São Paulo, quarta-feira, 28 de fevereiro de 2007

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TURBULÊNCIA GLOBAL / ANÁLISE

Queda na China é "correção" de mercado

Com alta de mais de 100% em 2006 em relação a 2005, ações na Bolsa chinesa estavam em um nível claramente insustentável

Recuo no pregão não teve um claro motivo doméstico; assim, não se pode dizer que ela tenha causado a baixa dos demais mercados


JOHN AUTHERS
DO "FINANCIAL TIMES"

Os operadores dos mercados financeiros têm um novo aforismo: "Quando os mercados caem, a única coisa que sobe é a correlação".
Trata-se de uma generalização exagerada, claro, mas o drama que testemunhamos ontem nos mercados globais demonstra que ela contém mais do que uma gota de verdade.
Os mercados chineses passaram por suas maiores quedas em dez anos, acompanhadas por baixas semelhantes nos mercados europeus desenvolvidos. Os índices das Bolsas vinham acumulando alta durante o ano, ou seja, o que aconteceu até agora nada mais é do que uma correção, mas nos Estados Unidos o índice industrial médio Dow Jones caiu ao vermelho em termos de resultado anual acumulado.
Quando tantas coisas acontecem a um só tempo, é difícil não acreditar que exista uma causa comum a todas elas. Mas é preciso prestar atenção à cronologia. A segunda-feira foi um dia, em larga medida, inócuo para as ações. O dia de ontem começou com uma queda histórica na China, seguida por perdas nos demais fusos horários à medida que os mercados iniciavam suas operações. Mas isso não quer dizer que a queda na China, para a qual não havia causa doméstica evidente, tenha causado as quedas nos demais mercados.
A China representa uma aposta alavancada nos hábitos dos consumidores norte-americanos. Se o consumo se mantiver robusto nos Estados Unidos, a China obtém ganhos desproporcionais. Em dado momento, os operadores estabelecerão um vínculo entre os desdobramentos assustadores no setor de empréstimos "subprime" dos Estados Unidos e as ações chinesas. Se existir menos dinheiro disponível para os consumidores norte-americanos, o que parece ser o caso, eles gastarão menos. Isso representa uma má notícia para a China. Assim, seria plausível ver o tumulto no mercado do país como reação às preocupações quanto ao crescimento norte-americano.
Além disso, a queda na China surgiu depois de uma alta de mais de 100% em relação ao ano anterior, que conduziu as ações do país a um nível claramente insustentável.
Com a interconexão cada vez maior dos mercados mundiais graças ao crescimento de diversos instrumentos financeiros, é mais fácil agir quanto a um aumento na aversão a riscos.
Os operadores, alarmados com os desdobramentos no mercado de empréstimos "subprime" dos Estados Unidos, poderiam responder vendendo papéis chineses.
Essa correção poderia se tornar algo pior, e os mercados emergentes sofreriam mais que os outros. Determinar se isso vai acontecer, no entanto, depende primordialmente do mundo desenvolvido, e em especial dos Estados Unidos e do seu mercado de crédito.


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