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Executivos de Wall Street levaram US$ 3 bi
Valor pagos aos chefes dos 5 grandes bancos de 2003 a 2007 foi o triplo do gasto pelo JPMorgan para comprar Bear Stearns
Seus 185.687 funcionários receberam em 2007 média de US$ 353 mil, enquanto problemas com as hipotecas de alto risco se agravavam
TOM RANDALL
JAMIE McGEE
DA BLOOMBERG
Nos últimos cinco anos, as
cinco maiores firmas de Wall
Street pagaram mais de US$ 3
bilhões a seus executivos-chefes, que comandavam a venda e
o empacotamento de empréstimos que acabaram por derrubar o sistema dos bancos de investimentos americanos.
O Merrill Lynch foi quem pagou mais a seus executivos
-Stanley O'Neal recebeu US$
172 milhões entre 2003 e 2007,
e John Thain ganhou US$ 86
milhões desde que começou a
trabalhar para o banco, em dezembro, incluindo um bônus
na assinatura de seu contrato.
No último 15 de setembro, a
empresa concordou em ser
comprada pelo Bank of America por cerca de US$ 50 bilhões.
James "Jimmy" Cayne, do Bear
Stearns, ganhou US$ 161 milhões antes de a empresa desmoronar e ser vendida para o
JPMorgan Chase, em junho.
Congressistas democratas e
republicanos estão exigindo
agora a imposição de limites
aos salários de executivos como
parte do plano de resgate financeiro de US$ 700 bilhões proposto pelo secretário do Tesouro dos EUA, Henry Paulson.
Ele mesmo ex-executivo-chefe do banco de investimentos Goldman Sachs, de quem
recebeu cerca de US$ 111 milhões entre 2003 e 2006, Paulson disse em depoimento ao
Congresso nesta semana que
aceitaria tais limites como parte do pacote de socorro aos
mercados, depois de ter se
oposto a eles num primeiro
momento.
Atraso
"Acionistas e conselhos de
direção deveriam ter tomado
medidas com relação a isso há
muito tempo", disse Charles
Elson, diretor do Centro Weinberg de Governança Corporativa, da Universidade de Delaware. "Eles justificaram os pagamentos desse nível, com base
na idéia de que todos esses executivos são gênios. Acho que esse balão já estourou."
As firmas de Wall Street têm
dividido seus lucros com seus
funcionários. As cinco maiores
-Goldman, Morgan Stanley,
Merrill, Lehman Brothers e
Bear Stearns- pagaram a seus
185.687 funcionários US$ 66
bilhões -incluindo US$ 39 bilhões em bônus- em 2007, enquanto os problemas com as hipotecas de alto risco se agravavam. Isso representa a média
de US$ 353.089 por funcionário, incluindo um bônus médio
de US$ 211.849.
As cinco firmas juntas tiveram receita líquida de US$ 93
bilhões nos cinco anos que terminaram em 2007.
Os US$ 3,1 bilhões pagos aos
cinco executivos-chefes das firmas entre 2003 e 2007 foram
cerca de três vezes o valor gasto
pelo JP Morgan para comprar o
Bear Stearns. O Goldman Sachs
teve o total mais alto, US$ 859
milhões, seguido pelo Bear
Stearns, com US$ 609 milhões.
Os salários dos presidentes-executivos das cinco empresas
aumentaram a cada ano, dobrando para US$ 253 milhões
em 2007, segundo dados compilados a partir de registros das
empresas.
As cifras relativas aos rendimentos dos executivos incluem
salários, bônus, ações e opções
de ações, algumas concedidas
por suas performances passadas. As opções foram avaliadas
em um terço do preço justo de
mercado das ações no momento em que as opções foram dadas -um método recomendado por Graef Crystal, especialista em pagamentos.
Setor generoso
De acordo com Crystal, as firmas de Wall Street vêm pagando a seus funcionários uma
parcela maior de sua receita do
que faz qualquer outro setor,
cerca de 50%. Essa tradição dos
bancos de investimentos tem
origens em sua história: eles foram formados como parcerias
de investidores que apostavam
seu próprio capital.
