São Paulo, quarta-feira, 28 de janeiro de 2004

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RECEITA ORTODOXA

Volume de empréstimos de instituições públicas sobe 16,8%, enquanto no setor privado expansão é de 3,8%

Apesar de incentivo, crédito cresce só 8,7%

DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

A tímida expansão do crédito ocorrida em 2003 foi puxada pelos bancos estatais. No primeiro ano do governo Lula, os empréstimos disponibilizados pelo sistema financeiro chegaram a R$ 411,4 bilhões, um crescimento de 8,7% em relação a 2002.
A maior contribuição, porém, foi dada pelo setor público: os financiamentos concedidos pelos bancos estatais registraram aumento de 16,8% e totalizaram R$ 168,6 bilhões em dezembro. Em igual período, os créditos dos bancos privados cresceram apenas 3,8% e chegaram a R$ 229,3 bilhões, segundo o Banco Central.
No ano passado, o governo lançou uma série de medidas que tinham por objetivo incentivar os bancos a emprestar mais dinheiro. Entre elas, a concessão de empréstimos com desconto no salário e as novas normas sobre microcrédito, que obrigam os bancos a direcionar 2% dos depósitos feitos em conta corrente para financiamentos de pequeno valor.
Os números do BC mostram que, até agora, essa iniciativa não surtiu efeito -pelo menos no que se refere aos bancos privados. O governo aposta nessas medidas para aumentar o crédito no país e, assim, colaborar para a retomada do crescimento econômico.
Para o chefe do Departamento Econômico do BC, Altamir Lopes, o raciocínio é inverso: o crescimento da economia é que puxaria o aumento no volume de financiamentos, e não o contrário. "Com a retomada do nível de atividade, o que se espera é que as instituições financeiras direcionem mais recursos para o crédito", afirma. Sobre as medidas tomadas pelo governo em 2003, Lopes diz que "isso vai ter efeito um pouco mais à frente".
Além de a expansão dos financiamentos ter se concentrado nos bancos públicos, o movimento também foi mais forte nos chamados créditos direcionados, nome dado aos empréstimos que os bancos são obrigados a conceder e cujas taxas de juros são controladas pelo governo.
Nessa categoria, incluem-se, o financiamento da casa própria, o crédito rural e os feitos pelo BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social). Os créditos direcionados cresceram 13,7% em 2003 e chegaram a R$ 162,4 bilhões. Os que não são regulados pelo governo somavam, em dezembro passado, R$ 225,2 bilhões, uma alta de 6%.
O crédito disponível no país correspondia, em dezembro, a 25,5% do PIB, proporção um pouco superior aos 23,8% registrados em dezembro de 2002. Em países como o Chile, o número gira em torno de 60%.
Roberto Troster, economista-chefe da Febraban (Federação Brasileira de Bancos), diz que há uma série de fatores que limitam a expansão de crédito pelos bancos privados, entre eles a alta tributação incidente sobre empréstimos e o elevado nível do compulsório, que são recursos que os bancos não podem utilizar livremente.
Outro ponto que inibe o aumento do crédito, segundo Troster, é a alta taxa de juros. Para que haja ampliação do volume de empréstimos, o economista diz que tem de haver redução dos juros, da tributação e do compulsório.
No compulsório, Troster inclui a parcela de 45% de depósitos à vista que os bancos têm de manter no BC e o montante que deve ser usado de acordo com regras estabelecidas pelo governo: 25% para o crédito rural, 8% em títulos públicos e 2% para o microcrédito. Sobram 20% para os bancos emprestarem livremente, diz Troster.
O economista acrescenta que os bancos públicos têm mais facilidade de acesso ao crédito direcionado, o que explicaria em parte a diferença na expansão de empréstimos entre os dois setores.

Taxas de juros
As taxas de juros registraram forte queda ao longo de 2003, embora os ganhos obtidos pelos bancos na concessão de empréstimos continuem elevados. Em dezembro, os juros cobrados pelas instituições financeiras estavam em 45,8% ao ano. Em janeiro, a mesma taxa era de 54,2%.
Mas não houve mudança significativa no "spread", que é a diferença entre os juros que o banco paga para captar recursos no mercado e a taxa que cobra nos empréstimos. Entre janeiro e dezembro, o "spread" passou de 31,7 pontos percentuais para 30 pontos. Isso significa que, em janeiro, dos 54,2% de juros, 31,7 pontos correspondiam à fatia que ficava com os bancos.


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