São Paulo, sábado, 28 de janeiro de 2006

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COMUNICAÇÃO

SBT diz que não endossa comunicado distribuído pela Band negando preferência por sistema do Japão

TV digital japonesa racha redes brasileiras

DANIEL CASTRO
COLUNISTA DA FOLHA

As redes de televisão não estão tão unidas em torno da TV digital como fizeram transparecer em carta enviada ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva no último dia 18. Pelo contrário, estão divididas.
Na carta, as redes expõem suas posições sobre o sistema a ser adotado no Brasil e apontam o padrão de modulação japonês (o BST-COFDM) como "o único que atende aos requisitos" que julgam necessários para "garantir gratuitamente à população o serviço de melhor qualidade".
O governo deve definir a configuração do Sistema Brasileiro de TV Digital (SBTVD) em fevereiro, mas pode adiar a decisão. Estão em disputa, além do japonês, os padrões americano e europeu.
Comunicado da Abra (Associação Brasileira de Radiodifusores, entidade liderada pela Band e que representa também o SBT e a Rede TV!) expôs fissuras entre as redes. Ontem, o SBT afirmou que não endossa o documento.
O comunicado, divulgado na quinta, respondia a uma carta de Liliana Nakonechnyj, diretora de telecomunicações da Globo, publicada no boletim on-line da revista especializada "Tela Viva".
Nakonechnyj rebatia declarações de Robert Graves, presidente do ATSC (o sistema norte-americano), de que só a Globo defende o sistema japonês. Afirmava ela que todas as redes o defendem, tanto que "recentemente enviaram carta ao presidente Lula solicitando a adoção do sistema de transmissão ISDB-T".
Isso permitiu interpretar que as redes querem o sistema japonês completo, o ISDB-T, e não apenas sua modulação. Um sistema de TV digital inclui também um padrão de codificação (MPEG-2, no caso do Japão) e middleware (algo como o Windows da TV digital).
A Abra entendeu a declaração como manipulação por parte da Globo. "As emissoras da Abra negam preferência pelo sistema japonês de TV digital", rebateu.
"O fato de os radiodifusores que compõem a Abra terem indicado o sistema de modulação BST-COFDM como o mais adequado não significa necessariamente adesão ao sistema japonês. A Abra não reconhece e desautoriza qualquer afirmação em contrário, ressaltando se tratar de mera especulação, fruto da má-fé de pessoas interessadas em defender interesses próprios", afirma a nota.
Ontem, a Globo afirmou que Nakonechnyj se referia ao padrão de modulação japonês, e não ao sistema nipônico como um todo.
Mas o SBT jogou mais lenha na fogueira. Guilherme Stoliar, diretor de rede, afirmou que "o sistema japonês, o ISDB-T, é o melhor que se adapta ao que queremos".
Stoliar desautorizou a nota da Abra: "A Abra só pode se manifestar se as três redes estiverem de acordo. Nesse caso, desconheço esse documento e não o endosso".
A discussão, apontam observadores, não seria só uma questão de vocabulário (a confusão entre sistema e padrão de modulação). Globo e o SBT gostariam, sim, de adotar todo o ISDB-T, avaliam.
Por trás disso também está um estremecimento nas relações entre SBT e Band, por causa da retirada do canal pago BandNews da TV Alphaville, operadora do Grupo Silvio Santos (leia mais na coluna "Outro Canal", na Ilustrada)
O racha fortalece os defensores do adiamento da definição do SBTVD. O sistema deverá ser híbrido, com modulação importada e softwares nacionais. A posição dominante é de que a TV digital apenas incremente a atual (a analógica), com alta definição, recepção em celulares e interatividade.


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