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Indústria teme "inflexão fiscal" e pede corte de gasto
Para CNI, governo deve impulsionar reformas buscando ajuste fiscal duradouro
Armando Monteiro, presidente da entidade, diz que é fundamental que o Executivo sinalize que vai segurar os gastos públicos
VALDO CRUZ
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O presidente da CNI (Confederação Nacional da Indústria), Armando Monteiro Neto,
diz que a possibilidade de uma
"inflexão fiscal" preocupa o
empresariado, diante das informações de que estariam sendo
estudadas medidas para elevar
o endividamento dos Estados e
dos municípios.
Reeleito deputado federal
pelo PTB de Pernambuco no
pleito de outubro, o empresário
toma posse para um novo mandato à frente da CNI na terça-feira e diz que defenderá que o
principal papel do governo deva ser o de "agente impulsionador das reformas" visando um
ajuste fiscal duradouro.
Armando Monteiro elogia as
medidas de corte de impostos
já anunciadas pelo governo,
reivindicação do setor empresarial, mas alerta que ele não
pode emitir um "sinal trocado"
aumentando seus gastos correntes.
"Não adianta emitir um sinal
trocado, ou seja, desonerar no
presente sem enfrentar a questão fiscal, porque aí você está
onerando no futuro novamente", disse Monteiro Neto. Na
opinião do empresário, é fundamental que o Executivo sinalize que vai colocar um "freio"
nos gastos públicos.
Filiado a um dos partidos que
compõem da base governista, o
empresário sugere que o governo inicie uma nova geração de
reformas, inclusive da Previdência, descartada até aqui pelo presidente Luiz Inácio Lula
da Silva.
Nesse campo, ele avalia ser
necessário buscar uma reforma
tributária ambiciosa no futuro.
Um dos objetivos seria acabar
com o sistema de contribuições
federais, que dificulta as políticas de ajuste fiscal perenes.
Como as receitas das contribuições são sempre vinculadas
a um determinado gasto, elas
atrapalham a elaboração de um
ajuste fiscal eficiente, já que a
margem de corte de gastos é limitada.
Exatamente para ter liberdade de segurar receitas das contribuições é que o governo
criou a DRU (Desvinculação de
Recursos da União). Por meio
desse mecanismo, a União pode gastar livremente 20% de
suas receitas vinculadas. Os
80% restantes são alocados para setores específicos.
A receita da CPMF (o chamado imposto do cheque), por
exemplo, é quase totalmente
destinada à área da saúde.
Atualmente, o governo Lula
estuda aumentar de 20% para
25% ou 30% o percentual que
pode gastar livremente das receitas vinculadas. Na avaliação
da CNI, no entanto, o ideal seria modificar esse sistema, o
que a entidade afirma considerar não ser fácil diante dos lobbies de setores que são beneficiados com essas vinculações
de receitas, como os da saúde e
da educação.
Estudo encomendado pela
CNI mostra que a arrecadação
de contribuições superou a de
impostos nos últimos anos, já
que desde o governo FHC a
União passou a priorizar a criação desse tipo de mecanismo
para aumentar a sua receita.
O motivo é que, no caso das
contribuições, a receita não é
partilhada com Estados e municípios, o que é criticado pelos
governadores.
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