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LUÍS NASSIF
O país tartaruga
As declarações de Luiz
Fernando Furlan na Índia, em que criticou os juros no
Brasil, é típica de qualquer
brasileiro que, hoje em dia, visite a China, a própria Índia, a
Rússia, a Coréia do Sul, e que
olhou a diferença. Por aqui,
continuamos um país auto-referenciado, que vive olhando o
próprio umbigo e se valendo
exclusivamente dos recursos da
retórica para a elegia da mediocrização.
Na Índia e na China, bens de
consumo durável são vendidos
a perder de vista com taxas de
juros anuais de um dígito.
Aqui se criou a anorexia monetária, um medo pânico do
crescimento, como se fosse virtuosa uma política econômica
que, de tão desequilibrada, não
pode conviver com a expansão.
A retórica é que este ano será
menor do que o ano passado;
ou que o Brasil de hoje é melhor do que o Brasil de dez anos
atrás. A análise tem que ser
comparativa. Quando se observa o boom na China, Índia e
países que ousaram pensar
grande, o panorama é contristador.
O Banco Central perdeu o tino. Política monetária é meio
para atingir o fim maior, que é
o desenvolvimento. Aqui, conseguiu desenvolver uma anorexia monetária. Qualquer sinal
de respeito da economia é tratado como doença, que tem
que ser tratada com um "soco
na barriga" -como declarou
ontem ao "Estado de S. Paulo"
um valente diretor do BC, em
"off", naturalmente.
No ano passado, um desses
jovens operadores de mercado,
inexperiente, em carta a um
colunista do "Valor", explicitou claramente o que os mais
experientes sabem, mas não dizem. Disse que o orçamento é
dos políticos, o Banco Central é
do mercado. Se os políticos quiserem recursos, dinheiro para
obras, que tratem de administrar seu território. Ao BC cabe
atender ao mercado, porque
ele é seu cliente. Não sei se as
palavras foram exatamente essas, o sentido, sim. Aqui se passou a aceitar a loucura como
normal.
Em 1994, com a enorme liquidez internacional e as multinacionais realinhando seus
centros de produção, o país poderia ter entrado em círculo
virtuoso de crescimento. Houve
um choque de demanda, com a
inclusão de milhões de pessoas
no mercado. A resposta das
empresas foi clara: o início de
um ciclo de investimentos que
teria mudado o patamar econômico do país, não tivesse sido abortado pelos erros do
câmbio e dos juros.
O país está no dilema Tostines. Não pode baixar os juros
porque não tem investimento
na expansão da produção. E
não tem investimento porque
não baixa os juros. E não existem coragem institucional nem
confiança técnica do BC para
ousar reduzir os juros. Assim,
entra-se em 2004 com a carga
tributária abatendo o último
setor que gerava empregos -o
de serviços-, a dívida interna
aumentando e tendo que
agüentar a retórica do presidente do BC de que Brasil, China e Índia vão mudar a história do mundo.
Eletrobrás
Com a saída de Alexandre
Silveira da diretoria financeira
da Eletrobrás, as ações caíram
11%. O que poderia ocorrer se a
empresa entrasse nas barganhas políticas, como está sendo
anunciado? Faria melhor o governo Lula em ser menos ortodoxo na política econômica e
mais ortodoxo na política de
alianças.
E-mail -
Luisnassif@uol.com.br
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