"Em Wall Street e em Hollywood, os lucros tendem a chegar em grandes pacotes, e todo
o mundo quer uma parte deles", disse Crystal. "Quer seja o
filme "O Cavaleiro das Trevas"
ou uma fusão enorme, o sujeito
que consegue atrair todo mundo ao cinema, aquele que consegue fazer chover, pode ganhar o que bem entender."
O Lehman Brothers fez o
maior pedido de concordata da
história em 15 de setembro,
com dívida de mais de US$ 613
bilhões. No mesmo dia, o Merrill Lynch foi vendido para o
Bank of America por US$ 29 a
ação, um valor mais ou menos
70% inferior ao pico de suas
ações, US$ 97,53, alcançado em
24 de janeiro de 2007.
O Goldman e o Morgan Stanley, os dois maiores bancos independentes de investimentos
dos EUA, foram forçados a converter-se em holdings de bancos, o que lhes deu acesso a fundos do Federal Reserve e lhes
comprou tempo para adquirir
depósitos. O executivo-chefe
do Goldman, Lloyd Blankfein,
ganhou US$ 57,6 milhões em
2007 em salário e bônus, incluindo ações e opções de ações
dadas no início do ano fiscal para premiar a performance do
ano anterior. Os co-presidentes
Gary Cohn e Jon Winkelried
receberam US$ 56 milhões cada um.
Os executivos-chefes atual e
anterior do Morgan Stanley,
John Mack e Philip Purcell, receberam cerca de US$ 194 milhões nos últimos cinco anos.
Mark Lake, um porta-voz do
Morgan Stanley, chamou a
atenção para a decisão de Mack
de não aceitar um bônus por
2007 e disse que o US$ 1,6 milhão em salário e outros pagamentos que ele recebeu no ano
passado não foi muito, comparado com outros presidentes-executivos de Wall Street.
"Desde que voltou para a empresa, ele vem recebendo tudo
em ações, não como salário",
disse Lake. "Existe uma diferença entre receber ações da
empresa ou dinheiro como bônus. Se você recebe ações da
empresa, obviamente está atrelado à performance dela."
O representante do Goldman
Sachs, Michael Duvally, se negou a dar declarações. A porta-voz do Merrill Lynch, Jessica
Oppenheim, e os representantes do JP Morgan, Brian Marchiony, e do Lehman Brothers,
Monique Wise, não responderam aos telefonemas.
"O povo americano está revoltado com os pagamentos
dos executivos, e com razão",
disse Henry Paulson à Câmara
nesta semana, fugindo do texto
previamente redigido de seu
discurso. "Precisamos encontrar uma maneira de tratar disso na legislação, mas sem prejudicar a eficácia deste programa [de socorro]."
Na mesma noite, em discurso
à nação transmitido pela televisão, o presidente Bush disse
que o plano pretende fornecer
"dinheiro urgentemente necessário para que os bancos e
outras instituições financeiras
possam evitar o colapso" e disse que "é preciso assegurar que
executivos fracassados não recebam grandes valores com o
dinheiro dos contribuintes".
Ineficácia
Mas o governo americano
tem um histórico fraco em matéria de regulamentar pagamentos salariais, disse Kevin
Murphy, professor de finanças
da Escola Marshall de Administração de Empresas da Universidade da Califórnia do Sul,
em Los Angeles.
"Todas as tentativas do governo de limitar ou regulamentar o pagamentos dos presidentes-executivos feitas até hoje
foram infrutíferas", disse
Murphy. "Acredito que será a
mesma coisa com esta. Sempre
há saídas e exceções."
A regulamentação dos "pára-quedas dourados" -proteções
para executivos no caso de suas
empresas serem adquiridas por
outras- foi evitada nos anos
1980 com os acordos de demissão, e o experimento de Richard Nixon com o controle de
salários e preços acabou fracassando, disse Murphy.
"Ou é o comitê de pagamentos, ou o advogado geral da empresa, ou o chefe do departamento de recursos humanos
que tentam negociar um pacote
de pagamento com alguém que
será seu chefe em questão de
semanas", disse ele.
Tradução de CLARA ALLAIN
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