São Paulo, domingo, 27 de novembro de 2005

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CONSOLO

Ministro e Meirelles dizem que economia se recuperará do tombo do 3º tri

Palocci promete a Lula PIB de 5% na véspera da eleição

KENNEDY ALENCAR
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O ministro da Fazenda, Antonio Palocci Filho, e o presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, prometeram ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva que a economia crescerá a uma taxa anualizada de 5% na hora em que o candidato Luiz Inácio Lula da Silva mais precisará: entre abril e setembro de 2006, o período da campanha eleitoral.
Essa promessa foi feita na noite da última segunda-feira, dia 21, quando Lula e Palocci tiveram a decisiva conversa na qual o presidente disse ao ministro da Fazenda que não permitiria sua saída do governo e lhe assegurou que autorizaria um esforço fiscal maior em 2005. Meirelles participou de parte dessa reunião.
Lula demonstrou preocupação com a notícia de que a economia estava em processo de desaceleração. Citou especificamente a previsão de que o PIB (Produto Interno Bruto, a soma de todas as riquezas produzidas no país) apresentará resultado ruim no terceiro trimestre. Esse dado será divulgado na próxima quarta-feira. O mercado prevê recuo de até 0,5%.
Palocci e Meirelles disseram que essa queda era resultado da combinação do efeito negativo da crise política sobre a atividade econômica e um reflexo tardio do processo de alta da taxa básica de juros (Selic) que teve início em setembro de 2004.
Naquele mês, a Selic foi elevada de 16% para 16,25%. A taxa subiu até maio de 2005, quando atingiu 19,75%. E começou a cair somente em setembro. Na última quarta-feira, em nova decisão de queda, a Selic ficou em 18,50% ao ano.

Passado
Palocci e Meirelles disseram que o resultado do terceiro trimestre deste ano seria "uma fotografia do passado". O presidente do Banco Central disse que o quarto e último trimestre do ano apresenta "forte" sinal de crescimento. Meirelles estimou alta de 1% no último trimestre, o que equivaleria a um crescimento anualizado "próximo de 4%".
Tanto Palocci como Meirelles avaliaram que a crise política já havia feito o estrago possível na economia. Disseram que, a partir deste fim de ano, haverá forte aceleração da atividade econômica, com pico entre os meses de abril e setembro.
Em abril, os partidos definem os candidatos. Em setembro, acontece o horário eleitoral gratuito, a principal fase da disputa.
O ministro da Fazenda disse que, em 2006, não procurará fazer um superávit primário maior do que a meta oficial de 4,25% porque não será preciso devido ao atual processo de queda dos juros e de crescimento do PIB. Foi quando Palocci pediu a autorização do presidente para fazer um superávit maior do que 4,25% neste ano.

Dívida sob controle
A preocupação de Palocci e Meirelles é manter sob controle a relação entre a dívida pública e o PIB. Hoje, a dívida equivale a 51,4% do PIB. Disseram que seria necessário um superávit maior neste ano para garantir um menor em 2006.
Lula prometeu a Palocci que o superávit maior será autorizado. Isso foi fundamental para o ministro da Fazenda desistir de sair do governo e dizer no dia seguinte, em depoimento na Câmara, que tinha apoio de Lula para a sua política econômica.
Apesar de negar, Lula já decidiu ser candidato, como antecipou a Folha em outubro. O presidente, em viagem a Portugal e Itália, disse aos políticos de partidos de esquerda daqueles países que disputaria a reeleição.
No último dia 18, em entrevista a rádios, o presidente admitiu que seria candidato, mas depois afirmou que cometera um lapso.
Na reunião com Lula, Meirelles e Palocci argumentaram que o envio de um projeto ao Congresso que fixe o superávit primário em 4,25% do PIB durante um longo período (disseram dez anos) criaria expectativa econômica positiva em 2006 que favoreceria os planos eleitorais de Lula e do PT, minando a oposição.

Autonomia do BC
Meirelles voltou a argumentar que o envio de um projeto de lei que conferisse autonomia ao Banco Central também contribuiria para esse clima econômico pró-reeleição. Lula viraria de vez o herói do mercado.
O presidente, porém, tem dúvida em relação à conveniência de abraçar essa proposta. Acha que deu autonomia demais ao BC e que teve de fazer sacrifícios além da conta.


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