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São Paulo, quinta-feira, 27 de novembro de 2003

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ESPETÁCULO EM XEQUE

Indústria se recupera, mas PIB e consumo das famílias menores podem comprometer vendas

Empresas temem encalhe da produção

FÁTIMA FERNANDES
DA REPORTAGEM LOCAL

O crescimento de 2,7% do PIB industrial no terceiro trimestre deste ano na comparação com o trimestre anterior e de apenas 0,4% do PIB brasileiro no mesmo período levantou a seguinte questão: será que tudo o que indústria produziu de julho a setembro para atender a demanda do comércio será adquirido pelos consumidores neste final de ano?
Como o crescimento do PIB do segundo para o terceiro trimestre foi de apenas 0,4%, ante expectativa de expansão de até 2,4%, alguns empresários se decepcionaram. As vendas para o Natal, dizem, são agora uma incógnita maior do que eram antes da divulgação do desempenho da economia no terceiro trimestre.
"Estamos num momento delicadíssimo da economia. Se as vendas no final do ano não forem boas, como se chegou a prever por causa da retomada de alguns setores, a produção industrial corre o risco de desabar no início do ano que vem", diz Julio Gomes de Almeida, diretor-executivo do Iedi (Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial).
Segundo ele, os números do IBGE mostram que a indústria e o comércio acreditaram na recuperação da economia no fim do ano. Após dois trimestres seguidos de queda -2% no primeiro trimestre e 3,7% no segundo-, a indústria foi o único setor a apresentar um bom desempenho de julho a setembro deste ano na comparação com o trimestre anterior. Sobre igual período do ano passado, ainda há uma queda de 1,6%.
"O que é relevante [na comparação trimestre a trimestre] é que a produção da indústria já apresenta resultado positivo", diz Roberto Olinto, gerente das Contas Nacionais Trimestrais do IBGE.
De acordo com o IBGE, as indústrias de transformação e extrativa mineral tiveram melhor desempenho no período. O setor de construção civil não reagiu.
Além de o PIB ter crescido apenas 0,4%, outro dado preocupa os empresários: a retração do consumo das famílias, em queda nos últimos quatro trimestres. "Se famílias compram menos, a indústria e o comércio não têm como reagir", diz Clarice Messer (Fiesp).
As fábricas, na análise de Messer, investiram para dar conta de encomendas do exterior e trocar equipamentos. Os investimentos para aumentar capacidade produtiva -mais capazes de criar novos empregos- continuam parados. "O aumento dos investimentos identificado pelo IBGE no terceiro trimestre deste ano não indica que eles vão voltar com força a partir de agora", afirma.
O crescimento de 2,7% do PIB industrial, na análise de Synésio Batista da Costa, presidente da Abrinq, associação que reúne os fabricantes de brinquedos, não quer dizer muita coisa. "Se o consumidor não compra, não adianta a indústria produzir mais."
Alguns empresários, diz ele, esperavam crescimento de 2% do PIB do terceiro trimestre deste ano. "Se o Natal não for bom, as indústrias vão virar o ano com as finanças comprometidas", diz.
Se depender das estimativas da Federação do Comércio do Estado de São Paulo, as indústrias vão começar mal 2004. A previsão é que o consumo vá ser igual ou um pouco melhor do que em 2002.


Com Chico Santos, da Sucursal do Rio


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