São Paulo, domingo, 27 de novembro de 2005

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EXUBERÂNCIA NACIONAL

Setor passou por privatizações, recebeu ajuda do governo e cortou funcionários nos últimos anos

Lucro de banco quase dobra entre 96 e 2004

NEY HAYASHI DA CRUZ
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Demonstrações financeiras elaboradas pelos bancos que atuaram no Brasil entre 1996 e 2004 mostram um forte aumento nos ganhos alcançados pelo setor.
Os documentos, entregues periodicamente ao Banco Central, revelam, entre outras coisas, um crescimento na participação de mercado dos bancos nacionais, uma melhora no desempenho dos bancos públicos e um forte corte de funcionários no setor.
Também cresceu o lucro dos bancos privados nacionais, que acumularam ganhos de R$ 2,7 bilhões em 1996, uma rentabilidade de 13,5% sobre a soma de seus patrimônios. Em 2004, o resultado já havia subido para R$ 12,5 bilhões, um retorno de 21,9%.
O levantamento foi feito pela Folha a partir dos balanços que 104 bancos entregaram ao BC em 2004 e dos 144 que o fizeram em 1996. Nesse período, o perfil desse mercado sofreu várias mudanças.
Em 1996, metade dos ativos de todo o setor bancário estava nos bancos públicos: 5 instituições federais e 23 estaduais respondiam por 55% das aplicações contidas em todo o sistema financeiro. Ao final de 2004, essa participação já havia caído para 37%.
Além disso, os bancos públicos, puxados por Banco do Brasil e Caixa Econômica Federal, registravam constantes prejuízos.
Ao todo, essas instituições financeiras acumularam perdas de R$ 7,1 bilhões em 1996 -isso equivaleria hoje a R$ 12,6 bilhões, em valores corrigidos pelo IPCA.
Os bancos privados, especialmente os nacionais, usaram as privatizações para avançar no mercado. Entre 1996 e 2004, a participação dessas instituições nos ativos do sistema financeiro passou de 31% para 41%.
Para Roberto Troster, economista-chefe da Febraban (Federação Brasileira dos Bancos), o aumento na lucratividade está ligado à maior eficiência dos bancos que operam no Brasil. "É um dos setores que mais investem em tecnologia no país", afirma.
O consultor Alberto Borges Matias, da ABM Consulting, diz que o crescimento observado nos ganhos das instituições financeiras no período pode ser influenciado pelos resultados alcançados por bancos de grande porte, não refletindo, necessariamente, uma maior lucratividade de cada um dos bancos que operam no Brasil.

Plano Real
Ainda assim, Matias afirma que a evolução dos números do sistema financeiro acompanhou, de perto, a expansão da dívida pública e das operações de crédito nos últimos dez anos.
Isso aconteceu porque, na primeira fase do Plano Real, entre 1994 e 1999, a inflação era controlada por meio de uma política cambial muito rígida.
Isso significou a manutenção de juros bastante elevados, que serviam para atrair capital estrangeiro ao país e, assim, ajudar a manter a cotação do dólar próximo de R$ 1. Por outro lado, a estabilidade da inflação fez com que muitas pessoas e empresas se sentissem mais confortáveis para contrair dívidas, levando a uma forte expansão do crédito.
Mesmo com esses fatores aparentemente favoráveis, porém, a melhora no desempenho do setor bancário só foi possível por causa de uma série de programas de socorro conduzidos pelo governo.
O mais famoso deles foi o Proer, que foi instituído para ajudar bancos privados em dificuldade. Bancos como Nacional, Bamerindus e Econômico, que figuravam entre os maiores do país na primeira metade da década de 1990, quebraram e sofreram intervenção do governo. Coube ao Banco Central assumir parte de suas dívidas e repassar suas redes de agências e clientes para outros bancos.
"Foi uma faxina necessária", afirma Troster. Além do Proer, o Proes e o Proef foram criados para, respectivamente, ajudar bancos estaduais e federais. Nesses casos, a ajuda do governo teve como etapa final a privatização.
A maior das privatizações foi a do Banespa, vendido ao Santander em novembro de 2000 por mais de R$ 7 bilhões, num caso que mostra de onde veio parte dos ganhos de eficiência do setor: em dezembro de 2000, um mês após a privatização, Santander e Banespa possuíam, juntos, 35.044 funcionários e 983 agências; em dezembro de 2004, o número de trabalhadores do grupo havia caído para 21.540, mesmo com a quantidade de agências tendo subido para 1.028.
Ao todo, entre o começo de 1996 e o final de 2004, o número de funcionários nos bancos que operam no Brasil, segundo informações repassadas pelas instituições financeiras ao BC, caiu de 626 mil para 503 mil.


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