São Paulo, Quinta-feira, 28 de Janeiro de 1999 |
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MERCADO FINANCEIRO Bradesco surpreende ao trocar comando
VANESSA ADACHI da Reportagem Local O mais poderoso banqueiro do país, Lázaro de Mello Brandão, anunciou ontem que está deixando a presidência do Bradesco, maior banco privado brasileiro, encerrando um período de 18 anos à frente da instituição. Para assumir seu lugar, Brandão nomeou Márcio Cypriano, que até então era um dos seis vice-presidentes executivos do banco e presidia o BCN (Banco de Crédito Nacional), desde que ele foi adquirido pelo Bradesco no final de 97. A mudança é válida desde ontem, mas será referendada em assembléia em março. A notícia foi uma surpresa geral, embora havia muito se esperasse pela sucessão de Brandão, que está com 72 anos. O tema, entretanto, nunca foi discutido abertamente dentro do banco e era envolto por grande mistério. Toda a diretoria executiva, até o próprio sucessor, só soube da indicação na manhã de ontem, na reunião do conselho. A notícia foi levada a público poucas horas depois, de maneira inesperada, no meio de uma entrevista a jornalistas que havia sido convocada, a princípio, para divulgar o resultado do Bradesco em 98. "A partir de hoje serei presidente do conselho e entrego a presidência executiva ao Márcio Cypriano", afirmou ele. Quem sabia Segundo Brandão, a única pessoa que compartilhava com ele a decisão de se afastar era sua esposa, Albertina Tassinari Brandão. A própria carta de afastamento foi escrita por ele mesmo, para que não passasse pelas secretárias do banco. O único sinal dado nas vésperas foi a transferência da reunião do conselho, que ocorre tradicionalmente todas as segundas-feiras às 7h, para ontem. Segundo um dos executivos, isso causou estranheza. Mas Brandão disse que a mudança se devia à publicação do balanço. A justificativa foi aceita. Márcio Cypriano é o terceiro presidente na história do Bradesco. O banco completa 56 anos no dia 10 de março. O primeiro presidente foi seu fundador, o legendário Amador Aguiar. Brandão foi seu sucessor e transformou-se em uma das maiores referências da economia do país das últimas décadas. A responsabilidade de Cypriano não é pequena. "A emoção ainda não passou. Eu não sabia, fiquei sabendo hoje", disse ele, sentado ao lado de Brandão, ao comentar sua indicação. "Recebi um legado que é o "Bradesco sempre à frente" (atual slogan do banco) e a missão é de manter a liderança." Escolha pessoal A escolha pelo nome de Cypriano foi pessoal, segundo Brandão. Pelo regulamento interno do banco, a opção teria de ser feita entre os 20 outros membros da diretoria executiva (seis vice-presidentes, cinco diretores-gerentes e nove diretores-adjuntos). O esperado é que o escolhido saísse do grupo de seis vice-presidentes. Brandão disse, no entanto, não ter tido dúvida. "De vários meses para cá o nome do Márcio Cypriano ficou claro para mim. Além de capacidade de desempenho, ele tem equilíbrio para decidir com segurança e serenidade." É bem provável que as conclusões tenham sido tiradas a partir da observação do trabalho de Cypriano à frente do BCN no último um ano. Brandão nega que tenha sido um ensaio intencional, mas confirma que o desempenho no BCN ajudou. "Ele se saiu bem", disse. O fato é que Cypriano está deixando o BCN com um lucro de R$ 156 milhões em 98, após ter tido um prejuízo de US$ 98,2 milhões em 97, segundo dado da consultoria Austin Asis. Certamente, o nome de Cypriano não era o mais óbvio. Nas constantes especulações sobre quem seria o sucessor de Lázaro Brandão, outros nomes apareciam como sucessores naturais. Antonio Bornia, vice-presidente, era o nome mais lembrado, com mais evidência na mídia. Dorival Bianchi, para alguns, parecia ser o preferido de Brandão durante um tempo. Ageo Silva completava a lista de "presidenciáveis". Todos eles estavam há mais tempo na diretoria executiva do banco. Embora esteja no Bradesco há 25 anos -desde que o banco adquiriu o Banco da Bahia, para o qual trabalhava-, Cypriano, que tem 55 anos, foi alçado à executiva há apenas três. A opção pode ser interpretada como uma tentativa de renovação, embora Brandão afirme que "a idéia é que não mude muita coisa". Texto Anterior: Missão do FMI vai ao Banco Central Próximo Texto: Banco já prepara revolução interna Índice |
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