São Paulo, quarta-feira, 28 de fevereiro de 2007

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TURBULÊNCIA GLOBAL / REAÇÃO

Volatilidade é um aviso, afirma Meirelles

Tremor nos mercados ajuda presidente do BC a justificar "parminônia" da política monetária em audiência no Senado

Convocado a apresentar esclarecimentos sobre juros, dirigente do BC tem críticas aliviadas, com o apoio de senadores da oposição


GUSTAVO PATU
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

A uma semana de uma nova decisão sobre a taxa de juros no Brasil, a turbulência financeira internacional deu inesperado alento ao discurso conservador do Banco Central, alvo de crescentes ataques do PT e de setores do governo.
"Talvez o que esteja acontecendo nas últimas horas nos mercados mundiais seja um aviso, de fato, para que tenhamos prudência ou, nas palavras do Banco Central, parcimônia", disse o presidente da instituição, Henrique Meirelles.
Presente em documentos do BC desde abril do ano passado, a palavra "parcimônia" passou a ser associada à possibilidade de redução no ritmo da queda dos juros -o que aconteceu em maio de 2006 e no mês passado, desencadeando uma onda de críticas à política monetária.
Foi justamente o corte de apenas 0,25 ponto percentual dos juros em janeiro que levou Meirelles a prestar explicações ontem à Comissão de Assuntos Econômicos do Senado, cujo presidente, Aloizio Mercadante (PT-SP), é um dos mais notórios opositores da estratégia do Banco Central.
Mas o que poderia ser um momento de constrangimento político acabou se tornando uma trégua pública para o presidente do BC, graças ao temor provocado pela queda de Bolsas de Valores em todo o mundo e ao apoio recebido dos dois maiores partidos de oposição -que deve parecer inusitado para quem não acompanha as sutilezas da política nacional.
Primeiro a inquirir Meirelles, Mercadante listou argumentos para sustentar que "o BC tem sido excessivamente conservador": a inflação está abaixo das metas oficiais, não há sinais de crescimento exagerado do consumo e a conjuntura internacional é "extremamente favorável". Logo, a taxa básica, hoje de 13% ao ano, poderia voltar a ser cortada em 0,5 ponto percentual.
Já o líder do PSDB, Arthur Virgílio (AM), segundo senador a falar, não só defendeu com veemência o BC como introduziu no debate a turbulência externa, com números sobre os efeitos no mercado brasileiro. "Eu creio que não é hora para brincarmos."
Mesmo com o cuidado de evitar alarmismo, Meirelles aproveitou o tema em sua defesa. "Não sabemos se é um fenômeno prolongado, se o dia vai terminar assim, como será amanhã. Mas acho que é, de fato, um aviso de que nós não podemos basear política econômica em dados de euforia momentânea. Temos de fazer uma política sustentável a médio prazo."

Parcimoniosos
A partir daí, os aliados foram parcimoniosos em suas críticas à política econômica, enquanto tucanos e pefelistas se alongavam na defesa do BC e da ortodoxia econômica -permitindo a Meirelles repetir que a continuidade da queda dos juros depende, fundamentalmente, do cumprimento das metas de inflação e da redução da dívida pública.
Embora tenha atacado a política monetária na campanha eleitoral, a oposição procura dar combustível às disputas internas do governo Luiz Inácio Lula da Silva -especialmente quando Meirelles, ex-presidente do BankBoston e eleito deputado pelo PSDB goiano em 2002, está envolvido.
"Nunca senti o Banco Central tão elogiado", disse Meirelles aos jornalistas, após cerca de três horas de sessão. Ele não quis, obviamente, responder se suas declarações significam mais cautela na política monetária daqui para a frente. "O BC tem sempre cautela."


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