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RECEITA ORTODOXA
Volume de empréstimos de instituições públicas sobe 16,8%, enquanto no setor privado expansão é de 3,8%
Apesar de incentivo, crédito cresce só 8,7%
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
A tímida expansão do crédito
ocorrida em 2003 foi puxada pelos bancos estatais. No primeiro
ano do governo Lula, os empréstimos disponibilizados pelo sistema financeiro chegaram a R$
411,4 bilhões, um crescimento de
8,7% em relação a 2002.
A maior contribuição, porém,
foi dada pelo setor público: os financiamentos concedidos pelos
bancos estatais registraram aumento de 16,8% e totalizaram R$
168,6 bilhões em dezembro. Em
igual período, os créditos dos
bancos privados cresceram apenas 3,8% e chegaram a R$ 229,3
bilhões, segundo o Banco Central.
No ano passado, o governo lançou uma série de medidas que tinham por objetivo incentivar os
bancos a emprestar mais dinheiro. Entre elas, a concessão de empréstimos com desconto no salário e as novas normas sobre microcrédito, que obrigam os bancos a direcionar 2% dos depósitos
feitos em conta corrente para financiamentos de pequeno valor.
Os números do BC mostram
que, até agora, essa iniciativa não
surtiu efeito -pelo menos no que
se refere aos bancos privados. O
governo aposta nessas medidas
para aumentar o crédito no país e,
assim, colaborar para a retomada
do crescimento econômico.
Para o chefe do Departamento
Econômico do BC, Altamir Lopes,
o raciocínio é inverso: o crescimento da economia é que puxaria
o aumento no volume de financiamentos, e não o contrário.
"Com a retomada do nível de atividade, o que se espera é que as
instituições financeiras direcionem mais recursos para o crédito", afirma. Sobre as medidas tomadas pelo governo em 2003, Lopes diz que "isso vai ter efeito um
pouco mais à frente".
Além de a expansão dos financiamentos ter se concentrado nos
bancos públicos, o movimento
também foi mais forte nos chamados créditos direcionados, nome dado aos empréstimos que os
bancos são obrigados a conceder
e cujas taxas de juros são controladas pelo governo.
Nessa categoria, incluem-se, o
financiamento da casa própria, o
crédito rural e os feitos pelo
BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social). Os créditos direcionados
cresceram 13,7% em 2003 e chegaram a R$ 162,4 bilhões. Os que
não são regulados pelo governo
somavam, em dezembro passado,
R$ 225,2 bilhões, uma alta de 6%.
O crédito disponível no país
correspondia, em dezembro, a
25,5% do PIB, proporção um
pouco superior aos 23,8% registrados em dezembro de 2002. Em
países como o Chile, o número gira em torno de 60%.
Roberto Troster, economista-chefe da Febraban (Federação
Brasileira de Bancos), diz que há
uma série de fatores que limitam a
expansão de crédito pelos bancos
privados, entre eles a alta tributação incidente sobre empréstimos
e o elevado nível do compulsório,
que são recursos que os bancos
não podem utilizar livremente.
Outro ponto que inibe o aumento do crédito, segundo Troster, é a alta taxa de juros. Para que
haja ampliação do volume de empréstimos, o economista diz que
tem de haver redução dos juros,
da tributação e do compulsório.
No compulsório, Troster inclui
a parcela de 45% de depósitos à
vista que os bancos têm de manter no BC e o montante que deve
ser usado de acordo com regras
estabelecidas pelo governo: 25%
para o crédito rural, 8% em títulos
públicos e 2% para o microcrédito. Sobram 20% para os bancos
emprestarem livremente, diz
Troster.
O economista acrescenta que os
bancos públicos têm mais facilidade de acesso ao crédito direcionado, o que explicaria em parte a
diferença na expansão de empréstimos entre os dois setores.
Taxas de juros
As taxas de juros registraram
forte queda ao longo de 2003, embora os ganhos obtidos pelos bancos na concessão de empréstimos
continuem elevados. Em dezembro, os juros cobrados pelas instituições financeiras estavam em
45,8% ao ano. Em janeiro, a mesma taxa era de 54,2%.
Mas não houve mudança significativa no "spread", que é a diferença entre os juros que o banco
paga para captar recursos no mercado e a taxa que cobra nos empréstimos. Entre janeiro e dezembro, o "spread" passou de 31,7
pontos percentuais para 30 pontos. Isso significa que, em janeiro,
dos 54,2% de juros, 31,7 pontos
correspondiam à fatia que ficava
com os bancos.
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