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Governo dribla Congresso e turbina fundo
MP editada por Lula contorna oposição e abre possibilidade de capitalização ilimitada com emissão de títulos do Tesouro
Governo deve destinar maior parte dos recursos para projetos em estradas, portos, energia e saneamento básico
KENNEDY ALENCAR
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Medida provisória editada
ontem pelo presidente Luiz
Inácio Lula da Silva permite
destinar ao fundo soberano
mais que os R$ 14,2 bilhões previstos para 2009. Segundo a
Folha apurou, a intenção de
Lula é destinar mais recursos
ao fundo em 2009, levando em
conta a arrecadação de impostos e a execução de gastos.
O secretário-adjunto do Tesouro Nacional, Cleber Oliveira, disse ontem que a MP (medida provisória) "abre a possibilidade" de dar mais do que os
R$ 14,2 bilhões que o governo
destinará ao fundo até a próxima quarta-feira. "Vai ser avaliado ao longo do ano [de 2009].",
afirmou Oliveira.
Para dificultar a possibilidade de a oposição questionar o
destino do dinheiro ao fundo, o
governo modificou, por meio
da MP, a lei de sua criação aprovada pelo Congresso na semana passada.
Poderão ser emitidos títulos
da dívida pública no valor equivalente aos R$ 14,2 bilhões
poupados pelo governo ao longo de 2008 e que seriam destinados para abater a dívida pública se não fosse feita a mudança via MP. Esses títulos são
papéis vendidos pelo governo
ao mercado com o objetivo de
capitalizar o Tesouro.
O valor de R$ 14,2 bilhões
corresponde a 0,5% do PIB previsto para 2008. Desde a idéia
da criação do fundo, o governo
disse que destinaria esses recursos para ele. Até lá, ficariam
contabilizados como superávit
primário (toda a economia do
setor público para pagar os juros de sua dívida).
Ao destinar R$ 14,2 bilhões
para reduzir a dívida pública e
aumentá-la por meio de emissão de títulos no mesmo valor,
uma ação compensa a outra. A
oposição não aprovou na semana passada a possibilidade de o
governo destinar diretamente
esse montante ao fundo. A MP
dribla essa proibição. Dificilmente, a oposição conseguirá
inviabilizar a operação.
Motivo: caso não seja aprovada pelo Congresso, os efeitos da
MP durante sua vigência não
podem ser anulados, porque ela
tem força de lei nesse período.
Como o governo precisa que a
MP vigore até a próxima quarta, prazo limite para destinar os
recursos ao fundo, a transferência dos R$ 14,2 bilhões será
feita na prática.
Indagado se esse manobra
era uma "rasteira" no Congresso, o secretário-adjunto do Tesouro sorriu. Depois, disse: "O
Congresso saberá avaliar o desenho posto pelo governo". Oliveira acrescentou que "o governo está plenamente amparado
[juridicamente] para todos os
atos que serão tomados".
Além do decreto para capitalizar o fundo, serão editadas
portarias para detalhar tecnicamente como ele será operado. Esses atos, de acordo com o
secretário-adjunto do Tesouro,
serão tomados até o dia 31.
Projetos
O governo vai definir ao longo de janeiro em quais projetos
aplicará os R$ 14,2 bilhões. De
acordo com um ministro, serão
feitos gastos em projetos de infra-estrutura que exijam mão-de-obra intensiva (geração de
empregos). Lula está preocupado em evitar um onda de desemprego ao longo do ano que
vem. Já há sinais de queda significativa na geração de empregos em virtude dos efeitos da
crise econômica internacional
no Brasil.
Segundo o ministro, os projetos prioritários para receber recursos do fundo serão de saneamento básico, estradas, portos
e energia. Esse dinheiro ficará
aplicado no exterior, mas poderá retornar ao Brasil para ser
investido por meio do FFIE
(Fundo Fiscal de Investimentos e Estabilização), administrado pelo Banco do Brasil. Os
projetos financiados serão definidos pelo Palácio do Planalto.
A União, com recursos do fundo, é a cotista única do FFIE.
O fundo soberano é mais
uma das medidas do governo
para tentar atenuar os efeitos
da crise, a exemplo do que já fez
outras áreas, como redução de
impostos e a liberação de recursos compulsórios dos bancos
no Banco Central para ampliar
a oferta de crédito.
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