mercado financeiro]", diz Luiz Otávio Broad,
analista da Ágora Corretora.
Segundo Broad, a Aracruz
encerrou o segundo trimestre
com posição vendida em dólar
(apostando na valorização do
real) na BM&F de US$ 360 milhões, o equivalente a seis meses do fluxo de caixa. "Isso significa que essa exposição cresceu nos últimos meses", diz
Broad. Segundo ele, no entanto,
é impossível determinar o tamanho do prejuízo.
Licença
Em razão da crise, Isac Roffé
Zagury, diretor financeiro e de
relações com investidores da
Aracruz, apresentou pedido de
licença do cargo, assumido interinamente por Carlos Aguiar,
presidente da companhia. No
dia anterior, Adriano Lima Ferreira, diretor financeiro da Sadia, havia sido demitido.
Com a expectativa de que
empresas pudessem enfrentar
o mesmo cenário, papéis de diversas companhias caíram ontem. As ações da Sadia registraram a maior perda, com queda
de quase 35%. Os papéis da
Aracruz perderam 15,57%, os
da VCP, 8,88%, os da Embraer,
7,35%, os da Klabin, 5,36%, e os
da Perdigão, 4,23%.
Vale, Cosan, Perdigão, Marcopolo, PDG Realty, entre outras, soltaram comunicados
nos quais negavam perdas com
exposição à variação cambial. A
Embraer e a Vicunha Têxtil disseram à Folha que não enfrentam problemas semelhantes.
Para alguns especialistas, as
perdas das empresas no mercado financeiro foram estimuladas pelos ganhos fáceis conseguidos no mercado de câmbio
nos últimos anos. Apesar de reclamarem que o valor do real
impossibilitava as exportações,
as empresas acabavam lucrando -e muito, segundo analistas- operando no mercado futuro de câmbio.
"Estava muito fácil especular
a favor [da valorização] do
real", diz Antonio Corrêa de
Lacerda, professor da PUC-SP.
Para Júlio Sérgio Gomes de
Almeida, consultor do Iedi
(Instituto de Estudos para o
Desenvolvimento Industrial), é
procedimento rotineiro para
empresas exportadoras fazer
operações no mercado futuro.
"Elas pegam o dinheiro do ACC
[Antecipação de Contratos de
Câmbio, que as permite receber o valor exportado em reais
até seis meses antes da venda]
e apostam na valorização da
moeda", diz Almeida. "É uma
forma de proteção."
Isso porque, se o real for
mesmo apreciado, suas margens com as exportações cairão. "O problema é quando a
maré muda e pega as empresas
no contrapé", diz Almeida.
Para os especialistas, a melhor maneira de evitar o problema seria manter o câmbio
atraente para exportações. Isso
evitaria, dizem eles, "tentações
especulativas".
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