São Paulo, domingo, 28 de janeiro de 2007

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Indústria começa ano com o pé no freio

Índice novo elaborado pela Fiesp mostra que empresas do setor estão menos otimistas em janeiro do que em meses anteriores

Companhias iniciam 2007 com mais estoques do que previam devido à alta das importações; PAC pode gerar melhora em alguns setores

FÁTIMA FERNANDES
DA REPORTAGEM LOCAL

O debate do PAC (Programa de Aceleração do Crescimento) não empolgou os empresários, e há sinais de que a economia começou o ano em ritmo lento. As vendas da indústria estão mais baixas, e os estoques, mais altos do que o previsto para o mês. E não há planos para elevar o emprego no setor.
É o que constata o Depecon (Departamento de Pesquisas e Estudos Econômicos) da Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo) em levantamento feito entre os dias 15 e 20 deste mês com 25 indústrias líderes dos setores metalúrgico, siderúrgico, químico, têxtil, de alimentos e bebidas, automobilístico, eletroeletrônico, de materiais de construção, de papel e celulose e de máquinas.
Para avaliar o desempenho da indústria no mês, a Fiesp criou a pesquisa Sensor -criada em julho de 2006 e que passou a ser divulgada neste mês. Ela é o resultado de uma média de pontos estabelecidos para cinco quesitos (mercado, vendas, estoque, emprego e investimento). Resultado em 50 pontos equivale à estabilização, quando o faturamento, por exemplo, não está nem pior nem melhor do que o previsto.
A média dos cinco quesitos alcançou 47,8 pontos neste mês. Significa, na avaliação da Fiesp, que a indústria paulista registra desempenho pior do que o planejado para janeiro, apesar de as medidas do PAC já estarem sendo debatidas desde o final do ano passado.
Em dezembro de 2006, essa mesma avaliação atingiu 49 pontos e, em novembro, 50,3 pontos. Desde que começou a ser feito, esse indicador só ficou abaixo de 50 pontos em dezembro, em junho (45 pontos) e em julho (47,6 pontos).
Em janeiro, só o item investimento ficou acima do que seria considerado estável (51,3 pontos). Isso quer dizer, na avaliação de Paulo Francini, diretor do Depecon, que, apesar de a indústria ter neste mês desempenho pior do que o planejado, alguns setores têm expectativas melhores para o ano.
"O ano começou chocho. O mercado está fraco, e não há perspectiva de aumentar o emprego. Os empresários mostram cautela, mas esperam alguma melhora nos negócios ao longo do ano", afirma Francini.
O PAC, diz ele, pode ter efeito nos setores que forem beneficiados com investimentos públicos e com desonerações. O que pode puxar mesmo a indústria, avalia, é a redução dos juros e uma política ampla de redução de impostos.
As indústrias entraram em 2007 com mais estoques porque as vendas no final do ano ficaram abaixo do previsto e porque tiveram de concorrer com os importados. "As vendas de final do ano foram medíocres. A reposição de bens de consumo acontece em pequena escala", diz Boris Tabacof, diretor do Departamento de Economia do Ciesp (Centro das Indústrias do Estado de São Paulo).

Expectativas
As vendas e a produção de produtos eletroeletrônicos estão normais para esta época do ano, segundo informa Paulo Saab, presidente da Eletros, associação dos fabricantes do setor. "Há redes de lojas mais estocadas. Outras, menos. Mas o setor, por enquanto, está produzindo o que foi planejado."
O setor de embalagens, considerado termômetro da economia, informa que, em dezembro, as indústrias adiaram as compras porque a demanda estava mais fraca. "Há grande expectativa para este mês", afirma Paulo Peres, presidente da Abre, associação dos fabricantes de embalagens.
A Fiesp também constatou na consulta feita às indústrias que o nível de utilização da capacidade das fábricas é de 80%.
"Isso revela que a indústria tem espaço para produzir mais para exportação e para o mercado interno. A indústria está apertada por conta da taxa de câmbio, favorável às importações", diz André Rebelo, gerente do Depecon. Na sua avaliação, o crescimento da indústria está concentrado em alguns poucos setores, como os ligados à extração mineral, à transmissão de energia, à informática e à produção de açúcar e álcool.
O fato de as vendas em dezembro do ano passado terem ficado abaixo da expectativa leva economistas a prever que o primeiro trimestre deste ano pode ser também mais fraco do que o antecipado.
"Este trimestre não deve ser tão bom. Não deve haver corrida do comércio para a reposição de mercadorias", afirma Carlos Thadeu de Freitas Gomes Filho, economista do Grupo de Conjuntura da UFRJ.
Para Ana Carla Abrão Costa, coordenadora da área macroeconômica da Tendências, 2007 será um ano parecido com o anterior. "A inflação nas duas primeiras semanas de janeiro está um pouco acima da expectativa, mas as perspectivas são boas daqui para a frente", diz. Na opinião dela, o PAC deve ter efeito a médio prazo e somente em alguns setores.


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