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EXUBERÂNCIA NACIONAL
Setor passou por privatizações, recebeu ajuda do governo e cortou funcionários nos últimos anos
Lucro de banco quase dobra entre 96 e 2004
NEY HAYASHI DA CRUZ
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Demonstrações financeiras elaboradas pelos bancos que atuaram no Brasil entre 1996 e 2004
mostram um forte aumento nos
ganhos alcançados pelo setor.
Os documentos, entregues periodicamente ao Banco Central,
revelam, entre outras coisas, um
crescimento na participação de
mercado dos bancos nacionais,
uma melhora no desempenho
dos bancos públicos e um forte
corte de funcionários no setor.
Também cresceu o lucro dos
bancos privados nacionais, que
acumularam ganhos de R$ 2,7 bilhões em 1996, uma rentabilidade
de 13,5% sobre a soma de seus patrimônios. Em 2004, o resultado já
havia subido para R$ 12,5 bilhões,
um retorno de 21,9%.
O levantamento foi feito pela
Folha a partir dos balanços que
104 bancos entregaram ao BC em
2004 e dos 144 que o fizeram em
1996. Nesse período, o perfil desse
mercado sofreu várias mudanças.
Em 1996, metade dos ativos de
todo o setor bancário estava nos
bancos públicos: 5 instituições federais e 23 estaduais respondiam
por 55% das aplicações contidas
em todo o sistema financeiro. Ao
final de 2004, essa participação já
havia caído para 37%.
Além disso, os bancos públicos,
puxados por Banco do Brasil e
Caixa Econômica Federal, registravam constantes prejuízos.
Ao todo, essas instituições financeiras acumularam perdas de
R$ 7,1 bilhões em 1996 -isso
equivaleria hoje a R$ 12,6 bilhões,
em valores corrigidos pelo IPCA.
Os bancos privados, especialmente os nacionais, usaram as
privatizações para avançar no
mercado. Entre 1996 e 2004, a participação dessas instituições nos
ativos do sistema financeiro passou de 31% para 41%.
Para Roberto Troster, economista-chefe da Febraban (Federação Brasileira dos Bancos), o aumento na lucratividade está ligado à maior eficiência dos bancos
que operam no Brasil. "É um dos
setores que mais investem em tecnologia no país", afirma.
O consultor Alberto Borges Matias, da ABM Consulting, diz que
o crescimento observado nos ganhos das instituições financeiras
no período pode ser influenciado
pelos resultados alcançados por
bancos de grande porte, não refletindo, necessariamente, uma
maior lucratividade de cada um
dos bancos que operam no Brasil.
Plano Real
Ainda assim, Matias afirma que
a evolução dos números do sistema financeiro acompanhou, de
perto, a expansão da dívida pública e das operações de crédito nos
últimos dez anos.
Isso aconteceu porque, na primeira fase do Plano Real, entre
1994 e 1999, a inflação era controlada por meio de uma política
cambial muito rígida.
Isso significou a manutenção de
juros bastante elevados, que serviam para atrair capital estrangeiro ao país e, assim, ajudar a manter a cotação do dólar próximo de
R$ 1. Por outro lado, a estabilidade da inflação fez com que muitas
pessoas e empresas se sentissem
mais confortáveis para contrair
dívidas, levando a uma forte expansão do crédito.
Mesmo com esses fatores aparentemente favoráveis, porém, a
melhora no desempenho do setor
bancário só foi possível por causa
de uma série de programas de socorro conduzidos pelo governo.
O mais famoso deles foi o Proer,
que foi instituído para ajudar
bancos privados em dificuldade.
Bancos como Nacional, Bamerindus e Econômico, que figuravam
entre os maiores do país na primeira metade da década de 1990,
quebraram e sofreram intervenção do governo. Coube ao Banco
Central assumir parte de suas dívidas e repassar suas redes de
agências e clientes para outros
bancos.
"Foi uma faxina necessária",
afirma Troster. Além do Proer, o
Proes e o Proef foram criados para, respectivamente, ajudar bancos estaduais e federais. Nesses
casos, a ajuda do governo teve como etapa final a privatização.
A maior das privatizações foi a
do Banespa, vendido ao Santander em novembro de 2000 por
mais de R$ 7 bilhões, num caso
que mostra de onde veio parte dos
ganhos de eficiência do setor: em
dezembro de 2000, um mês após a
privatização, Santander e Banespa possuíam, juntos, 35.044 funcionários e 983 agências; em dezembro de 2004, o número de trabalhadores do grupo havia caído
para 21.540, mesmo com a quantidade de agências tendo subido
para 1.028.
Ao todo, entre o começo de 1996
e o final de 2004, o número de
funcionários nos bancos que operam no Brasil, segundo informações repassadas pelas instituições
financeiras ao BC, caiu de 626 mil
para 503 mil.
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