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TURBULÊNCIA GLOBAL / REAÇÃO
Volatilidade é um aviso, afirma Meirelles
Tremor nos mercados ajuda presidente do BC a justificar "parminônia" da política monetária em audiência no Senado
Convocado a apresentar
esclarecimentos sobre juros,
dirigente do BC tem críticas
aliviadas, com o apoio de
senadores da oposição
GUSTAVO PATU
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
A uma semana de uma nova
decisão sobre a taxa de juros no
Brasil, a turbulência financeira
internacional deu inesperado
alento ao discurso conservador
do Banco Central, alvo de crescentes ataques do PT e de setores do governo.
"Talvez o que esteja acontecendo nas últimas horas nos
mercados mundiais seja um
aviso, de fato, para que tenhamos prudência ou, nas palavras
do Banco Central, parcimônia",
disse o presidente da instituição, Henrique Meirelles.
Presente em documentos do
BC desde abril do ano passado,
a palavra "parcimônia" passou
a ser associada à possibilidade
de redução no ritmo da queda
dos juros -o que aconteceu em
maio de 2006 e no mês passado, desencadeando uma onda
de críticas à política monetária.
Foi justamente o corte de
apenas 0,25 ponto percentual
dos juros em janeiro que levou
Meirelles a prestar explicações
ontem à Comissão de Assuntos
Econômicos do Senado, cujo
presidente, Aloizio Mercadante (PT-SP), é um dos mais notórios opositores da estratégia do
Banco Central.
Mas o que poderia ser um
momento de constrangimento
político acabou se tornando
uma trégua pública para o presidente do BC, graças ao temor
provocado pela queda de Bolsas de Valores em todo o mundo e ao apoio recebido dos dois
maiores partidos de oposição
-que deve parecer inusitado
para quem não acompanha as
sutilezas da política nacional.
Primeiro a inquirir Meirelles, Mercadante listou argumentos para sustentar que "o
BC tem sido excessivamente
conservador": a inflação está
abaixo das metas oficiais, não
há sinais de crescimento exagerado do consumo e a conjuntura internacional é "extremamente favorável". Logo, a taxa
básica, hoje de 13% ao ano, poderia voltar a ser cortada em
0,5 ponto percentual.
Já o líder do PSDB, Arthur
Virgílio (AM), segundo senador
a falar, não só defendeu com
veemência o BC como introduziu no debate a turbulência externa, com números sobre os
efeitos no mercado brasileiro.
"Eu creio que não é hora para
brincarmos."
Mesmo com o cuidado de
evitar alarmismo, Meirelles
aproveitou o tema em sua defesa. "Não sabemos se é um fenômeno prolongado, se o dia vai
terminar assim, como será
amanhã. Mas acho que é, de fato, um aviso de que nós não podemos basear política econômica em dados de euforia momentânea. Temos de fazer uma
política sustentável a médio
prazo."
Parcimoniosos
A partir daí, os aliados foram
parcimoniosos em suas críticas
à política econômica, enquanto
tucanos e pefelistas se alongavam na defesa do BC e da ortodoxia econômica -permitindo
a Meirelles repetir que a continuidade da queda dos juros depende, fundamentalmente, do
cumprimento das metas de inflação e da redução da dívida
pública.
Embora tenha atacado a política monetária na campanha
eleitoral, a oposição procura
dar combustível às disputas internas do governo Luiz Inácio
Lula da Silva -especialmente
quando Meirelles, ex-presidente do BankBoston e eleito deputado pelo PSDB goiano em
2002, está envolvido.
"Nunca senti o Banco Central tão elogiado", disse Meirelles aos jornalistas, após cerca
de três horas de sessão. Ele não
quis, obviamente, responder se
suas declarações significam
mais cautela na política monetária daqui para a frente. "O BC
tem sempre cautela."
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