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TURBULÊNCIA GLOBAL / ANÁLISE
Queda na China é "correção" de mercado
Com alta de mais de 100% em 2006 em relação a 2005, ações na Bolsa chinesa estavam em um nível claramente insustentável
Recuo no pregão não teve um claro motivo doméstico; assim, não se pode dizer que ela tenha causado a baixa dos demais mercados
JOHN AUTHERS
DO "FINANCIAL TIMES"
Os operadores dos mercados
financeiros têm um novo aforismo: "Quando os mercados
caem, a única coisa que sobe é a
correlação".
Trata-se de uma generalização exagerada, claro, mas o drama que testemunhamos ontem
nos mercados globais demonstra que ela contém mais do que
uma gota de verdade.
Os mercados chineses passaram por suas maiores quedas
em dez anos, acompanhadas
por baixas semelhantes nos
mercados europeus desenvolvidos. Os índices das Bolsas vinham acumulando alta durante o ano, ou seja, o que aconteceu até agora nada mais é do
que uma correção, mas nos Estados Unidos o índice industrial médio Dow Jones caiu ao
vermelho em termos de resultado anual acumulado.
Quando tantas coisas acontecem a um só tempo, é difícil não
acreditar que exista uma causa
comum a todas elas. Mas é preciso prestar atenção à cronologia. A segunda-feira foi um dia,
em larga medida, inócuo para
as ações. O dia de ontem começou com uma queda histórica
na China, seguida por perdas
nos demais fusos horários à
medida que os mercados iniciavam suas operações. Mas isso
não quer dizer que a queda na
China, para a qual não havia
causa doméstica evidente, tenha causado as quedas nos demais mercados.
A China representa uma
aposta alavancada nos hábitos
dos consumidores norte-americanos. Se o consumo se mantiver robusto nos Estados Unidos, a China obtém ganhos desproporcionais. Em dado momento, os operadores estabelecerão um vínculo entre os desdobramentos assustadores no
setor de empréstimos "subprime" dos Estados Unidos e as
ações chinesas. Se existir menos dinheiro disponível para os
consumidores norte-americanos, o que parece ser o caso,
eles gastarão menos. Isso representa uma má notícia para a
China. Assim, seria plausível
ver o tumulto no mercado do
país como reação às preocupações quanto ao crescimento
norte-americano.
Além disso, a queda na China
surgiu depois de uma alta de
mais de 100% em relação ao
ano anterior, que conduziu as
ações do país a um nível claramente insustentável.
Com a interconexão cada vez
maior dos mercados mundiais
graças ao crescimento de diversos instrumentos financeiros, é
mais fácil agir quanto a um aumento na aversão a riscos.
Os operadores, alarmados
com os desdobramentos no
mercado de empréstimos "subprime" dos Estados Unidos, poderiam responder vendendo
papéis chineses.
Essa correção poderia se tornar algo pior, e os mercados
emergentes sofreriam mais que
os outros. Determinar se isso
vai acontecer, no entanto, depende primordialmente do
mundo desenvolvido, e em especial dos Estados Unidos e do
seu mercado de crédito.
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