São Paulo, terça-feira, 27 de outubro de 2009

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Otimismo da indústria é o supera o pré-crise

Nível de confiança de 1.418 empresas, medido pela CNI, é o maior em quase 5 anos e abre caminho para volta de investimentos

Retomada de exportadoras, porém, é incerta, e o câmbio ameaça, diz setor; empresas de limpeza e perfumaria são as mais confiantes


EDUARDO RODRIGUES
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

A certeza da recuperação da economia e o otimismo em relação aos próximos meses têm alavancado a confiança do empresariado, determinante para a decisão de retomar os investimentos. Tanto que o Icei (Índice de Confiança do Empresariado Industrial), medido trimestralmente pela CNI (Confederação Nacional da Indústria), superou já em outubro o pico de euforia registrado no período de crescimento econômico anterior à crise.
Em uma escala na qual valores acima de 50 pontos significam otimismo, o indicador chegou a 65,9 pontos ao fim do terceiro trimestre, a melhor marca desde janeiro de 2005, quando atingiu 66,2 pontos.
"O otimismo cresceu bastante. O grande diferencial foi o empresariado voltar a sentir que a economia entrou no eixo", avalia o gerente-executivo da Unidade de Pesquisa da CNI, Renato Fonseca.
Desde janeiro, quando o Icei em 47,4 pontos demonstrava pessimismo, a melhora das perspectivas dos industriais em relação à economia se traduziu em um aumento de 18,5 pontos. "O setor exportador ainda tem problemas, mas se pode dizer que, em termos de demanda, o mercado doméstico já está recuperado", explica Fonseca.
Segundo ele, o estado de espírito do empreendedor mostra que existe disposição para investir, contratar e comprar matérias-primas. "Esse movimento é fundamental, porque alimenta o ciclo econômico."
Para o economista da Unicamp Júlio Gomes de Almeida, os investimentos são fundamentais para que não haja um rompimento da atual política monetária, uma vez que o Banco Central pode voltar a subir os juros em caso de pressões inflacionárias. "Em geral, euforia em economia sempre dá confusão, mas, nesse caso, ela é extremamente positiva", analisa.
Pela primeira vez desde o início da crise, todos os 27 segmentos industriais acompanhados pela pesquisa apresentaram uma avaliação otimista. O setor de limpeza e perfumaria é o mais confiante, com índice em 73 pontos, enquanto apenas as indústrias de couro, madeira e refino de álcool ficaram abaixo dos 60 pontos.
Entre as 1.418 empresas pesquisadas, as de maior porte apresentaram o melhor resultado, com 68,1 pontos, enquanto as micro e pequenas cuja recuperação é puxada pelas maiores, das quais são fornecedoras, mantêm uma confiança 5 pontos menor.
Para Fonseca, no entanto, após chegar a um patamar tão elevado, o indicador deve arrefecer mais nos próximos trimestres, sem deixar o nível de otimismo. "Quando você chega ao fundo do poço, só consegue olhar para cima esperando voltar a subir. Quando começa a reação, é normal o otimismo bater lá em cima", completa.

Dúvidas
Mesmo diante dessa confiança, há questões que ainda preocupam a indústria. Para José Rubens de la Rosa, diretor-geral da Marcopolo, a valorização do real em relação ao dólar e o peso dos tributos no custo da mão de obra são fatores preocupantes de redução da competitividade da indústria. "É otimista de fato as perspectivas do mercado interno, mas, para os exportadores, a situação não está tão boa assim. O mercado externo não se recuperou e, além disso, tem o problema cambial", diz De la Rosa.
Para o diretor do Departamento de Competitividade e Tecnologia da Fiesp (entidade das indústrias paulistas), José Ricardo Roriz Coelho, o otimismo do empresariado está relacionado à melhoria da oferta de crédito, ao reaquecimento do mercado interno, à expectativa de alta de 4% a 5% do PIB em 2010 e à retomada do investimento. O câmbio é um dilema.
"É difícil fixar preços diante de uma volatilidade cambial tão grande. O mercado melhorou, mas temos altos custos tributários, um dos "spreads" bancários mais altos do mundo e uma taxa de câmbio que varia muito", diz Roriz Coelho.

Colaborou AGNALDO BRITO, da Reportagem Local



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